Ganhei
um peixe azul e vermelho: e fiquei feliz em ter ganhado um peixe azul e
vermelho, ele é tão vasto quanto um dia e uma noite passando. Ele é pequeno,
suas barbatanas se alongam pelo corpo fino e frágil – como tudo o que é vivo –
e se perdem, finas e invisíveis, na água do aquário.
Eu
vejo o interior de um ser vivo que é: peixe. E o interior de um mundo tão vivo
quanto um peixe nadando me fascina e me assusta – a vida pulsa, pulsa, pulsa...
E eu olho pelo vidro do aquário, de perto e no escuro. Mas agora eu posso
cuidar do peixe onde quer que eu esteja: meus óculos me permitem olhar e ver a
angústia de ser um peixe preso – mas há coisas que fingimos não ver para
mantermo-nos felizes. Quando todos se vão, meu peixe fica parado e morto – pois
só vive enquanto pode ser olhado e admirado em sua profunda beleza. Pois os
peixes são tão belos que são capazes de morrer enquanto não são vistos. Meu peixe
é tão azul e tão feito por deus, que pode pular da água e mergulhar no céu e
boiar entre as nuvens e estrelas.
Quando
eu morri e abri os olhos – eu vi o peixe e ele me viu e eu estava no céu. E o
céu estava em mim, e eu estava tão feliz que haviam me dado um peixe azul e
vermelho que eu abri os olhos e isso – eu abri os olhos. Quando eu morri eu fiz
uma promessa a mim mesmo – que só morreria de novo quando o meu peixe puder
morrer comigo. Eu sei quando eu vou morrer – vai ser numa primavera tão vívida,
que os cravos explodirão em mil tons de vermelho – e meu peixe vai mover as
barbatanas e boiar no aquário quadrado.
Descobri
uma coisa terrivelmente boa para mim – o meu peixe é tão meu que até tem
insônia; e quando eu durmo eu olho-o e vejo um peixe de olhos abertos. E esta é
a vantagem de ser um peixe: manter-se sempre em vigília; e esta é a vantagem de
se ter insônia: é ver que um peixe está acordado durante toda a vida – como eu.
E ele é tão azul e vermelho, que não se pode tratá-lo de outro modo a não ser
este: o modo como se trata aquilo que se tem e que tem a vida para ser tratada.
E
assim eu me faço todas as noites olhando para um peixe tão azul e vermelho que
me faz vibrar de emoção e alegria – e a vida é boa porque eu tenho um peixe
para me fazer companhia durante minhas insônias; e com isso eu curo minha
tristeza que dura anos. E vive-se e morre-se. O peixe me faz bem porque é um
símbolo de reconciliação com as pessoas e com o mundo. Mas quem me deu o peixe
não se lembrou de que um dia ele irá morrer, e se esqueceu de que eu mesmo irei
morrer. Morre-se, mas por enquanto vive-se e tem-se um peixe azul e vermelho –
e isso não se pode esquecer. É preciso também aprender a perdoar para ser
perdoado. Amém, para todos nós.
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