terça-feira, 2 de outubro de 2012

Cotidiano


 
A vida anda passando rápido demais, e muitas vezes eu tenho a impressão de estar olhando tudo da janela: as coisas acontecem sem que eu possa interferir nelas de maneira nenhuma. E isso é tão estranho quanto saber que um dia nós nascemos e um dia morreremos, e depois nós não vamos para lugar nenhum – neste dia vai ser tudo lúcido e sem mistérios.
Mas quem sabe o grande mistério de viver esteja no fato de que a própria vida é cheia de mistérios tão grandes que ninguém mais se importa em solucionar. É como ver uma rachadura na parede e sempre ficar empurrando para o amanhã – que nunca chega, por falta de tempo – um concerto que se faz necessário; e então, num belo dia, a parede toda vai a baixo e é preciso arrumar muito mais do que antes. Isso é um dos mistérios da vida: por que não fazer agora?
 Ultimamente ando procrastinando momentos de extrema felicidade que antes eram cotidianos para mim – quando eu simplesmente olhava minhas mãos e via exatamente isso: mãos que eram minhas. E minha procrastinação estende-se a buscar soluções ao problema de sempre enxergar mais do que minhas mãos, e enxergar canetas e papéis.
Quando eu acordo no meio da noite, com a casa toda mergulhada no silêncio, tenho uma vontade enorme de gritar bem alto: e ver se com isso eu me acordo – pois eu sei que ando dormindo pouco, mas mantenho-me sempre em um estado de sonolência e cansaço. Por exemplo, ando dormindo dentro do ônibus e – e isso: eu durmo no ônibus entre uma e outra página dos livros que insisto em ler.

E quem sabe eu durma hoje – ou não: a vida tem dessas coisas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário