Diante
das dezenas de milhares de pessoas, os DJs esforçam-se por entreter e animar,
por pouco tempo que seja, o vasto e heterogêneo público, composto de jovens e
idosos, homens e mulheres, hetero e homossexuais, de todas as cores, tamanhos,
e lugares: de todos os cantos do mundo, os súditos reuniram-se constantemente,
noite após noite, para presenciar a volta de uma rainha ao trono do qual nunca
descera –– todos anseiam por Madonna. Apesar da qualidade e da variedade de DJs
convidados, o brilhantismo da Grande Atração ofuscou a tudo e a todos.
E
num passe de mágica as luzes se apagam, deixando entrever as grades de um
enorme portal. Um turíbulo grande e pesado deixa-se baixar às mãos de monges
vestidos de vermelho que entoam cantos gregorianos: silêncio, o show começou ––
uma fina camada de fumaça invade o palco negro, o cheiro de incenso de certo
invade o ar enquanto pequenas gárgulas invadem a catedral gótica que é o palco.
Trovões e sinos se ouvem sobre tudo, anunciando a chegada da mãe de todos, a Madonna
viva, cuja beleza pintada pelos grandes mestres não foi ofuscada com o passar
dos anos. Ouve-se uma prece, os portais se abrem, o público delira, ovacionando
a tão esperada rainha, que, livrando-se dos véus que lhe cobrem, saca uma arma
e quebra a redoma na qual estava enclausurada.
Antes de Girl Gonne Wild
E
ela dança, e canta, e vive, e pulsa diante dos súditos. A vitalidade de uma
mulher que muito viveu e muito conquistou fica aparente às centenas de pessoas
que lhe vieram prestar homenagem. E que não se enganem aqueles que acreditam
que a Rainha perdeu seu trono, durante “Girl Gone Wild” Madonna deixa clara sua
posição soberana no mundo da música.
Depois
de dançar sem parar, Madonna lança mãos à arma que a libertara no início do
show e dispara, o público delira quando esta mulher de 54 anos retorna de arma
em punho e lidera uma quadrilha de mulheres, que atiram em todas as direções,
dançando, pulando, rastejando e rolando pela passarela que delimita o tão
sonhado Golden Triangle. Seguindo-se a esta, vem “Gang Bang”, música que
levanta o público fazendo-o delirar durante o refrão gritado à plenos pulmões
enquanto se vê uma Madonna brigando com criminosos no quarto de um hotel,
sacando armas, rodando em postes, batendo em rostos –– tudo rápido e bem
planejado, misturando teatralidade, talento, presença de palco e musicalidade
numa performance digna de Tarantino ou de James Bond.
Depois
de matar todos os dançarinos em palco e deixar o público com os nervos à flor
da pele, os violinos dramáticos de “Papa Dont Preach” servem de ponte entre a
música anterior e a próxima, o sucesso “Hung Up”, que ganhou nova versão, que
combina com o trecho de “Papa Dont Preach”. Agora a plateia delira não pelo uso
de armas, mas por uma Madonna que é arrastada pelo palco antes de andar na corda
bamba enquanto chamas se projetam no telão. E este momento seria o ideal para
uma saída triunfal do palco, apesar da quebra no ritmo que houve durante “Papa
Dont Preach”, que felizmente levou o público a delírio, deixando-o com um gosto
de ‘quero mais’. Mas não é em “Hung Up” que este primeiro bloco do show se
encerra: eis que volta ao palco uma Madonna guitarrista, que troca olhares
provocantes com a plateia enquanto canta aos berros “I Dont Give A” levantada
por uma plataforma na ponta da passarela do Golden Triangle, uma mensagem à
todos aqueles que quiseram tirá-la de onde ela nunca saiu –– e isso fica claro com
a frase “There's only one queen, and that's Madonna” (Só existe uma rainha, e
ela é Madonna). Enfim, a estrela entrega sua guitarra ao trio basco Kalakan
(que antes fora os monges no início do show), antes de deitar-se numa coluna e
é levantada diante de uma cruz vermelha com as iniciais MDNA, fazendo o público
delirar mais uma vez.
Acabado
o primeiro bloco, depois do vídeo interlúdio “Best Friend”, volta uma Madonna
totalmente diferente daquela que empunhava armas e lutava durante o primeiro
bloco: vestida com uma roupa de líder de torcida, a cantora inicia um dos
segmentos mais polêmicos da turnê MDNA –– alfinetando descaradamente a rival Lady
Gaga, Madonna canta “Express Yourself”, seguida de “Born This Way”, de Gaga, e
“Shes Not Me”, relembrando as polêmicas em torno da semelhança entre as duas
primeiras músicas, deixando claro que, definitivamente, Lady Gaga não é Madonna
“e nunca será”. Apesar de ser um dos segmentos mais aclamados do show, esta
sequência pareceu, aos meus olhos, um pouco “infantil” para uma mulher que, com
certeza, não precisa provar nada a ninguém. Deixando de lado esta sequência,
Madonna entoa uma das músicas que mais fizeram sucesso em seu novo álbum, “Give
Me All Your Luving”, na qual encarna uma líder de torcida com pompons sendo
agitados durante uma das melhores coreografias feitas, na qual Madonna mostra
ter ainda muito fôlego para continuar com o show dançando e cantando como uma
moça de seus vinte e poucos anos. É neste momento que entram, no palco
dançarinos içados à vários metros do chão, como se estivessem flutuando acima
da cabeça de um público cada vez ais
eufórico.
Depois
do espetáculo que foi o segundo bloco da turnê, Madonna volta com um vestido
preto, mais uma vez com guitarra na mão, enquanto é acompanhada por grande
parte das pessoas na canção “Turn Up The Radio”, outro ponto forte do show. E
aqui vale mais uma observação; quando soube que esta música estaria no setlist,
logo imaginei uma coreografia cheia de acrobacias, e fiquei um pouco
desapontado com a guitarra tocando, PORÉM, este é um dos melhores momentos do
show por dar ao público a possibilidade de tirar os pés do chão e vibrar como
as cordas do instrumento nas mãos da cantora, tornando a escolha de uma ‘não
coreografia’, a melhor coreografia possível para o momento.
Madonna Durante Turn Up The Radio
Seguindo-se
a esta, vem uma das canções clássicas da rainha do pop, a música “Open Your
Heart”, que ganhou arranjo novo e mais animado (um dos melhores, em minha
opinião, que a música já ganhou) com um toque de “Sagarra Jo” do grupo Kalakan,
onde nota-se o vigor de uma mulher que, apesar da idade, tem muito a nos
mostrar, sempre se reinventando. Depois desta música e de um discurso, que nem
sempre foi o mesmo, Madonna canta Holiday num arranjo simples, porém, dançante.
Encerrando este terceiro bloco, vem a balada “Masterpiece”, que levou alguns
dos presentes às lágrimas, mas que acabou esfriando um pouco o ritmo do show
perigosamente. E este é o único momento do show em que Madonna dá o braço a
torcer e fica sentada, rodeada de sua trupe, para cantar.
Logo
em seguida à “Masterpiece”, vem a provocante e sexy “Justify My Love” como
interlúdio, que leva ao palco o vídeo de uma mulher totalmente sensual e bem
resolvida com sua feminilidade. Mal se acaba o último acorde do vídeo
interlúdio, flashes invadem o palco de todas as direções, enquanto as batidas
mais do que conhecidas de “Vogue” levam o público a delírio, recuperando o
ritmo antes diminuído no fim do último bloco –– mas em se tratando da Rainha do
Pop, não era de se espantar que esta manobra tática um tanto estranha (diminuir
o ritmo do show durante Masterpiece) fosse levar a algum lugar.
Durante a apresentação de Vogue
Este
é, sem sombra de dúvidas, o bloco mais Madonna do show: nele se vê uma artista
cantando sãs antigas músicas somente (o que não acontece nos demais blocos do
show, que têm ênfase no novo álbum), mas de uma forma totalmente nova. “Vogue”
é, como sempre, dançante, empolgante, contagiante, eletrizante, e todos os
outros adjetivos positivos com sentido parecido com os já usados. Retornando às
suas origens, Madonna optou por um sutiã cônico a lá Blond Ambition Tour, sobre
uma roupa sóbria que é lentamente despida, música após música. Depois de
“Vogue” vem uma versão estilo cabaret francês de “Candy Shop”, para espanto dos
fãs que, como eu, não viam esta música com bons olhos no setlist. Aqui Madonna
dança rodeada de bailarinos que lenta e quase imperceptivelmente vão saindo de
cena, dando lugar as enormes espelhos que contracenarão com a canora durante a
performance de “Human Nature”, que termina com o tão falado strip-tease, com o
qual Madonna exibe um corpo de dar inveja a muitas e despertar os desejos de
todos. É durante “Human Nature” que pude observar uma coisa bastante peculiar:
em um dado momento da música, jogam uma bengala à cantora, que, depois de andar
um pouco apoiada nela, joga-a para longe –– estaria Madonna atirando para longe
o “tabu” da idade? Dando-nos a mensagem de que, apesar da idade, ela não é
velha coisa nenhuma? Provavelmente sim. e o bloco não poderia terminar de forma
mais magnífica quanto esta: seminua, usando apenas uma ousadíssima lingerie, Madonna
recolhe dinheiro do palco, no qual se arrasta, e canta “Like a Virgin” sobre o
piano, mostrando uma elasticidade ímpar ao levantar a perna e mantê-la assim
por algum tempo. E termina-se o bloco com uma artista mais uma vez ovacionada
pela multidão.
O
último bloco do show começa com um vídeo interlúdio de “Nobody Knows Me”, que
causou polêmica na França ao mostrar Marine Le Pen com uma suástica na testa. Mas,
polêmicas à parte, esta é a parte mais surpreendente do espetáculo. Depois do
interlúdio com “Nobody Knows Me”, com direito a bailarinos fazendo acrobacias
na corda bamba, entra no palco uma Madonna totalmente dissonante das demais que
passaram no palco durante o show –– e isso é, sem dúvida, uma coisa boa.
Vestida num figurino que remete às armaduras medievais, ela canta “Im
Addicted”, cuja coreografia simula golpes de Kung Fu, a Rainha do Pop distribui
golpes para todos os lados acompanhada de seus bailarinos, enquanto é levantada
pela mesma plataforma usada em “I Dont Give A”. Mas que não se enganem os fãs
cuja atenção é voltada somente para o agora: este mesmo estilo de coreografia,
que se mistura com elementos das artes marciais, já fora usado em 2001 na
música “Frozen” durante a ‘Drowned World Tour’, porém, desta vez a coreografia
fui muito mais bem feita e melhor trabalhada. Na sequência desta música, vêm um
medley que, num primeiro momento, me causou estranheza: tratam-se das músicas
“Im A Sinner” e “Cyberraga”. Assim que soube que “Cyberraga” estaria no
repertório, pensei que, realmente, Madonna havia enlouquecido –– como assim,
colocar uma música em sânscrito, um idioma muito pouco conhecido, numa turnê?
Só que, mais uma vez, a Rainha me surpreendeu, fazendo deste o bloco mais
surpreendente do show, fechando com chave de ouro a noite. Mas, vamo-nos aos
detalhes: cercada por seus bailarinos que saltam de um ‘ônibus’ para o outro,
Madonna nos leva a um passeio pela Índia durante “Im A Sinner” enquanto toca
sua guitarra, e já explico: durante a música, há projeções no telão que mostram
ruas da Índia, e os ônibus nos quais os bailarinos fazem acrobacias, são
formados graças à plataformas com telões de LED que se erguem no meio do palco.
Logo depois de fazer a plateia toda se confessar pecadora e dizer que “adora o
mau caminho”, Madonna, acompanhada mais uma vez pelo trio Kalakan, deixa de
lado sua guitarra e entoa o mantra “Cyberraga” antes de deixar no palco apenas
o Kalakan, que além de fechar o mantra, dá início ao clássico “Like a Prayer”,
levando todos na audiência ao delírio. Num piscar de olhos, o palco enche-se de
um coral que, junto com o Kalakan, dará um ar ainda mais “espiritualizado” ao
hit. Música terminada, sinos badalam encerrando a “missa” que fora aberta um
pouco antes da primeira música do show, “Girl Gone Wild”.
Encerrada
a “missa”, ouve-se ecoar os primeiros versos de “Celebration”, que fará do
encerramento do show uma verdadeira festa. Esta foi a melhor escolha para um
encerramento de um show Pop: nele Madonna esbanja sorrisos, canta, dança e
pula, convidando a todos ali, no palco ou fora dele, a uma verdadeira pista de
dança ao ar livre. Novamente Rocco aparece no palco e dá uma de DJ ao lado da
mãe, que, depois de quase duas horas de show, despede-se de todos com um
“Obrigado” que encerra de vez o show, que vai além de uma abertura grandiosa
como a da “Confessions Tour”, em 2006, vai além da música e da teatralidade,
atingindo em cheio a celebração à música, à dança e à vida.
Essa com toda a certeza é uma das maiores,mais bonitas e melhores turnês da Rainha do Pop Madonna além do público enorme,a grande quantia faturada em cerca de mais de 305 milhões de reais ela faturou três prêmios na Billboard ganhando de todas as outras cantorinhas de Pop.Rainha do Pop Madonna <3
ResponderExcluir