quinta-feira, 7 de março de 2013

MARCOS FELICIANO - PRESIDENTE DA CDH

 
 
E o pastor Marcos Feliciano foi eleito nesta manhã de quinta-feira, 07 de março de 2013, como presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) [1]. Temos, acima de tudo, que lembrar de que a Comissão “pertence” ao PSC, que é o partido do Feliciano. E temos que nos lembrar de que o único indicado ao cargo foi o próprio pastor Marcos Feliciano. Uma coisa que está sendo muito falada é que a Comunidade GLBTT (gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros) está criticando essa escolha, mas o que poucos sabem, é que algumas Comissões de Direitos Humanos internacionais também se opuseram a isso – oposição essa que, como já sabemos, não gerou frutos. E por que o GLBTT está se opondo a essa decisão? Isso está acontecendo porque o tal pastor, agora presidente da Comissão, faz parte de um grupo de ativistas contra os direitos civis para homossexuais, por conta disto, este grupo (GLBTT) vem criticando esta decisão acusando Feliciano de homofobia. A pressão foi tanta, que até mesmo alguns dos integrantes da Comissão deixaram-na como forma de protesto (não me pergunte nomes, porque não deram maiores informações no jornal, se quiser saber mais, procure no Google News).
Independente da minha opinião, uma coisa deve ficar clara quando estamos falando de nomeações de cargos “gerenciais” (não achei termo melhor) de órgãos que asseguram os Direitos Humanos: um indivíduo quando é nomeado diretor ou presidente de um órgão deste porte não pode ser uma pessoa ligada à grupos ativistas, normalmente, espera-se que o eleito tenha uma posição favorável com ambas as partes de um determinado conflito social relacionado aos Direitos Humanos. No caso do Brasil, o maior (ou um dos maiores) conflito gira em torno dos direitos civis dos homossexuais. Ainda na semana passada, no dia 01 de março, foi aprovada a norma que regulamenta o casamento civil de casais do mesmo sexo [2] –e isso é só um exemplo para mostrar como o assunto de maior tensão social da atualidade é com relação a uniões homoafetivas. Em um artigo publicado na Folha, o pastor Feliciano alegou que, pelo visto não há outros assuntos dos quais ele possa tratar enquanto presidente da Comissão. Eu concordo com ele em partes: realmente, há uma variedade de assuntos a serem tratados, mas isso não nega ou diminui a importância que o casamento civil entre homossexuais vem tomando atualmente, e como presidente da CDH ele se verá obrigado a lidar tanto em assuntos nos quais ele tem uma opinião neutra, quanto em assuntos nos quais ele se posiciona contra ou a favor. Em minha humilde opinião, não é viável ter um ativista no gerenciamento de questões pertinentes ao CDH. Se acaso fosse para ele presidir uma ONG, um projeto que não tivesse ligação com o governo, ou qualquer outra coisa que se posicione contra ou a favor dos homossexuais, tudo bem. Mas a partir do momento em que se trata de um cargo governamental, que tenha que lidar com todos esses interesses distintos, o menos indicado é eleger um ativista de um lado em detrimento do outro.
Fora isso, temos de nos lembrar de algumas das declarações que Feliciano deu no Twitter: segundo ele, os africanos descendem de um filho de Noé que foi amaldiçoado por ter mantido relações homossexuais com seu pai. Vejamos: a Bíblia é um livro vago, que carece de interpretações que variam de pessoa para pessoa, dependendo do contexto social, cultural e da época em que se vive. A passagem a qual Feliciano se referiu ao fazer o tal comentário está presente no livro de Gênesis capítulo 9 versículos 21-27. E, não satisfeito, o pastor ainda declarou que toda a pobreza, doença, AIDS, e todos os outros malefícios existentes no continente africano são consequência desta tal maldição narrada no livro de Gênesis. E para fechar com chave de ouro suas declarações, Feliciano liga esta maldição ao homossexualismo, propondo a hipótese de que esta poderia ter sido, provavelmente, a primeira relação homossexual de que se tem noticia. Ou seja, ele faz uma sutil ligação entre a miséria da África e o homossexualismo, sendo este a causa primária para o desenvolvimento daquela. Isso é, no mínimo, complicado. Segundo o artigo que serviu como “retratação”, Feliciano disse que não se referiu à raça negra, mas às pessoas da África; mas, convenhamos, a grande maioria da população do continente africano é negra.
Se formos investigar a fundo a história do continente, veremos que seus problemas se iniciaram com a divisão de seus territórios entre os países europeus antes da 1ª guerra. Com o advento da colonização da África e do tráfico negreiro, foi que se deu início ao que hoje é a África: graças às repartições arbitrárias dos territórios africanos, que não levaram em conta a organização tribal e política que já existia neste continente. Agora vejamos: em face disso tudo, dessa exploração que a África sofreu no passado, que gerou, além da miséria para o próprio continente, uma vitimização do próprio negro, este senhor Marcos Feliciano diz, em outras palavras, que tudo isso ocorreu graças à um gay que viveu há aproximadamente 5 mil anos atrás.
Um detalhe importantíssimo que devemos observar é que, apesar de eu mesmo me sentir tentado a me aproveitar dessas alegações, devemos lembrar que esta é a opinião dele, do próprio Feliciano, e não do Cristianismo em si.
Tanto as declarações sobre os africanos, quanto sobre os homossexuais (segundo ele, “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição” [3]) acabam deixando uma interrogação no ar: seria ele capaz de gerir a CDH? Teria ele competência para tanto? Poderia ele ser responsável por gerenciar assuntos dos quais é totalmente contra, sem interferir neles com sua opinião? Ao contrário do que ele levantou em seu artigo [4], não se trata de perseguição religiosa, mas sim de isenção no tema. Tanto que, se não tivesse feito as tais declarações, não haveria tanta resistência à sua eleição.




[3] FONTE: Twitter pessoal do Pastor.

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