quarta-feira, 17 de abril de 2013

Video da Semana: Afinal, quem tem cacife para falar na Internet?






Dá uma olhadinha no meu vídeo no link

No meu primeiro vídeo no Youtube eu respondi a alguns questionamentos feitos pela Tatiana Feltrin (a guru dos vlogs literários) em um de seus vídeos, as perguntas foram:

01.  Quem ou o que determina quem pode falar de Literatura?

02.  Pessoas que não conhecem a Teoria Literária podem falar sobre Literatura?

03.  Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso faz dela mais apta a falar deste autor e de sua obra do que um leitor iniciante?

E vamos começar a respondê-las:

1ª Pergunta: Quem ou o que determina quem pode falar de Literatura?

Estamos na internet, a grande libertadora, capaz de trazer à tona declarações, revelações e opiniões das mais variadas vindas de todos os públicos. Tal papel atribuído à dita internet traz consigo pontos positivos e negativos como a maioria das coisas por ai. Entre as coisas negativas está o crescente número de pessoas que acabam ofendendo outras de forma direta (leia-se Ad Hominen), fazendo com que o fenômeno do bulling virtual cresça mais e com cada vez mais força a cada dia. Além disso, não podemos nos esquecer das várias militâncias utópicas que surgem a cada dia – e com mais força do que o próprio bulling virtual. Tais militâncias não são completamente ruins, mas acabam gerando intrigas e desuniam no mundo virtual e no mundo real. Além do que, tais militâncias são, como eu mesmo as classifiquei, utópicas, vazias e sem sentido real: são “modinha” em sua maioria. Em contrapartida, a internet trouxe vários benefícios aos internautas como, por exemplo, a capacidade de se expressar sem medo de maiores represálias – com o advento do mundo virtual, expor o que se pensa ficou muito mais fácil em um mundo que estava cada vez mais insuportavelmente incisivo. Voltemos às militâncias, mas classifiquemo-las neste momento como algo real, bem estruturado: a capacidade de entrar em contato com um variado número de pessoas a cada dia trouxe ao público, principalmente ao público jovem, a coragem de se “libertar das amarras” impostas pelos pais, amigos, familiares e pela própria sociedade. Há alguns anos, o simples fato de um jovem se declarar abertamente ateu, por exemplo, tinha como resposta a exclusão do grupo familiar e social no qual o jovem estava inserido. Páginas como a ATEA e seus derivados dão forças a jovens para se expressarem sem medo da solidão, dando-lhe a certeza de que há mais pessoas que pensam de maneira semelhante espalhadas por ai.

Toda esta liberdade proporcionada pelo mundo virtual instiga nas pessoas a vontade de se expressar, seja sobre qual assunto for e quem determina quem pode, ou não, falar sobre qualquer assunto na internet (como em qualquer outro lugar) é a própria pessoa. Isso acontece principalmente por conta da informalidade encontrada nos sites da internet, informalidade essa que tende a aumentar ainda mais quando o assunto é vídeo para o Youtube. Isso contribui para que pessoas comuns, sem qualquer especialidade, simplesmente ligue a câmera e dê a sua opinião, ou escreva sobre ela. Porém, é preciso saber divisar os limites entre liberdade de expressão e meios de ofender as pessoas, mas isso não depende nem da própria internet ou mesmo do grau de escolaridade do internauta, mas de sua própria consciência.

2ª Pergunta: Pessoas que não conhecem a Teoria Literária podem falar sobre Literatura?

Confesso que, se não fosse uma pergunta claramente retórica, eu encararia esta pergunta como, no mínimo, uma pergunta tola, fútil, e sem propósitos bem delineados. E já digo o por que: imagine que você está numa mesa de bar conversando com seus amigos sobre futebol, quando alguém lhe diz que apenas os técnicos ou os jogadores podem falar sobre o tema. Ou então você está numa reunião informal com suas amigas falando sobre moda (ou qualquer outro assunto que as mulheres falam, desculpe se isso parece machismo de minha parte) quando uma de suas companheiras de papo solta a seguinte pérola: “Não somos capacitadas para falar sobre tal assunto, apenas os estilistas de renome ou as modelos podem falar sobre o que está in e o que está out”. O mesmo vale para qualquer assunto: muitas vezes as melhores opiniões vêm exatamente das pessoas sem qualquer embasamento teórico sobre assunto X ou assunto Y; o comentário vem mais fluido, mais límpido e mais sincero, digamos assim, e não infestado de formalismo, seguindo a linha de pensamento de tal e tal pensador ou estudioso.

O mal é a prepotência do leitor: não se pode falar sobre o estilo de Machado de Assis se você não for um estudioso; ou do fluxo de consciência de Clarice Lispector e José Saramago, a menos que você tenha lido todos os ensaios críticos sobre os dois; não se pode gostar de Dostoievski a menos que se saiba da trajetória do povo russo no século XIX; é proibido entender Virginia Woolf a menos que você tenha graduação, mestrado, doutorado e PhD em Literatura Inglesa; e por ai vai...

A vida seria muito entediante se todos só falassem daquilo que sabem e se só pudesse opinar sobre determinados assuntos que entendesse da teoria. Seria demasiado estafante psicológica e socialmente conviver isolado do resto do mundo.

3ª Pergunta: Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso faz dela mais apta a falar deste autor e de sua obra do que um leitor iniciante?

Pergunta difícil esta, nos faz pensar. Me fez pensar nas pessoas que eu julguei por não gostarem de Clarice ou de Fernando Pessoa pelo simples fato de que elas não conheciam a obra inteira dos mesmos. Mas isso foi num passado remoto da minha vida que, como todos os passados até hoje, ficou para trás. E a esta pergunta fica o meu “depende”. Vamos falar aqui sobre as influências que levaram Clarice a escrever A Cidade Sitiada, ou vamos falar sobre uma das frases dela que viram soltas por ai? Vamos falar das diferenças existentes entre os vários heterônimos de Pessoa, ou vamos falar de uma poesia que leram num jornal de colégio? Tudo depende quando o assunto é gostar, falar sobre, entender, etc. Com certeza estou mais apto a falar da obra de Clarice em sua totalidade do que uma pessoa que só viu uma frase dela (que provavelmente nem é dela mesmo) no Facebook, mas isso não quer dizer que eu possa inferir sobre o que a pessoa achou daquela determinada frase. O que eu quero dizer com isso é: quando se trata do que a pessoa sente com relação a uma obra (seja ela uma frase com origens mal definidas, um poema mal atribuído ou um texto – romance, conto, novela – lido com o mínimo de atenção) não é preciso saber quando e em quais circunstâncias o autor nasceu, viveu e morreu. Agora, quando a pessoa vai expor o que ela sabe sobre a obra do autor, quanto mais bagagem essa pessoa tiver, melhores serão seus argumentos, sua construção de ideias e suas conclusões sobre tal autor. Por isso não vejo outra maneira de responder a esta pergunta a não ser com meu “depende”, deixando-me em cima do muro. Mas se me posicionasse perderia meus argumentos prós e contras o tema proposto. E se me permito ser imparcial, tornando-me a Suíça deste assunto, permita-se também: viva a imparcialidade!

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