segunda-feira, 1 de abril de 2013

1° de Abril

 
ATENÇÃO:
O texto que se segue pode ser altamente ofensivo para alguns,
leia-o por sua própria conta e risco.
 
 



Senhor, eu virei o meu rosto para longe de Você. Tenho medo de ter cometido um grande erro, e tenho um pedido de desculpas a fazer. Eu estava fraco demais para sentir e conhecer o Teu poder, Senhor; eu estive cego demais para ver a luz, e fechei os olhos para a Tua verdade. Por favor, perdoe-me por todas as coisas que eu havia dito, não foi a minha intenção magoá-Lo. Mas agora eu tive a verdade revelada para mim; como Saulo na estrada de Damasco, eu tive uma revelação. E agora, eu me sinto como um cínico: como pude ter sido tão estúpido? Está tudo claro para mim agora, Pai, a Tua grandeza está evidente para mim hoje.

Eu não sabia como conhecê-Lo, mas agora eu sei. Eu não sabia que era tão simples, Pai. Não sabia que era apenas rezar algumas palavras – rezar em alguma igreja particular para um deus em particular. E obrigado por me fazer perceber como isso faz todo o sentido. Obrigado, Deus, por ter-me curado de minha cegueira espiritual, e obrigado, pessoas, por terem me apresentado a este oftalmologista omnipotente.

Tenho de confessar que antes eu fui cético, mas agora, diante de Ti, só posso dizer que contemplo a Tua face, como se estivesse eternamente no paraíso. E obrigado, Senhor, por ter-me acolhido neste seu paraíso, onde posso ficar sossegado enquanto milhares de pessoas sofrem no fogo por não terem Te agradado. Obrigado, Senhor, por eu não fazer parte das pessoas que, apesar de sempre rezarem para Ti, não têm suas preces atendidas. E por isso eu só tenho a dizer: “obrigado, Senhor”.

Eu só tenho a agradecer por te ver em todas as coisas, por te ver no céu e no mar, no riso e nas lágrimas, nas doenças, nas pestes, na fome das milhares de pessoas que clamam a Ti sem resposta. E obrigado por eu não fazer parte destes grupos que só têm a Sua indiferença: obrigado por eu não pertencer às massas sedentas e famintas, obrigado por tamanha desigualdade entre as classes de minha sociedade, obrigado por ter enviado Seu filho há dois mil anos para perdoar os meus pecados, e obrigado por ter mudado de ideia e tê-lo feito ressuscitar. Obrigado por ser o Deus certo, obrigado por eu ter escolhido o deus mais correto dentre os mais de quinhentos outros deuses neste Buffet celestial. Obrigado por ter me dado uma casa, um carro do ano, me ajudado a entrar na universidade e tudo de bom que me acontece, obrigado por não me dar capacidade de alcançar por conta própria os meus objetivos, por me dar tudo de mãos beijadas, por ter dado a mim tudo o que eu tenho sem o menor esforço de minha parte.

Agora eu sei que só preciso rezar para uma versão de um deus particular. Entendo que minha perspectiva antes havia sido muito limitada. Está tudo claro agora, tudo tão claro! Está claro que Deus é tão misericordioso que pode dar a uma pessoa de classe média carros do ano e casas na praia, enquanto deixa os africanos morrer de fome e de AIDS ou outras pestilências, ou então, enquanto os asiáticos têm que reconstruir anualmente suas casas graças às diversas inundações que por lá existem. Obrigado, Deus, por me amar tanto, a ponto de me colocar em um pedestal feito de milhares de crianças mortas das mais terríveis formas. Obrigado por olhar todo o sofrimento alheio e não mover uma palha para ajudar, enquanto dá a alguns todo o tipo de luxo e conforto. Obrigado por ajudar tanto os jogadores de futebol a fazerem gols e vencerem os campeonatos, enquanto não ajuda os pobres e necessitados. Obrigado por sua infinita justiça!

Eu te agradeço Senhor, por não ser apenas um instrumento de controle, criado para incutir medo nos mais fragilizados. Obrigado por não fazer parte de um delírio em massa, de uma esquizofrenia mundial. Obrigado por ser tão bom que permite que milhares de pessoas sofram. Obrigado por me amar tanto a ponto de me mandar ao inferno pelo simples fato de usufruir do livre-arbítrio que você mesmo me deu. Obrigado, meu Deus, por eu não ser uma das mulheres e crianças que diariamente são violentadas e mortas.

Obrigado por ter milagrosamente me salvo a vida quando nasci: obrigado por terem me levado ao Seu santo templo e não a um hospital cheio de recursos que me amparassem. Oh, sim, obrigado por ter sido você, e não os médicos que tanto lutaram e estudaram para isso, a me salvar a vida. Obrigado por ter atendido às orações dos meus parentes, e obrigado por não atender as orações dos aleijados, doentes e miseráveis que lho clamam todos os dias, pois eu sei que se as atendessem não teria tempo para as minhas futilidades diárias.

Agora eu entendo como a oração pode funcionar: uma oração particular em uma igreja em particular em um estilo particular com um material especial e um livro específico para problemas específicos que não são particularmente difíceis, e para as pessoas particulares, de preferência brancas, para desejos ínfimos e particulares. Uma oração especial em um local particular, a uma versão específica de um deus particular.

E por tudo isto, Deus, eu tenho a agradecer: por me amar, apesar de tudo, por ser tão misericordioso para comigo e por não me ter feito nascer em outra cultura, que cultua outro deus que me condena ao inferno. Oh, Deus, obrigado por ter me moldado em barro e por ter feito as mulheres que mais amo das costelas de um homem à seis mil anos atrás, e obrigado por eu não ser uma dessas mulheres, que são os seres mais desprezíveis da face da Terra, pois foram por elas que o homem caiu em desgraça. Por tudo isso e por muitas outras coisas, eu tenho apenas a agradecer e a louvar-te sempre, sempre, sempre a partir de hoje.

Amém, amém! Aleluia!



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