A vida anda
passando rápido demais, e muitas vezes eu tenho a impressão de estar olhando
tudo da janela: as coisas acontecem sem que eu possa interferir nelas de
maneira nenhuma. E isso é tão estranho quanto saber que um dia nós nascemos e
um dia morreremos, e depois nós não vamos para lugar nenhum – neste dia vai ser
tudo lúcido e sem mistérios.
Mas quem sabe o
grande mistério de viver esteja no fato de que a própria vida é cheia de
mistérios tão grandes que ninguém mais se importa em solucionar. É como ver uma
rachadura na parede e sempre ficar empurrando para o amanhã – que nunca chega,
por falta de tempo – um concerto que se faz necessário; e então, num belo dia,
a parede toda vai a baixo e é preciso arrumar muito mais do que antes. Isso é
um dos mistérios da vida: por que não fazer agora?
Ultimamente ando procrastinando momentos de
extrema felicidade que antes eram cotidianos para mim – quando eu simplesmente
olhava minhas mãos e via exatamente isso: mãos que eram minhas. E minha
procrastinação estende-se a buscar soluções ao problema de sempre enxergar mais
do que minhas mãos, e enxergar canetas e papéis.
Quando eu acordo
no meio da noite, com a casa toda mergulhada no silêncio, tenho uma vontade
enorme de gritar bem alto: e ver se com isso eu me acordo – pois eu sei que
ando dormindo pouco, mas mantenho-me sempre em um estado de sonolência e
cansaço. Por exemplo, ando dormindo dentro do ônibus e – e isso: eu durmo no ônibus
entre uma e outra página dos livros que insisto em ler.
E quem sabe eu
durma hoje – ou não: a vida tem dessas coisas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário