Estive pensando, entre um ônibus
e outro, na solidão de deus. Deus. Quem é este senhor? Talvez colocar deus num
pedestal faça mal a todos: a nós e – principalmente – ao próprio. Tudo o que se
sabe deste senhor é praticamente nada, a não ser um amontoado de besteiras que
uns caras escreveram por ai. Fora isso: silêncio. Onde está deus? Como faz nas
horas de interminável solidão que deve sentir lá, no seu canto? A minha
pergunta – onde está deus? – que poderia sugerir algum tipo de ceticismo (que
de fato existe), é fruto de uma indignação tremendamente terrível que venho
sentindo. Percebo que começo a ter dó de deus.
Tudo, as maiores idiotices que as
pessoas fazem, acabam sendo creditadas a ele. Deve muito, o coitado, por isso
sumiu. Repito: onde está deus? E por que ele tem que ser o excluído? Por que
posso perguntar onde está qualquer coisa, mas não posso citar o nome de deus
que já pensam: não pode. Graças a deus eu não sou deus: deve ser um pé no saco
ficar o dia todo ouvindo as mesmas ladainhas, as mesmas besteiras, tudo igual
por séculos e séculos. Se eu fosse deus já teria me matado há muito tempo – mas
deus não; ele esperou que o matassem. Quem matou deus? Nós mesmos. Foi assim:
Um dia deus olhou para o ser
humano, pensou em mudar uma coisa aqui e outra ali e só deu mais [merda]
errado do que antes. Depois deus desceu à terra e veio saber como andava as
paradas lá pelo Oriente Médio, foi, deu uns roles por lá e depois foi embora. (Esperto
este deus: ficou mais de mil anos sem dar as caras, podia ter esperado mais
dois mil e ido quando os EUA invadiram tudo por lá. Não, enquanto o pau tava
comendo solto lá nas Arábias o senhor deus estava ajudando algum jogador de
futebol a fazer um gol – afinal, isso é muito mais importante do que qualquer
outra coisa). Tentou mais algumas vezes resolver as besteiras que fez, mas não
deu certo. Pensou então em ser amigo dos homens, mas sua imagem estava suja por
todo lado e deus ficou deprimido. Tão deprimido que morreu. Fim. Isso explica
muita coisa.
Não, não estou atacando deus. Já disse
que, ultimamente ando até com pena dele. O cara virou um tabu: uma coisa inalcançável,
solitária. Um monstro sagrado. Fico imaginando deus sozinho no céu, cercado de
nuvens e tal. Imagine que coisa de louco ficar séculos sozinho. É demais para
mim – foi demais para ele. Eu não matei deus: vocês, fiéis, mataram-no. Isolaram-no
do mundo. Vocês não amam deus, vocês têm medo dele. E isso foi a causa mortis do senhor deus. Por que ele se tornou algo inalcançável? Só por ser deus? Muita gente critica as divindades de outras culturas e nem dá por isso. Por que falar em religião é algo proibido a menos que se fale com um ar de fiel? Por que a religiosidade afeta tanto a mentalidade das pessoas, a ponto de não suportar a menor crítica?
Tiraram de deus o prazer de fazer
uma piada, de mexer com uma moça na rua, de coçar “aquilo”, de comer uma pizza
com os amigos – que amigos? Deus não tem amigos, tem só pessoas que fingem que
gostam dele para acabar em cima da carne seca. E sei que muitos de vocês vão
achar todas essas palavras um desrespeito com a imagem de deus, mas eu não
ligo. Sei até das palavras que vocês aí irão usar: “com deus não se brinca”. Pois
não brinquem, eu brinco com quem eu quiser e ninguém tem nada a ver com isso. Ponto
final.
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