sábado, 6 de outubro de 2012

Desmitificando & Desmistificando Clarice Lispector

 
 
Uma das coisas que mais me ofendem enquanto fã de Clarice Lispector (1920-1977) é quando as pessoas atribuem a ela frases que não são de sua autoria pelo simples fato de que estas frases são "bonitinhas", "meigas", "fofas", "românticas" ou qualquer outro sobstantivo do qual possam ser chamadas.
 
Mas o fato é que, de uns dois anos para cá, começou acontecer um fenômeno chamado "clarice-lispectorização das coisas"; este fenômeno consiste em atribuir qualquer frase melosa à Clarice. A conscequência disso, é que todos aqueles que nunca leram nada dela, acaba, acreditando que ela só escrevia sobre amor, amor, amor e amor: sem nada que interligasse o amor à vida. E não é bem assim...
 
Ela escreveu sobre o amor? Sim; mas também escreveu sobre xingar as pessoas de víbora (Perto do Coração Selvagem), comer baratas (A Paixão Segundo GH), assassinato (A Maçã no Escuro), sexo - isso mesmo, SEXO - (Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres), sobre xingar as pessoas de filho da puta (Um Sopro de Vida), pessoas que traem outras e trocam suas namoradas pela melhor amiga  (A Hora da Estrela), velhas que transam (Mas Vai Chover), lésbicas que matam o marido (O Corpo), velhas que se masturbam (Ruído de Passos), roubar pitangas (Cem Anos de Perdão), incesto entre irmãos - há boatos - (O Lustre), mulheres que tem muitos namorados (A Cidade Sitiada), gays e travestis (A Via Crucis do Corpo), mulheres que tiveram de se fingir de prostitutas para não serem estrupadas (A Língua do P), e muitas outras coisas...
 
Então, antes de pensar que ela só escrevia sobre um assunto, LEIA ALGUM LIVRO DELA, e veja que ela escrevia sobre os conflitos humanos, e que estes conflitos não são somente sobre amar ou não.

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