quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Receita


SORVETE CASEIRO:

Aproveitando esta onda de calor, escrevo hoje a receita mais fácil de sorvete de todas as que eu conheço. Então, pegue lápis (ou caneta), papel e um ventilador (ou simplesmente abra a janela e cozinhe pelado (a) -- mentira, não faça isso... ou faça, enfim):

Ingredientes:

01 lata de leite condensado;

01 colhe (de sopa) de extrato de baunilha;

475 ml de creme de leite;

Meia xícara de leite gelado.

DICA: para não ficar muito doce, coloque uma pitada de sal.

Modo de Preparo:

Misture o leite condensado, o leite e a baunilha, levando à geladeira em seguida;
Com uma batedeira, bata o creme de leite e depois misture com a mistura de leite condensado, leite e baunilha. Leve ao freezer por duas horas, misturando com uma colher e depois congele por mais duas horas.


DICA: Quando for servir, você pode decorar com algumas guloseimas, caldas, nozes (ou não, vai de você ;)).

BOM APETITE!!!


terça-feira, 30 de outubro de 2012

1 Mês, Agradecimento & Trecho de CAIM

 
 
 
Hoje o blog faz um mês! Então, obrigado por lerem as babozeiras que eu escrevo por aqui :)
Aproveito para agradecer aos meus leitores (ou leitoras) dos EUA, Alemanha e Rússia: espero poder um dia postar algo especialmente para vocês.
E neste 01 mês tive mais de 500 views!!!!!!!! OBRIGADO A TODOS, DE VERDADE, CONTINUEM ACOMPANHANDO E SINTAM-SE A VONTADE PARA ESCREVER CRÍTICAS OU ELOGIOS E SUGESTÕES !
Isso mesmo, 500 e poucos views: 500 e poucas coxinhas, 500 e poucos reais em barras de chocolate que valem mais do que dinheiro! 500 e poucos cachorros! Obrigado por isso, é gratificante para mim!
 
XXX
 
Quanto à CAIM: acho que o próximo capítulo de "CAIM", que vai ao ar na sexta, deverá ter censura de idade, eis um pequeno trecho:
"Eva estava nua da cintura para cima(..) o querubim deu um passo à frente, ergueu a mão esquerda e tocou no seio da mulher. (...) Eva sorriu, pôs a mão sobre a mão do querubim e premiu-a suavemente contra o seio."
enfim, acho que realmente deve haver alguma censura quanto a isto, não sei bem ainda...
 
XXX
 
Não se esqueçam de que amanhã vai ter receita no blog, aguardem, e mais uma vez OBRIGADO
 
 
P.S.: quanto ao número de views, até o momento em que estava escrevendo, estavam em 547 views!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CAIM (Capítulo I°)


 
 
Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chirileios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em que tudo poderia ter solucionado com um rápido fiat, correu para o casal e, um após o outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco ao acaso os acontecimentos destas remotas épocas, quer que possível certificação canônica futura ou fruto de imaginações apócrifas e irremediavelmente heréticas, não se aclara a dúvida sobre que língua terá sido aquela, se o músculo flexível e úmido que se mexe e remexe na cavidade bucal e às vezes fora dela, ou a fala, também chamada idioma, de que o senhor lamentavelmente se havia esquecido e que ignoramos qual fosse, uma vez que dela não ficou o menor vestígio, nem ao menos um coração gravado em casca de árvore com uma legenda sentimental, qualquer coisa do gênero amo-te, eva. Como uma coisa, em princípio, não deveria ir sem outra, é provável quem outro objecto do violento empurrão doado pelo senhor às mudas línguas dos seus rebentos fosse pô-las em contacto com os mais profundos interiores do ser corporal, as chamadas incomodidades do ser, para que, no porvir, já com algum conhecimento de causa, pudessem falar da sua escura e labiríntica confusão a cuja janela, a boca, já começavam elas a assomar. Tudo pode ser. Evidentemente, por um escrúpulo de bom artífice que só lhe ficava bem, além de compensar com a devida humildade a anterior negligência, o senhor quis comprovar que o seu erro havia sido corrigido, e assim perguntou a adão, Tu, como te chamas, e o homem respondeu, Sou adão, teu primogênito, senhor. Depois, o criador virou-se para a mulher, E tu, como te chamas tu, Sou eva, senhor, a primeira dama, respondeu ela desnecessariamente, uma vez que não havia outra. Deu-se o senhor por satisfeito, despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, Vamos para a cama.

Set, o filho terceiro da família, só virá ao mundo cento e cinquenta anos depois, não porque a gravidez materna precisasse de tanto tempo para rematar a fabricação de um novo descendente, mas porque as gônadas do pai e da mãe, os testículos e o útero respectivamente, haviam tardado mais de um século a amadurecer e a desenvolver suficiente potência generativa. Há que dizer aos apressados que o fiat foi uma vez e nunca mais, não se encontram nas farmácias nem nos supermercados, há que dar tempo ao tempo. Antes de set tinham vindo ao mundo, com escassa diferença de tempo entre eles, primeiro caim e depois abel. O que não pode ser deixado sem imediata referência é o profundo aborrecimento que foram tantos anos sem vizinhos, sem distrações, sem uma criança gatinhando entre a cozinha e o salão, sem outras visitas que as do senhor, e mesmo essas pouquíssimas e breves, espaçadas por longos períodos de ausência, dez, quinze, vinte, cinquenta anos, imaginamos que pouco haverá faltado para que os solitários ocupantes do paraíso terrestre se vissem a si mesmos como uns pobres órfãos abandonados na floresta do universo, ainda que não tivessem sido capazes de explicar o que fosse isso de órfãos e abandonos. É verdade que dia sim, dia não, e este não com altíssima frequência também sim, adão dizia a eva, Vamos para a cama, mas a rotina conjugal, agravada, no caso destes dois, pela nula variedade nas posturas por falta de experiência, já então se demonstrou tão destrutiva como uma invasão de carunchos a roer a trave da casa. Por fora, salvo alguns pozinhos que vão escorrendo aqui e ali de minúsculos orifícios, o atentado mal se percebe, mas lá por dentro a procissão é outra, não tardará muito que venha por ai abaixo o que tão firme havia parecido. Em situações como esta, há quem defenda que o nascimento de um filho pode ter efeitos reanimadores, senão da libido, que é obra de químicas muito mais complexas que aprender a mudar uma fralda, ao menos dos sentimentos, o que, reconheça-se, já não é pequeno ganho. Quanto ao senhor e às suas esporádicas visitas, a primeira foi para ver se adão e eva haviam tido problemas com a instalação doméstica, a segunda para saber se tinham beneficiado alguma coisa da experiência da vida campestre e a terceira para avisar que tão cedo não esperava voltar, pois tinha que fazer a ronda pelos outros paraísos existentes no espaço celeste. De facto, só viria a aparecer muito mais tarde, em data de que não ficou registro, para expulsar o infeliz casal do jardim do éden pelo crime nefando de terem comido do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Este episódio, que deu origem à primeira definição de um até ai ignorado pecado original, nunca foi bem explicado. Em primeiro lugar, mesmo a inteligência mais rudimentar não teria qualquer dificuldade em compreender que estar informado sempre será preferível a desconhecer, mormente em matérias tão delicadas como são estas do bem e do mal, nas quais qualquer um se arrisca, sem dar por isso, a uma condenação eterna num inferno que então ainda estava por inventar. Em segundo lugar, brada aos céus a imprevidência do senhor, que se realmente não queria que lhe comessem do tal fruto, remédio fácil teria, bastaria não ter plantado a árvore, ou ir pô-la noutro sítio, ou rodeá-la por uma cerca de arame farpado. E, em terceiro lugar, não foi por terem desconhecido à ordem de deus que adão e eva descobriram que estavam nus. Nuzinhos, em pelota estreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim das contas, são tão bons ou tão maus como os demais.

Ponto de ordem à mesa. Antes de prosseguirmos com esta instrutiva e definitiva história de caim a que, como nunca visto atrevimento, metemos ombros, talvez seja aconselhável, para que o leitor não se veja confundido por segunda vez com anacrônicos pesos e medidas, introduzir algum critério na cronologia dos acontecimentos. Assim faremos, pois, começando por esclarecer alguma maliciosa duvida por ai levantada sobre se adão ainda seria competente para fazer um filho aos cento e trinta anos de idade. À primeira vista, não, se nos ativermos apenas aos índices de fertilidade dos tempos modernos, mas esses cento e trinta anos, naquela infância do mundo, pouco mais teriam representado que uma simples e vigorosa adolescência que até o mais precoce dos casanovas desejaria para si. Além disso, convém lembrar que adão viveu até os novecentos e trinta anos, pouco lhe faltando, portanto, para morrer afogado no dilúvio universal, pois se finou em dias da vida de lamec, o pai de noé, futuro construtor da arca. Logo, teve tempo e vagar para fazer os filhos que fez e muito mais se estivesse para aí virado. Como já dissemos, o segundo, o que viria depois de caim, foi abel, um moço aloirado, de boa figura, que, depois de ter sido objecto das melhores provas de estima do senhor, acabou da pior forma. Ao terceiro, como também ficou dito, chamaram-lhe set, mas esse não entrará na narrativa que vamos compondo passo a passo com melindres de historiador, por isso aqui o deixamos, só um nome e nada mais. Há quem afirme que foi na cabeça dele que nasceu a ideia de criar uma religião, mas desses delicados assuntos já nos ocupamos avonde no passado, com recriminável ligeireza na opinião de alguns peritos, e em termos que muito provavelmente só virão a prejudicar-nos nas alegações do juízo final quando, quer por excesso quer por defeito, todas as almas forem condenadas. Agora somente nos interessa a família de que o papá adão é cabeça, e que má cabeça foi ela, pois não vemos como chamar-lhe doutra maneira, já que bastou trazer-lhe a mulher o proibido fruto do conhecimento do bem e do mal para que o inconsequente primeiro dos patriarcas, depois de se fazer de rogado, em verdade mais por comprazer consigo mesmo que por real convicção, se tivesse engasgado com ele, deixando-nos a nós, homens, para sempre marcados por esse irritante pedaço de maçã que não sobe nem desce. Também não falta quem diga que se adão não chegou a engolir de todo o fruto fatal foi porque o senhor lhes apareceu de repente a querer saber o que se tinha passado ali. Já agora, e antes que se nos esqueça de vez ou o prosseguimento do relato venha a tornar inadequada, por tardia, a referência, revelemos a visita sigilosa, meio clandestina, que o senhor fez ao jardim do éden numa cálida noite de verão. Como de costume, adão e eva dormiam nus, um ao lado do outro, sem tocar-se, imagem edificante mas enganadora da mais perfeita das inocências. Não despertaram eles e o senhor não os despertou. O que ali o tinha levado fora o propósito de emendar uma imperfeição de fabrico que, finalmente o percebera, desfeava seriamente as suas criaturas, e que era, imagine-se, a falta de um umbigo. A superfície esbranquiçada da pele dos bebês, que o suave sol do paraíso não conseguia tostar, mostrava-se demasiado oferecida, de certo modo obscena, se a palavra já existisse então. Sem detença, não fossem eles acordar, deus estendeu o braço e, levemente, premiu com a ponta do dedo indicador o ventre de adão, logo fez o rápido movimento de rotação e o umbigo apareceu. A mesma operação, praticada a seguir em eva, deu resultados similares, ainda que com a importante diferença de o umbigo dela ter saído bastante melhorado no que toca a desenho, contornos e delicadeza de pregas. Foi essa a última vez que o senhor olhou uma obra sai e achou que estava bem.

Cinquenta anos e um dia depois desta afortunada intervenção cirúrgica com a qual se iniciara uma nova era na estética do corpo humano sob o lema consensual de que tudo nele é melhorável, deu-se a catástrofe. Anunciado por um estrondo de trovão, o senhor fez-se presente. Vinha trajado de maneira diferente da habitual, segundo aquilo que seria, talvez, a nova moda imperial do céu, com uma coroa tripla na cabeça e empunhando o ceptro como um cacete. Eu sou o senhor, gritou, eu sou aquele que é. O jardim do éden caiu em silêncio mortal, não se ouvia nem o zumbido de uma vespa, nem o ladrar de um cão, nem um pio de ave, nem um bramido de elefante. Apenas uma bandada de estorninhos que se havia acomodado numa oliveira frondosa que vinha dos tempos da fundação do jardim levantou voo num só impulso, e eram centenas, para não dizer milhares, que quase obscureceram o céu. Quem desobedeceu às minhas ordens, quem foi pelo fruto da minha árvore, perguntou deus dirigindo directamente a adão um olhar coruscante, palavra desusada mas expressiva como as que mais o forem. Desesperado, o pobre homem tentou, sem resultado, tragar o bocado de maçã que o delatava, mas a voz não lhe saiu, nem para trás nem para diante. Responde, tornou a voz colérica do senhor, ao mesmo tempo que brandia ameaçadoramente o ceptro. Fazendo das tripas coração, consciente do feio que era pôr as culpas em outrem, adão disse, A mulher que tu me deste para viver comigo é que me deu do fruto dessa árvore e eu comi. Revolveu-se o senhor contra a mulher e perguntou, Que fizeste tu, desgraçada, e ela respondeu, A serpente enganou-me e eu comi, Falsa, mentirosa, não há serpentes no paraíso, Senhor, eu não disse que haja serpentes no paraíso, mas digo sim que tive um sonho em que me apareceu uma serpente, e ela disse-me, Com que então o senhor proibiu-vos de comerem do fruto de todas as árvores do jardim, e eu respondi que não era verdade, que só não podíamos comer do fruto da árvore que está no meio do paraíso e que morreríamos se tocássemos nele, As serpentes não falam, quando muito silvam, disse o senhor, A do meu sonho falou, E que mais disse ela, pode-se saber, perguntou o senhor, esforçando-se por imprimir às palavras um tom escarninho nada de acordo com a dignidade celestial da indumentária, A serpente disse que não teríamos que morrer, Ah, sim, a ironia do senhor era cada vez mais evidente, pelos vistos, essa serpente julga saber mais do que eu, Foi o que eu sonhei, senhor, que não querias que comêssemos do fruto porque abriríamos os olhos e ficaríamos a conhecer o mal e o bem como tu os conheces, senhor, E que fizeste, mulher perdida, mulher leviana, quando despertaste de tão bonito sonho, Fui à árvore, comi do fruto e levei-o a adão, que comeu também, Ficou-me aqui, disse adão, tocando na garganta, Muito bem, disse o senhor, já que assim o quiseram, assim o vão ter, a partir de agora acabou-se-lhes a boa vida, tu, eva, não só sofrerás todos os incômodos da gravidez, incluindo os enjoos, como parirás com dores, e não obstante sentirás atracção pelo teu homem, e ele mandará em ti, Pobre eva, começas mal, triste destino vai ser o teu, disse eva, Devias tê-lo pensado antes, e quanto à tua pessoa, adão, a terra ficou amaldiçoada por tua causa, e será com grande sacrifício que dela conseguirás tirar alimento durante toda a tua vida, só produzirá espinhos e cardos, e tu terás de comer a erva que cresce no campo, só à custa de muitas bagas de suor conseguirás arranjar o necessário para comer, até que um dia te venhas a transformar de novo em terra, pois dela foste formado, na verdade, mísero adão, tu és pó e ao pó um dia tornarás. Dito isto, o senhor fez aparecer umas quantas peles de animais para tapar a nudez de adão e eva, os quais piscaram os olhos um ao outro em sinal de cumplicidade, pois desde o primeiro dia souberam que estavam nus e disso bem se haviam aproveitado. Disse então o senhor, Tendo conhecido o bem e o mal, o homem tornou-se semelhante a um deus, agora só me faltaria que fosses colher também do fruto da árvore da vida para dele comeres e viveres para sempre, não faltaria mais, dois deuses num universo, por isso te expulso a ti e a tua mulher deste jardim do éden, a cuja porta colocarei de guarda um querubim armado com uma espada de fogo, o qual não deixará entrar ninguém, e agora vão-se embora, saiam daqui, não vos quero ver nunca mais na minha frente. Carregando sobre os ombros as fedorentas peles, bamboleando-se sobre as pernas trôpegas, adão e eva pareciam dois orangotangos que pela primeira vez se tivesse posto de pé. Fora do jardim do éden a terra era árida, inóspita, o senhor não tinha exagerado quando ameaçou adão com espinhos e cardos. Tal como também havia dito, acabara-se a boa vida.
XXX

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dias a Menos

 
 
 
 
Um dia você acorda e encontra-se consigo. Você sente dor nas costas, dor no pescoço, os olhos ardendo, dificuldades para se lembrar das coisas, dificuldades para se levantar. Você sente dificuldades para acordar, mesmo depois de ter dificuldades para dormir. Você sente dificuldades para emagrecer e para engordar, dificuldades em chegar de um ponto ao outro, perde o ponto, perde o tempo, ganha ruga
s.

Você acorda e percebe que todos os seus dias são dias a menos, e percebe que nada se pode fazer quanto a isso.
Os dias passam, você respira fumaça, queima a pele do seu rosto, passa protetor, nada resolve. Acende um cigarro, se pergunta até que idade irá viver, bebe água contaminada, come qualquer porcaria no almoço. Você nem janta e permanece.
Pensa em se mudar para o interior, em parar de fumar, em comprar roupas novas, em mudar o estilo, em parar com tudo, em cortar os cabelos, em não fazer nada. Você pensa em matar alguém. Desiste. Sorri e chora. Acende um cigarro. Depois acaba.

Nesse dia, você acorda e percebe que você está cansado.Cansado dos carros, das luzes, dos ônibus lotados, dos ônibus vazios. Você se cansa da cidade, do lixo, dos mendigos, do barulho, das pessoas, mas não de todas. Se cansa de não ter para onde ir, nem saber para onde ir, se cansa de precisar ir para algum lugar. De não estar certo, de não ter alternativas, de viver uma vida igual a de todos, de
não ter caminhos, de fazer parte de um rebanho sem pastor. 
Se cansa dos professores, dos chefes, dos deuses, da moda, do dinheiro, da pobreza, dos impostos, do café. Se cansa da impressão de estar desperdiçando tempo, e de não haver mais tempo para desperdiçar. Você se cansa das insinuações, das preocupações.
Cansa de estar num mundo onde quem nunca está desesperado, está louco; e você se desespera por medo de enlouquecer. Respira fundo e acende outro cigarro. E bebe mais e mais café. E não dorme direito, e ouve as pessoas andando pelas casas e pelos corredores, e pelas estradas. 
Então você se cansa de não saber o porque de tanto cansaço. Você se cansa de coisas que são como são desde muito antes de você haver nascido. E cansa de ruas, praças, avenidas, alamedas, túneis, do sol, da lua, das nuvens, das buzinas, das placas de sinalização, dos semáforos. 
Você se cansa da inveja dos outros, se cansa do excesso disso e daquilo, se cansa das pessoas querendo estragar sua felicidade. Se cansa do rabo entre as pernas, da sensação de estar sendo prejudicado, se cansa da comiseração, de que “a vida tem dessas coisas”, e se cansa de falar isso para si mesmo. Você se cansa de esperar, de aguardar, de ter esperanças, de não ter alegrias, se cansa da loucura que sente, de rezar, cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono, do excesso de insônia. 
Você acorda cansado da falsidade, da ameaça, da apatia, da hipocrisia, da angustia que você sente e nem sabe por que, do frenezi, de buscar incessantemente por algo que você nem sabe o que é. Da sensação de não parar nunca.
E da sensação de estar morrendo, devagar, até o dia em que você acorda e percebe que nem sequer estivera dormindo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Receita



PETIT GÂTEAU:
Esta é uma receita bem fácil de se fazer para servir como sobremesa no almoço em família; e o melhor de tudo: é uma delícia!, mistura duas das principais paixões gastronômicas da maioria das pessoas: sorvete e chocolate! Então prepare-se, pegue papel e lápis e mãos à obra:


Ingredientes e Utensílios:
- 2 gemas de ovos;
- 2 colheres de sopa de manteiga;
- 2 ovos;
- 2 colheres de sopa de farinha de trigo;
- 50 gramas de açúcar;
- 200 gramas de chocolate.

Rendimento:
Rende até 6 porções.
 
Modo de preparo:
Derreta em banho-maria o chocolate e a manteiga¹. Bata as gemas e os ovos com o açucar na batedeira até que fique claro. Junte a farinha de trigo e o chocolate derretido misturando com uma colher. Unte formas de empada (ou próprias para petit gateau) com farinha de trigo e coloque a massa, sem preencher toda a forma. É extremamente importante que o forno esteja com uma alta temperatura, portanto, pré-aqueça o forno e leve as formas por um tempo variável de 5 a 7 minutos². O bolinho deve ser desenformado ainda quente e diretamente no prato em que será servido, acompanhado por uma (ou mais) bola (s) de sorvete.

01: o banho-maria pode ser descartado! Basta que você coloque água em uma panela e aqueça sem levantar fervura. Assim, quando estiver formando pequenas bolhas, desligue o fogo e coloque sobre a água um recipiente (ou bandeja) com o alimento que deseja cozinhar.
02: os bolinhos crescem mas têm que ficar com o meio mais mole, isto é totalmente normal, então não se preocupe com este detalhe!

Bom apetite!!!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Conto: Praça Mauá

 
O cabaré na Praça Mauá se chamava "Erótica". E o nome de guerra de Luísa era Carla.
Carla era dançarina no "Erótica". Era casada com Joaquim que se matava de trabalhar como carpinteiro. E Carla "trabalhava" de dois modos: dançando meio nua e enganando o marido.
Carla era linda. Tinha dentes miúdos e cintura fininha. Era toda frágil. Quase não tinha seios, mas tinha quadris bem torneados. Levava uma hora para se maquilar: depois parecia uma boneca de louça. Tinha trinta anos, mas parecia muito menos.
Não tinha filhos. Joaquim e ela não se ligavam. Ele trabalhava até dez horas da noite. Ela começava a trabalhar exatamente às dez. Dormia o dia inteiro.
Carla era uma Luísa preguiçosa. Chegava de noite, na hora de se apresentar em público, começava a bocejar, tinha vontade de estar de camisola na sua cama. Era também por timidez. Por incrível que parecesse, Carla era uma Luísa tímida. Desnudava-se, sim, mas os primeiros momentos de dança e requebro eram de vergonha. Só "esquentava" minutos depois. Então se desdobrava, requebrava-se, dava tudo de si mesma. No samba é que era boa. Mas um blue bem romântico também a atiçava.
Era chamada a beber com os fregueses. Recebia comissão pela garrafa de bebida. Escolhia a mais cara. E fingia beber: não era de álcool. Fazia era o freguês se embebedar e gastar. Era tedioso conversar com eles. Eles a acariciavam e passavam as mãos pelos seus mínimos seios. E ela de biquíni cintilante. Linda.
De vez em quando dormia com um freguês. Pegava o dinheiro, guardava-o bem guardadinho no sutiã e no dia seguinte ia comprar roupas. Tinha roupas que não acabavam mais. Comprava blue-jeans. E colares. Uma multidão de colares. E pulseiras, anéis.
Às vezes, só para variar, dançava de blue-jeans e sem sutiã, os seios se balançando entre os colares faiscantes. Usava uma franjinha e pintava junto dos lábios delicados um sinal de beleza feito com lápis preto. Era uma graça. Usava longos brincos pendentes, às vezes de pérolas, às vezes de falso ouro.
Nos seus momentos de infelicidade socorria-se de Celsinho, um homem que não era homem. Entendiam-se bem. Ela lhe contava suas amarguras, queixava-se de Joaquim, queixava-se da inflação. Celsinho, um travesti de sucesso, ouvia tudo e aconselhava. Não eram rivais. Cada um tinha o seu parceiro.
Celsinho era filho de família nobre. Abandonara tudo para seguir a sua vocação. Não dançava. Mas usava batom e cílios postiços. Os marinheiros da Praça Mauá adoravam-no. E ele se fazia de rogado. Só cedia em última instância. E recebia em dólares. Investia o dinheiro trocado no câmbio negro no Banco Halles. Tinha muito medo de envelhecer e de ficar ao desamparo. E mesmo porque travesti velho era uma tristeza. Para ter força tomava diariamente dois envelopes de proteína em pó. Tinha quadris largos e, de tanto tomar hormônio, adquirira um fac-símile de seios. O nome de guerra de Celsinho era Moleirão.
Moleirão e Carla davam bom dinheiro ao dono do "Erótica". O ambiente enfumaçado e com cheiro de álcool. E a pista de dança. Era duro ser tirado para dançar por marinheiro bêbedo. Mas que fazer. Cada um tem o seu métier.
Celsinho tinha adotado uma meninazinha de quatro anos. Era-lhe uma verdadeira mãe. Dormia pouco para cuidar da menina. A esta não faltava nada: tinha tudo do bom e do melhor. E uma babá portuguesa. Aos domingos Celsinho levava Claretinha ao Jardim Zoológico, na Quinta da Boa Vista. E ambos comiam pipocas. E davam comida aos macacos. Claretinha tinha medo dos elefantes. Perguntava:
— Por que é que eles têm nariz tão grande?
Celsinho então contava uma história fantástica onde entravam fadas más e fadas boas. Ou então levava-a ao circo. E chupavam balas barulhentas, os dois. Celsinho queria para Claretinha um futuro brilhante: casamento com homem de fortuna, filhos, joias.
Carla tinha um gato siamês que a olhava com olhos azuis e duros. Mas Carla mal tinha tempo de cuidar do bicho: ora estava dormindo, ora dançando, ora fazendo compras. O gato se chamava Leléu. E tomava leite com sua linguinha vermelha e fina.
Joaquim mal via Luísa. Recusava-se a chamá-la de Carla. Joaquim era gordo e baixo, descendente de italianos. Quem lhe tinha dado o nome de Joaquim fora uma vizinha portuguesa. Chama-se Joaquim Fioriti. Fioriti? de flor não tinha nada.
A empregada de Joaquim e Luísa era uma negra espevitada que roubava quanto podia. Luísa mal comia, para manter a forma. Joaquim ensopava-se de minestroni. A empregada sabia de tudo, mas mantinha bico calado. Era encarregada de limpar as joias de Carla com Brasso e Silvo. Quando Joaquim estava dormindo e Carla trabalhando, essa empregada, por nome Silvinha, usava as joias da patroa. E tinha uma cor preta meio cinzenta.
Foi assim que aconteceu o que aconteceu.
Carla estava fazendo confidências a Moleirão, quando foi chamada para dançar por um homem alto e de ombros largos. Celsinho cobiçava-o. E roeu-se de inveja. Era vingativo.
Quando a dança acabou e Carla voltou a sentar-se junto de Moleirão, este mal se continha de raiva. E Carla inocente. Não tinha culpa de ser atraente. E o homem grandalhão bem que lhe agradara. Disse para Celsinho:
— Com este eu ia para a cama sem cobrar nada. Celsinho calado. Eram quase três horas da madrugada.
O "Erótica" estava cheio de homens e de mulheres. Muita mãe de família ia lá para se divertir e ganhar um dinheirinho. Então Carla disse:
— É tão bom dançar com um homem de verdade. Celsinho pulou:
— Mas você não é mulher de verdade!
— Eu? como é que não sou? espantou-se a moça que nesta noite estava vestida de preto, um vestido longo e de mangas compridas, parecia uma freira. Fazia isso de propósito para excitar os homens que queriam mulher pura.
— Você, vociferou Celsinho, não é mulher coisa alguma! Nem ao menos sabe estalar um ovo! E eu sei! eu sei! eu sei!
Carla virou Luísa. Branca, perplexa. Tinha sido atingida na sua feminilidade mais íntima. Perplexa, olhando para Celsinho que estava com cara de megera.
Carla não disse uma palavra. Ergueu-se, esmagou o cigarro no cinzeiro e, sem explicar a ninguém, largando a festa no seu auge, foi embora.
Ficou de pé, de preto, na Praça Mauá, às três horas da madrugada. Como a mais vagabunda das prostitutas. Solitária. Sem remédio. Era verdade: não sabia fritar um ovo. E Celsinho era mais mulher que ela.
A praça estava às escuras. E Luísa respirou profundamente. Olhava os postes. A praça vazia.
E no céu as estrelas.

[Lispector, Clarice (1920-1977) - Praça Mauá, in A Via Crucis do Corpo]

sábado, 20 de outubro de 2012

Erótica: 20 anos

 


 
 
Hoje completam-se 20 anos que Madonna lançou uma das maiores polêmicas de sua carreira: o cd Erótica e o livro SEX. Lendo algumas coisas na internet, encontrei este belo texto escrito por Roberta Félix, fiquem agora com o texto, delicie-se:

"Meu Deus! Como o tempo passa rápido! Parece que foi ontem, mas tês exatos 20 anos! Sério! Há 20 anos Madonna balançava o mundo com o lançamento de um dos albus que, a meu ver, se não é o melhor, é certamente um dos melhores de sua carreira. 
 
Gravado entre novembro de 1991 e agosto de 1992 e lançado em 20 de outubro de 1992 pela Maverick Records e Sire Records , com distribuição da Warner Bros. , Erotica , é o quinto álbum de estúdio da Madonna.


O álbum que vendeu pouco mais de 7 milhões de cópias no mundo , contém 14 faixas das quais 6 tornaram-se singles , foi produzido por Madonna , Shep Pettibone e André Betts .

No ano em que o disco foi lançado , o mundo passava por muitas transformações e um dos maiores méritos do álbum é justamente falar sobre liberdade sexual numa época pós- AIDS onde as barreiras , a hipocrisia , o preconceito e a falta de informação sobre o assunto eram enormes.

Erotica não fala somente em sexo , tem letras sobre desencontros , brigas , aceitação , mentiras e...amor!

Apesar de toda a controvérsia proposital girada em torno do álbum , o disco foi muito elogiado pela crítica na época e entra facilmente na lista dos melhores trabalhos da carreira da Madonna.

Um disco envolvente com algo a dizer. Porém , o lançamento simultâneo com o livro SEX , uma das maiores polêmicas da carreira da loira , Erotica teve seu brilho e mérito ofuscados, o que , inevitavelmente se refletiu nas vendas. Polêmicas à parte o álbum vendeu bem e foi certificado com Muti-Platina pela Recording Industry Association of America (RIAA) por ter vendido 2 milhões de cópias no Estados Unidos.

A última certificação foi em 6 de janeiro de 1993 com disco de Platina Duplo.

Seus maiores Hits são : Erotica ( 13 de outubro de 1992) Deeper and Deeper ( 8 de dezembro de 1992) Bad Girl ( 22 de fevereiro de 1993) Fever ( 22 de março de 1993) Rain (17 de julho de 1993) e finalmente Bye Bye Baby ( 5 de novembro de 1993)" .

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Suposições

 
 
Suponhamos que o telefone não tem sinal, o que é verdade. Suponhamos que eu faça uma ligação e que chame à toa por muito tempo, o que é verdade. Depois, suponhamos que dê sinal de ocupado, o que é verdade. Suponhamos que de repente soe o sinal de desocupado, o que é verdade. Suponhamos que não atendam, o que é verdade. Suponhamos que em vez de ser atendido pelo número que disquei, eu ouça uma linha cruzada, o que é verdade. Suponhamos que por curiosidade simples eu passe a ouvir a conversa entre um homem e uma mulher, o que é verdade. Suponhamos que, no final da conversa, eu ouça uma frase, o que é verdade. Suponhamos que esta frase seja "Deus te abençoe", o que é verdade. Suponhamos que eu me sinta todo abençoado e passe a acreditar, pois a frase foi dita para mim também, o que é verdade - é verdade? Sim, a frase foi para mim também: e eu me sinto amado e querido por Deus, o que é verdade. E, quem sabe, eu saiba amar a Deus, e querê-lo para mim. E quem sabe eu tenha Deus em mim e não saiba, o que é verdade. E quem sabe Deus seja a luz de todos os dias, o que é verdade. E quem sabe Deus me olhe com piedade e pouse sua pesada mão sobre mim. Suponhamos então que eu um dia possa olhar para o céu e perguntar: Deus?, e que eu receba como resposta a verdade: Deus.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Todas as Mortes de Minha Vida



O primeiro contato que eu tive com o que chamam de morte, aconteceu quando eu tinha cerca de seis ou sete anos: eu me lembro de que era uma senhora tão velha quanto qualquer outra que eu conhecia até então. Ela estava com um vestido azul com pequeninas flores brancas, e eram margaridas; eu me lembro de que tudo tinha um cheiro horrível de cravos e de morte. E de que meu avô não entrara na sala de velório - ele não entendia a morte.
 
Meu avô era meu exemplo de força e rigidez, e me surpreendi ao vê-lo frágil diante de uma morte que não era a dele: eu me lembro de que haviam pequenos mosquitos rodeando tudo com seu mistério. E havia algo mais forte do que meu avô - constatei surpreso - e mais forte do que eu. E pela primeira vez eu senti o medo consciente do mundo: o mundo se contraia em dores, pois a vida pulsa em tudo e eu não entendia a morte.
 
Depois a mãe de um dos meus avôs morreu e - e a morte foi tão simples para ela, que só me lembro de que ela era magra e frágil, como a boneca de louça que havia sobre a velha estante - ambas claras, duras e empoeiradas, carregando sobre o flanco imóvel o peso de um corpo inútil.
 
Mais tarde, lembro-me de que uma amiga da família morrera e eu - tão simples quanto qualquer outra criança - e eu liguei para a casa dela alguns dias depois: mas foi a voz dela que atendera o telefone, me assustei e desliguei rápido; é que eu não queria ouvir a morte sussurando em meus ouvidos tão novos. Com essa morte eu senti o que se chama tristeza por alguém que se vai - pois ela fora uma grande amiga que me deixou uma herança que até hoje guardo comigo: uma coleção de pequeninos bonecos que é a maior riqueza que poderia ter - e me fez tão feliz a ponto de não chorar, mesmo na maior das tristezas que tive até então, eu estava feliz por tê-la comigo.
 
Mas houve um dia - ah, houve um dia - em que o sol estava forte e eu estava em férias escolares. Naquele dia eu estava na casa de minha mãe, e havia sobre a estante um retrato que mostrava ela ao lado do meu avô - e aquela fora a última foto que ele tirara: os olhos estavam rasos de lágrimas grossas e salgadas: mais uma vez ele estava frágil diante da nudez da vida: pois a morte é nua e fria. O telefone tocara e minha mãe saíra, eu fui até a padaria comprar coca-cola e vi que, bem distante, descendo a avenida, desciam minha mãe e uma tia.
 
Diante do caixão aberto, me lembrei de tudo o que passei em minha casa, e por mais que me esforçasse, as lágrimas não saíram - pois eu ainda não entendia a morte. Mas logo vieram as lágrimas e todo o resto. E havia o inútil consolo da fé: pois os mortos ainda restavam diante de nós. E quando eu me sinto irremediavelmente triste, eu me lembro de que fui criado por um homem forte e rígido, que nada temia: e me espanto com a força que consigo ao me lembrar disso - e os mortos, afinal, continuam todos vivos em mim: eu vivo os meus mortos todos os dias, e deixo-me viver por eles.
 
Mas ainda resta o mistério de o que é a morte; mas quem sabe a morte não deve ser entendida: ela deve ser sentida - pois sentir é uma forma de ser, e sendo eu permaneço vivo. Eu não entendia, e continuo não entendendo: mas eu ainda entenderei a morte, e viverei dela plenamente. E eu, se não me engano, vou morrer um dia: sim; é com um sim que tudo começa - e é com o mesmo sim, que tudo termina. E eu digo sim à vida, eu abro os braços e sorrio: sim.
 
 
 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Receita



PANQUECA AMERICANA:
 
Todo mundo vê nos filmes aquelas panquecas que são servidas no café da manhã e sempre quis (pelo menos eu sempre quis) comer também. Bom, esta é a sua chance! Na receita de hoje, vou ensinar como fazer panquecas deliciosas de uma forma fácil! Então prepare-se, anote os ingredientes, e mãos à obra:
 
Ingredientes:

01 - colher de sopa de fermento em pó;

01 - colher de sobremesa de açúcar;

01 - colher de sopa de manteiga derretida;

01 - copo americano de farinha de trigo;

01 - copo americano de leite;

01 - ovo;

01 - pitada de sal.

DICA: use uma frigideira antiaderente!

Modo de Fazer:

Sem usar liquidificador ou batedeira, misture todos os ingredientes, deixando, em seguida, descarsar por 10 minutos. Derreta uma colher de café de manteiga e pincele sobre a frigideira já aquecida. Utilizando uma concha pequena, coloque porções de massa à fogo baixo. Quando a parte de baixo da massa estiver dourada, vire a panqueca com uma espátula e espere dourar a outra parte.

Cobertura:

Existe uma grande variedade de possibilidades para fazer a cobertura, indo desde mel (que é o mais usado) até chocolate, doce de leite, morango, geléia, etc.

BOM APETITE!!!!!!!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Conto: Mas Vai Chover

 
 
Maria Angélica de Andrade tinha sessenta anos. E um amante, Alexandre, de dezenove anos. Todos sabiam que o menino se aproveitava da riqueza de Maria Angélica. Só Maria Angélica não suspeitava.
Começou assim: Alexandre era entregador de produtos farmacêuticos e tocou a campainha da casa de Maria Angélica. Esta mesma abriu a porta. E deparou-se com um jovem forte, alto, de grande beleza. Em vez de receber o remédio que encomendara e pagar o preço, perguntou-lhe, meio assustada com a própria ousadia, se não queria entrar para tomar um café.
Alexandre espantou-se e disse que não, obrigado. Mas ela insistiu. Acrescentou que tinha bolo também.
O rapaz hesitava, visivelmente constrangido. Mas disse:
— Se for por pouco tempo, entro, porque tenho que trabalhar.
Entrou. Maria Angélica não sabia que já estava apaixonada. Deu-lhe uma grossa fatia de bolo e café com leite. Enquanto ele comia pouco à vontade, ela embevecida o olhava. Ele era a força, a juventude, o sexo há muito tempo abandonado. O rapaz acabou de comer e beber, e enxugou a boca com a manga da camisa. Maria Angélica não achou que fossem maus modos: ficou deliciada, achou-o natural, simples, encantador.
— Agora vou embora que meu patrão vai me deixar grilado se eu demorar.
Ela estava fascinada. Observou que ele tinha umas poucas espinhas no rosto. Mas isso não lhe alterava a beleza e a masculinidade: os hormônios lá ferviam. Aquele, sim, era um homem. Deu-lhe uma gorjeta enorme, desproporcional, que surpreendeu o rapaz. E disse com uma vozinha cantante e com trejeitos de mocinha romântica:
— Só deixo você sair se prometer que voltará! Hoje mesmo! Porque vou pedir uma vitaminazinha na farmácia…
Uma hora depois ele estava de volta com as vitaminas. Ela havia mudado de roupa, estava com um quimono de renda transparente. Via-se a marca de suas calcinhas. Mandou-o entrar. Disse-lhe que era viúva. Era o modo de lhe avisar que era livre. Mas o rapaz não entendia.
Convidou-o a percorrer o bem-decorado apartamento deixando-o embasbacado. Levou-o a seu quarto. Não sabia como fazer para que ele entendesse. Disse-lhe então:
— Deixe eu lhe dar um beijinho!
O rapaz se espantou, estendeu-lhe o rosto. Mas ela alcançou bem depressa a boca e quase a devorou.
— Minha senhora, disse o menino nervoso, por favor se controle! A senhora está passando bem?
— Não posso me controlar! Eu te amo! Venha para a cama comigo!
— Tá doida?!
— Não estou doida! Ou melhor: estou doida por você! gritou-lhe enquanto tirava a coberta roxa da grande cama de casal.
E vendo que ele nunca entenderia, disse-lhe morta de vergonha:
— Venha para a cama comigo…
— Eu?!
— Eu lhe dou um presente grande! Eu lhe dou um carro!
Carro? Os olhos do rapaz faiscaram de cobiça. Um carro! Era tudo o que desejava na vida. Perguntou desconfiado:
— Um karmann-ghia?
— Sim, meu amor, o que você quiser!
O que se passou em seguida foi horrível. Não é necessário saber. Maria Angélica — oh, meu Deus, tenha piedade de mim, me perdoe por ter que escrever isto! — Maria Angélica dava gritinhos na hora do amor. E Alexandre tendo que suportar com nojo, com revolta. Transformou-se num rebelado para o resto da vida. Tinha a impressão de que nunca mais ia poder dormir com uma mulher. O que aconteceria mesmo: aos vinte e sete anos ficou impotente.
E tornaram-se amantes. Ele, por causa dos vizinhos, não morava com ela. Quis morar num hotel de luxo: tomava café na cama. E logo abandonou o emprego. Comprou camisas caríssimas. Foi a um dermatologista e as espinhas desapareceram.
Maria Angélica mal acreditava na sua sorte. Pouco se importava com as criadas que quase riam na sua cara.
Uma amiga sua advertiu-lhe:
— Maria Angélica, você não vê que o rapaz é um pilantra? que está explorando você?
— Não admito que você chame Alex de pilantra! E ele me ama!
Um dia Alex teve uma ousadia. Disse-lhe:
— Vou passar uns dias fora do Rio com uma garota que conheci. Preciso de dinheiro.
Foram dias horríveis para Maria Angélica. Não saiu de casa, não tomou banho, mal se alimentou. Era por teimosia que ainda acreditava em Deus. Porque Deus a abandonara. Ela era obrigada a ser penosamente ela mesma.
Cinco dias depois ele voltou, todo pimpão, todo alegre. Trouxe-lhe de presente uma lata de goiabada-cascão. Ela foi comer e quebrou um dente. Teve que ir ao dentista para pôr um dente falso.
E a vida corria. As contas aumentavam. Alexandre exigente. Maria Angélica aflita. Quando fez sessenta e um anos de idade ele não apareceu. Ela ficou sozinha diante do bolo de aniversário.
Então — então aconteceu.
Alexandre lhe disse:
— Preciso de um milhão de cruzeiros.
— Um milhão? espantou-se Maria Angélica.
— Sim!, respondeu irritado, um bilhão antigo!
— Mas… mas eu não tenho tanto dinheiro…
— Venda o apartamento, então, e venda o seu Mercedes, dispense o chofer.
— Mesmo assim não dava, meu amor, tenha piedade de mim!
O rapaz enfureceu-se:
— Sua velha desgraçada! sua porca, sua vagabunda! Sem um bilhão não me presto mais para as suas sem-vergonhices!
E, num ímpeto de ódio, saiu batendo a porta de casa. Maria Angélica ficou ali de pé. Doía-lhe o corpo todo. Depois foi devagar sentar-se no sofá da sala. Parecia uma ferida de guerra. Mas não havia Cruz Vermelha que a socorresse. Estava quieta, muda. Sem palavra nenhuma a dizer.
— Parece — pensou — parece que vai chover.
 
[Lispector, Clarice (1920-1977) - Mas Vai Chover, in A Via Crucis do Corpo]

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Solidão & Recompensa





Dá-me tua mão: vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo. Entre duas notas de música existe outra nota, entre dois fatos existe outro fato, existe um sentir que é o próprio sentir – nos interstícios da matéria primordial está a respiração do mundo, que é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.
Por enquanto preciso segurar esta sua mão imaginária, mesmo que eu não consiga inventar teu rosto e teus olhos e tua boca. Mas, embora decepada, esta mão não me assusta. A invenção dela vem de tal ideia de amor como se a mão estivesse realmente ligada a um corpo que, se não vejo, é por incapacidade de amar mais. Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira. E como imaginar um rosto se não sei de que expressão eu preciso?
 
Dá-me tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar – a realidade é delicada demais. Segura minha mão, porque sinto que estou indo. Estou indo para a mais primária vida divina, estou indo para um inferno de vida crua. Não me deixes, porque estou perto de ver o núcleo da vida.
Estou tentando te dizer como cheguei ao neutro e ao inexpressivo de mim. Não sei se estou entendendo o que falo, estou sentindo – e sentir é um dos estilos de ser. Eu estou sendo levado pelo demoníaco.

Agora, por piedade da mão anônima que prendo à minha, por piedade pelo que essa mão não vai compreender, eu não estou querendo levá-la comigo para o horror infernal para onde fui sozinho.
Segura minha mão, pois cheguei ao irredutível com a fatalidade de ser. Não retires de mim a tua mão, eu prometo que até o fim desta vida eu entenda e consiga encontrar-te. Não me abandones, juro que também eu não queria: eu também vivia bem, eu era uma pessoa simples e viva: sim. Espera por mim: vou te tirar do inferno a que desci.

Sei que é ruim segurar a minha mão. É ruim ficar sem ar nesta mina desabada onde eu te trouxe sem piedade por ti, mas por piedade por mim. Mas juro que te tirarei com vida daqui. Eu te salvarei deste horror onde, por enquanto, eu te preciso. Deste-me inconscientemente a mão, e porque a segurava é que tive a coragem de me afundar. Mas não procures entender-me, faze-me apenas companhia.
Como compensar-te? Usa-me ao menos, usa-me como túnel escuro – e quando atravessares minha escuridão te encontrarás do outro lado contigo. Não te encontrará comigo, mas contigo. Pelo menos agora não estás em solidão como antes eu estive, e eu apenas rezava para poder continuar vivo e ter esta tua mão.

Dá-me tua mão. Porque não sei mais do que estou falando. Acho que inventei tudo, nada existiu. Mas se inventei o meu presente – quem me garante que também não inventei toda a minha vida anterior ao agora?
Ah, eu juro que lhe pouparei do segredo primário da vida. Eu não conto tudo – há coisas que eu não conto nem a Deus. Não se esqueças de que também eu preciso da vida diária. Escuta-me e não te assustes: lembra-te que eu comi do fruto proibido e, no entanto, não fui fulminado pela orgia de ser.

Dá-me de novo a tua mão, não sei ainda como me consolar da verdade. Mas a verdade não pode ser má. Ah, mão que me segura, se eu não tivesse precisado tanto de ti para formar minha vida, eu já haveria vivido.
Agora preciso de tua mão, não para que eu não tenha medo, mas para que tu não tenhas medo. Sei que acreditar em tudo isso será, no começo, a tua grande solidão. Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor. Como eu, não terás medo de agregar-te à extrema doçura enérgica do Deus. E Deus é a solidão de ser apenas humano.

E eis que a mão que eu segurava me abandonou. Não, eu é que larguei a mão porque tenho que ir sozinho. Se eu conseguir voltar do reino da vida tornarei a pegar a tua mão, e a beijarei grato porque ela me esperou; e esperou que eu voltasse magro, faminto, humilde e cansado. Para viver, solto, afinal, esta tua mão.