Mais do que o tempo que
transcorri neste dia, o que me valeu foram os poucos minutos em que me pus a
observar o mundo ao meu redor. Explico: hoje acordei cedo demais, irritado, com
dores de cabeça, e preocupado com um assunto muito meu – tão meu que faço
segredo e não revelo nada além disso: que tive cá minhas preocupações. Me
desculpem, mas sou secreto por natureza, não me revelo nunca, e vocês não sabe
nada ao meu respeito.
Depois tomei banho e, para
esquecer as minhas preocupações, fui à livraria (uma livraria que não direi
qual é, porque não quero fazer propaganda gratuita – não mais) passar algumas
horas e deparo-me com uma moça: ruiva, alta, com alguma beleza por ser
decifrada. Esta moça – que não direi o nome para não feri-la em seu anonimato –
veio a mim me perguntando se eu não fazia vídeos para a internet. E eu, tímido,
respondi que sim; a isto ela respondeu com um aperto de mãos, (quase um abraço,
mas eu, por graça de deus – ou por burrice – fugi a tempo) e me disse que gosta
muito dos meus vídeos e que era uma honra (foi esta mesma a palavra que ela
usou) me conhecer pessoalmente e que estava muito feliz. E eu calado, sem saber
o que dizer; e como todas as vezes em que não sei o que dizer, não digo nada,
apenas ouvi até ela se calar e respondi com um “muito obrigado” e um “tchau, a
gente se vê”. Tudo ficou por isso. Veio então quem estava comigo na hora e
disse que eu estava ficando famoso sem nem mesmo perceber. Quem sabe?
Isso me fez feliz pelo tempo que
durou, mas depois caí em mim e percebi que não quero nada disso: não quero as
pessoas me cercando e querendo me abraçar. Eu quero mais é que elas vão à puta
que pariu. Não me abracem, eu não quero ser abraçado por ninguém. Você, moça
bonita que quis me abraçar, vá à puta que te pariu, meu bem; vai pra merda.
Depois me acalmei e pedi desculpas para a moça mentalmente – nem na nossa
imaginação devemos tratar tão mal alguém. Estava em paz comigo mesmo e com a
moça. Bem.
Depois vim a casa. Comi,
organizei meus livros, tomei café. Descansei, tomei outro banho, fui a uma
festa onde havia amendoins coloridos nas mesas – o que é muito bom, por sinal.
Tocaram músicas dos anos 80 e 90, dancei. Pararam de tocar, parei. Fiquei
sentado. Depois tocaram algumas outras coisas, dancei de novo. Tocaram funk – e
graças a deus estava saindo já. Às vezes deus é muito bom comigo (mas queria
que fosse bom com as pessoas que precisam, eu não preciso de tanta bondade
assim: acho que este senhor deus está cometendo algumas injustiças. Mas isso é
com ele: não é meu assunto, então eu como presunto).
Foi então que, entrando em casa,
eu vi a lua. Ou melhor, a lua me viu: a lua é o olho do universo nos olhando. E
as nuvens são concentrações de ar que não querem mais se transladar entre as
pessoas – e tudo isto é mentira. Disseram-me uma vez que a lua era feita de
queijo, mas não é (só não disse nada para não ofender quem me falava com tanta
certeza: a lua é de queijo. Não, é preciso não ofender às vezes). E lua me
olhou pela área da minha casa. Iluminou todo o terreno, e eu olhei a lua:
cheia, volumosa, brilhante. O terreno estava tão iluminado como se estivesse
para nascer o dia, mas eu sabia que ainda faltavam muitas horas para isso,
então fiquei apenas olhando para o céu sem estrelas.
E quando entrei em casa, vi que
havia outra mensagem deixada por alguém para mim no facebook: “você deveria
morrer por zombar de DEUS”. Sim: a vida tem dessas coisas. E tudo acaba bem,
ponto final.
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