domingo, 30 de setembro de 2012

Carta ao Leitor

O blog começa assim: minha vizinha está festejando pela décima vez o fato de que ela, e todos os amigos, não têm o que festejar mais nessa vida. A primavera chegou com chuva e vento, o inverno foi embora com os dias quentes e abafados cheirando a sangue pingando do nariz na camisa branca da escola. Tudo está ligeiramente acabando este ano: o terceiro bimestre acabou, o terceiro ano acabou, a mordomia acabou, o sono acabou, o café acabou, os dias quentes acabaram, o protetor solar acabou, a novela das sete acabou (ainda bem). Mas e o mundo, será que acaba? Deveria. Tudo deveria explodir e acabar; o sol poderia inchar de uma hora para outra e engolir tudo por aqui, os zumbis poderiam voltar do inferno e matar todos, os ETs poderiam invadir e colonizar a terra, deus poderia se cansar de tudo e apagar a luz...
Ou não, pois a vizinha festeja com tanta intensidade que meus cachorros latem e se jogam contra o portão. Agora estão cantando a música da novela que acabou, agora estão todos tão bêbados que deveriam morrer. Ou não.
E eu sempre acabo me esquecendo das coisas que eu falei: e por que não escrever?, me perguntaram esses dias. Mas por que escrever?, pensei mas eu cedi: pois ceder é a única coisa que se faz nessa vida.
Aliás, às vezes penso que só a minha vida é ruim apesar de não ter nada de ruim nela, propriamente. É mais uma coisa em como eu me relaciono comigo mesmo, é como eu me vejo no mundo e penso: tem alguma coisa muito errada acontecendo. Eu não estou dizendo que os meus problemas são os maiores de toda a humanidade mas os seus também não devem ser, então não é bom julgar. Onde estava? Sim: às vezes penso que só a minha vida é ruim, as pessoas sorriem tanto e têm tanto a dizer sobre a vida ser bela e colorida mas acredito que eu é quem sou um pouco daltônico e só enxergo o cinza.
Mas, enfim, decidi criar o blog para poder fazer uma terapia comigo mesmo: pois todos nós, inclusive os sãos, precisamos de terapia. E isso sou eu: Insônia, Depressão & Café...
Bem vindo(s) a mim.
N.N.