Sim, foi num sábado de
setembro – e foi num sábado tão frio que as árvores tremiam balançando folhas e
jogando flores sobre os carros na calçada. Naquele dia um deles, na verdade o
menor, comemorava anos e, por ausência de festejos ou de uma maior intimidade
entre os quatro, saíram para comer. E comeram tanto que dividiram entre os dois
moços, o menor dentre todos e o outro, a conta do que haviam comido e: e foram
embora assim – com o carro fazendo um barulho seco e duro: mas era uma
comemoração, pois a seu jeito cada qual comemora como quer o próprio
aniversário.
Mas, tão logo se
sentaram à mesa, olharam-se os quatro e, e isso – eles eram dois casais comendo
numa noite fria de setembro, e era um sábado e o restaurante estava quente e
abafado apesar de as árvores tremerem lá fora. Enquanto a comida não vinha,
esboços de um dia que havia passado surgiram daqui e dali: que o sol fora
quente, que o vento fora forte, que na última semana, que na próxima semana...,
mas as palavras foram sumindo com o tempo: e eram os quatro à mesa.
Constrangidos, fingindo uma intimidade que nunca havia existido entre eles, os
quatro comeram e sorriram enquanto a noite crescia fria e escura.
E os homens conversavam
com os homens sobre as mulheres, enquanto as mulheres conversavam com as
mulheres sobre os homens: mas a vida tem dessas coisas que são tão previsíveis
que só cabem no frio de uma noite de sábado no mês de setembro.
Numa última tentativa
de pertencerem uns aos outros, os quatro sentaram-se nos bancos quentes e
macios do carro e foram para casa; a casa era fria e limpa, as cortinas eram
brancas, o piso era branco, o teto era branco, as paredes eram brancas. E os
quatro conversaram na sala enquanto o vento assoviava para além da janela – o
carro esfriando aos poucos. Depois comeram mais, pois era aniversário de um
deles: o menor menino tornava-se o menor homem apesar de estar com o rosto
liso. E já cansados e sonolentos da presença uns dos outros, despediram-se no
frio e foi assim: todos trancados em seus quartos – pois o grande perigo de uma
vida só poderia acontecer numa noite fria de um sábado em setembro.
Mas apesar da
distância, eles eram felizes; e, apesar de serem felizes, eles amavam uns aos
outros com um amor fraternal de um irmão por outro – mas, sozinhos, os casais
amavam-se como homens e mulheres se amam quando ninguém os vê; pois eram,
querendo ou não, mulheres e homens que se amavam. E a noite seguiu fria para
cada um: dois dormiram rápido, exaustos que estavam de viver. O outro casal era
separado por cinco quadras de casas quadradas e coloridas: pois a vida é assim
às vezes. E a moça ouvia música debaixo das cobertas – e o moço, o que fizera
aniversário, estava acordado, escutando as festas ao redor. A moça torceu o
comutador e apagou a luz, ligou ao moço e: e eles eram imensamente felizes
naquele fim de sábado, pois, longe dali, um homem e uma mulher davam origem a
outra vida. E a moça dormiu tranquila, pois havia esquecido-se de que o rapaz –
o aniversariante – não conseguia dormir com barulho nas casas vizinhas: mas o
rapaz fez o café e, feliz como um cão com seu osso, lembrou-se de que havia
ainda o amor. Depois se lembrou de que o amor doía e apagou a luz sem
esperanças para o dia seguinte. As primeiras gotas da chuva silenciaram a
vizinhança: e aquele fora o seu feliz aniversário
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