sexta-feira, 10 de maio de 2013

As Muitas Pessoas de Fernando



Hoje me deu vontade de falar (ou, neste caso, escrever) sobre Fernando Pessoa, um dos mais célebres poetas de todos os tempos – talvez o maior de todos. A vontade de falar no Fernando veio-me depois que encontrei um livro de poesias de sua autoria que ganhei de uma professora há alguns anos. Na época já amava Pessoa, mas depois de ter ganhado o tal livro, esta foi uma paixão que aumento gradativa e diariamente: mas é muito penoso gostar de Fernando Pessoa quando não se tem um método estabelecido para lê-lo – nunca sei se começo a ler seus poemas de maneira avulsa, ou se pego firme e sigo em frente: devoro-os, amo-os, vivo-os intensamente enquanto mergulho nas páginas já amareladas dos meus livros do lisboeta. E nisso fico esquecido de mim e do mundo, o que é um perigo para ambos: se me esqueço de mim, não há quem ler Fernando, e se me esqueço do mundo, não me encontro em mim mesmo.

O fato é que percebi que não é lá muito grande o número de pessoas que gosta, ou mesmo conhece, o senhor Fernando António Nogueira Pessoa, lisboeta que se dividiu em dois, em dez, em cem: Fernando Pessoa foi ele próprio, mas foi Ricardo Reis, e encantou Saramago; foi Alberto Caeiro, o místico e mistificado; foi Álvaro de Campos, o revoltado; o quase invisível Bernardo Soares. Fernando foi tantas pessoas numa só Pessoa, que torna-se indefinível, atual, futurístico, gênio e louco – quando amado, desperta paixões que incendeiam, e quando odiado, provoca a raiva colérica. Quantas pessoas numa só? Não sabemos e nunca saberemos: talvez Fernando fosse um pouco de cada um de nós, ou quem sabe nós é quem somos um pouco de Fernando, seus eternos heterônimos, seus iguais e diferentes: somos todos Pessoas, e Fernando é todos nós.
 
CRONOLOGIA:

1888: Fernando António Nogueira Pessoa nasce, a 13 de Junho. É batizado em Julho.

1893: Em Janeiro, nasce seu irmão Jorge. A 13 de Julho, o pai morre, de tuberculose. A família é obrigada a leiloar parte dos bens.

1894: O irmão de Fernando, Jorge, morre em Janeiro. Pessoa cria o seu primeiro heterônimo. O futuro padrasto, João Miguel Rosa, é nomeado cônsul interino em Durban, na África do Sul.

1895: Em Julho, Fernando escreve o seu primeiro poema e João Miguel Rosa parte para Durban. Em Dezembro, João Miguel Rosa casa-se com a mãe de Fernando, por procuração.

1896: Em 7 de Janeiro, é concedido o passaporte à mãe, e a família parte para Durban. A 27 de Novembro, nasce Henriqueta Madalena, irmã do poeta.

1897: Fernando faz o curso primário e a primeira comunhão em West Street.

1898: Nasce, a 22 de Outubro, sua segunda irmã, Madalena Henriqueta.

1899: Ingressa na Durban High School em Abril. Cria o pseudónimo Alexander Search.

1900: Em Janeiro, nasce o terceiro filho do casal, Luís Miguel. Em Junho, Pessoa passa para a Form III e é premiado em francês.

1901: Em Junho, é aprovado no exame da Cape School High Examination. Madalena Henriqueta falece e Fernando começa a escrever as primeiras poesias em inglês. Em Agosto, parte com a família para uma visita a Portugal.

1902: Em Janeiro, nasce, em Lisboa, seu irmão João Maria. Fernando vai à ilha Terceira em Maio. Em Junho, a família retorna a Durban. Em Setembro, Fernando volta sozinho para Durban.

1903: Submete-se ao exame de admissão à Universidade do Cabo, tirando a melhor nota no ensaio em inglês e ganhando assim o Prémio Rainha Vitória.

1904: Em Agosto, nasce sua irmã Maria Clara e em Dezembro termina os estudos na África do Sul.

1905: Parte definitivamente para Lisboa, onde passa a viver com a avó Dionísia. Continua a escrever poemas em inglês.

1906: Matricula-se, em Outubro, no Curso Superior de Letras. A mãe e o padrasto retornam a Lisboa e Pessoa volta a morar com eles. Falece, em Lisboa, a sua irmã Maria Clara.

1907: A família retorna uma vez mais a Durban. Pessoa passa a morar com a avó. Desiste do Curso Superior de Letras. Em Agosto, a avó morre. Durante um curto período, Pessoa estabelece uma tipografia.

1908: Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em escritórios comerciais.

1910: Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.

1912: Publica na revista Águia o seu primeiro artigo de crítica literária. Idealiza Ricardo Reis.

1913: Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.

1914: Cria os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também o Livro do Desassossego.

1915: Sai em Março o primeiro número de Orpheu. Pessoa "mata" Alberto Caeiro.

1916: O seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.

1918: Publica poemas em inglês, resenhados com destaque no "Times".

1920: Conhece Ofélia Queiroz. Sua mãe e seus irmãos voltam para Portugal. Em Outubro, atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em internar-se numa casa de saúde. Rompe com Ofélia.

1921: Funda a editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.

1924: Aparece a revista "Atena", dirigida por Fernando Pessoa e Ruy Vaz.

1925: A 17 de Março, morre, em Lisboa, a mãe do poeta.

1926: Dirige com seu cunhado a "Revista de Comércio e Contabilidade". Requer patente de uma invenção sua.

1927: Passa a colaborar com a revista Presença.

1929: Volta a relacionar-se com Ofélia.

1931: Rompe novamente com Ofélia.

1934: Publica Mensagem.

1935: Em 29 de Novembro, é internado com o diagnóstico de cólica hepática. Morre no dia 30 do mesmo mês.

 

 

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