A primeira coisa a ser feita, é separar dois conceitos: o
conceito de Reprodução Sexuada, ou
seja, a reprodução através da troca de material genético; e o conceito de Sexos Separados. A maioria dos seres
vivos existentes hoje realiza reprodução sexuada, e ainda que muitos realizem
reprodução assexuada, quando houver a opção de fazer reprodução sexuada, os
seres vivos tendem a preferi-la. O mais importante, a saber, sobre a reprodução
sexuada, é que ela gera a variabilidade de genes. E a variabilidade genética é
importante porque, em uma população onde todos os seres são iguais, ou têm o
mesmo material genético, se houver alguma doença, há uma grande chance de que
toda essa população morra de uma única vez. A variabilidade genética existe
para que, quando ocorra alguma mudança brusca no ambiente (clima, relevo, etc),
ou quando haja algum predador ou patologia que afete determinada população,
isso não mate ela toda.
Porém, a grande maioria dos seres vivos, não tem os sexos
separados. E isso é muito óbvio porque a grande maioria dos seres vivos
existentes atualmente é unicelular (bactérias, fungos, protozoários, etc), e
não tem como se ter sexos separados em indivíduos com uma única célula. E mesmo
em indivíduos pluricelulares, como as plantas, por exemplo, não se encontram
sexos separados. Isto é, o mesmo indivíduo tem os órgãos sexuais femininos e
masculinos dentro de si. São pouquíssimas as espécies de plantas em que se
encontram indivíduos de um único sexo. As esponjas, que são os animais com o
maior número de características mais primitivas hoje, têm algumas poucas
espécies que possuem os sexos separados, ou seja, a grande maioria das esponjas
é hermafrodita. O máximo que os indivíduos hermafroditos fazem, é produzir
gametas (óvulo e espermatozoide) em períodos diferentes na vida. Para ilustrar,
durante seis meses, o indivíduo produz gametas femininos (óvulos), e durante
seis meses, produz gametas masculinos (espermatozoides).
Um grupo de indivíduos que tenha os sexos separados é chamado de
dioico –– a maioria dos insetos tem os sexos separados, algumas famílias de
moluscos também, algumas têm e outras não, os anelídeos marinhos (chamados
também de poliquetas) são quase todos dioicos, os anelídeos terrestres (as
minhocas e sanguessugas) são quase todos hermafroditas, a minhoca por exemplo,
tem o hermafroditismo total, ou seja, em toda sua vida irá produzir tanto
gametas masculinos, quanto femininos, já as sanguessugas são mais parecidas com
as esponjas, elas “mudam de sexo” durante a vida. Ou seja, a separação entre os
sexos aconteceu em vários períodos durante a história da vida e, lógico está,
isso tem uma função. E isso pode ter acontecido por uma série de motivos:
talvez por ser mais econômico energeticamente, pode ser uma questão de
especializar os indivíduos a produzirem apenas um tipo de gameta, ou talvez
tenha acontecido simplesmente por conta de uma limitação genética –– uma
espécie alcançou um determinado grau de arranjo genético e não havia meios de
manter os dois sexos em um mesmo indivíduo ––, talvez essa separação seja uma
maneira de aperfeiçoar a reprodução sexuada, tornando-a mais eficiente.
Geralmente as espécies dioicas possuem alguma diferença genética entre os
indivíduos machos e fêmeas; no caso do ser humano, essa diferença é
cromossômica: os cromossomos sexuais masculinos e femininos são diferentes
entre si. Já nas famílias dos himenópteros (abelhas, formigas, vespas, etc),
não existem cromossomos sexuais específicos, nesses casos, o macho tem a metade
do material genético da fêmea, ou seja: se tiver metade do material genético
vira macho, se tiver o dobro, vira fêmea. Há ainda outros casos em que os
cromossomos sexuais existem, mas são iguais tanto para machos quanto para
fêmeas, o que varia os sexos é a quantidade do material genético (se o número
cromossômico for maior é fêmea, se for menor é macho).
Os peixes e anfíbios são os vertebrados com fecundação externa,
ou seja, não existe penetração sexual: o macho solta os espermatozoides na água
e a fêmea solta os óvulos na água, ocorrendo assim a fecundação externa. Isso
quer dizer que peixes e anfíbios não possuem órgão sexuais externos. E existem
ainda algumas espécies de peixes que conseguem mudar de sexo durante a vida.
Isso pode acontecer, por exemplo, se o equilíbrio sexual de uma população
estiver desfavorável –– se houverem mais machos do que fêmeas e vice-versa:
tanto as fêmeas podem se “transformar” em macho quanto os machos em fêmeas,
provocando assim o equilíbrio sexual. Mas a maioria desses peixes tem
exatamente o mesmo mecanismo que as esponjas e sanguessugas: eles mudam de sexo
em períodos determinados da vida. E isso acontece exatamente pelo fato de que
não existem genitálias externas em peixes –– se houvesse a genitália externa
essa troca de sexo não seria possível.
Indo agora às espécies amnióticas (que possuem “ovos de casca
dura”, como os répteis e aves), que são aquelas que vivem a maior parte do
tempo, ou toda a vida, em terra seca. Por viverem em terra seca, os indivíduos
amnióticos não poderiam realizar a fecundação externa, pois o óvulo precisa de
água para sobreviver, e a única maneira de que o óvulo se mantenha úmido é
dentro do corpo da mãe; então o gameta masculino tem chegar dentro do corpo da
mãe. Isso requer o aparecimento de genitália externa, que irá introduzir o
gameta no organismo da fêmea. Esta é uma solução muito elegante, porém, ela
impõe limites: com a genitália externa, a reversão de sexo durante a vida fica
praticamente impossível de acontecer; mas, apesar da mudança de sexo física ser
quase impossível, a mudança comportamental não é impossível de acontecer.
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