Estive pensando, entre um ônibus
e outro, na solidão de deus. Deus. Quem é este senhor? Talvez colocar deus num
pedestal faça mal a todos: a nós e – principalmente – ao próprio. Tudo o que se
sabe deste senhor é praticamente nada, a não ser um amontoado de besteiras que
uns caras escreveram por ai. Fora isso: silêncio. Onde está deus? Como faz nas
horas de interminável solidão que deve sentir lá, no seu canto? A minha
pergunta – onde está deus? – que poderia sugerir algum tipo de ceticismo (que
de fato existe), é fruto de uma indignação tremendamente terrível que venho
sentindo. Percebo que começo a ter dó de deus.
terça-feira, 27 de agosto de 2013
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
UM DIA
Mais do que o tempo que
transcorri neste dia, o que me valeu foram os poucos minutos em que me pus a
observar o mundo ao meu redor. Explico: hoje acordei cedo demais, irritado, com
dores de cabeça, e preocupado com um assunto muito meu – tão meu que faço
segredo e não revelo nada além disso: que tive cá minhas preocupações. Me
desculpem, mas sou secreto por natureza, não me revelo nunca, e vocês não sabe
nada ao meu respeito.
Depois tomei banho e, para
esquecer as minhas preocupações, fui à livraria (uma livraria que não direi
qual é, porque não quero fazer propaganda gratuita – não mais) passar algumas
horas e deparo-me com uma moça: ruiva, alta, com alguma beleza por ser
decifrada. Esta moça – que não direi o nome para não feri-la em seu anonimato –
veio a mim me perguntando se eu não fazia vídeos para a internet. E eu, tímido,
respondi que sim; a isto ela respondeu com um aperto de mãos, (quase um abraço,
mas eu, por graça de deus – ou por burrice – fugi a tempo) e me disse que gosta
muito dos meus vídeos e que era uma honra (foi esta mesma a palavra que ela
usou) me conhecer pessoalmente e que estava muito feliz. E eu calado, sem saber
o que dizer; e como todas as vezes em que não sei o que dizer, não digo nada,
apenas ouvi até ela se calar e respondi com um “muito obrigado” e um “tchau, a
gente se vê”. Tudo ficou por isso. Veio então quem estava comigo na hora e
disse que eu estava ficando famoso sem nem mesmo perceber. Quem sabe?
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
Madonna 5.5 ( Tentativa de Homenagem)
16/10. Nesta data, todos os anos
pelas últimas três décadas uma legião de fãs, ou de simples admiradores – há lá
suas diferenças: um fã é, por excelência um admirador, mas nem todo admirador é
fã – se reúnem, ou não, mas isso não importa; estou me desviando do assunto. Vou
recomeçar: 16/10. E percebo que cometi, logo de saída, um erro gravíssimo: uma
data como a de hoje não deve ser escrita com numerais, deve ser escrita l e n t
a m e n t e, letra por letra.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Diabo: Você me Decepciona, Companheiro
Pois é, há pessoas que perdem a
fé porque se dizem “decepcionadas” com deus; seja por uma prece não atendida,
seja pela falta de evidências, ou por qualquer outro motivo. Cada um tem lá os
seus motivos para se sentir desapontado com o poderoso chefão, mas no quesito “deixar
a desejar” o diabo ganha disparado de seu antagonista. Ora, vejam bem: de um
lado temos deus – um ser todo poderoso, que comanda várias paradas e tal, com
vários seguidores no Twitter e vários likes no facebook. Ok, ok, alguns desses
seguidores (leia-se pastores famosos)não fazem jus à imagem de um cara
todo bondoso e essa besteira toda, já que, na hora de perseguir minorias eles
mandam deus à puta que... (não vou terminar essa blasfêmia) e vão caçar algumas
bruxas à lá Inquisição Espanhola. O fato é que, teoricamente, deus seria uma
coisa boa que o homem fez para se sentir protegido num mundo selvagem que nos
cerca. E para combater deus encontramos o diabo: um cara mala sem alça,
praticamente o saci pererê, malvado, má pessoa, mentiroso, recalcado (pipipi
olha o recalque!) e tudo o que mais odiamos em alguém.
Porém, que temos do diabo? Coitado
deste sujeito... Juro que tenho muita dó dele: injustiçado, xingado
injustamente, acusado pelos erros de pessoas sem maturidade para arcar com as consequências
dos próprios atos, com a má fama que tem... Digno de pena este senhor. Mas o
cúmulo do absurdo com ele, o que me deixa com mais dó ainda é a tal da possessão
demoníaca, onde o tinhoso faz o papel de palhaço – conseguindo superar em
palhaçadas o pastor, o fiel e até mesmo deus, que, por vezes, demonstra ser um
grande fanfarrão. E das possessões demoníacas (leia-se pegadinha do malandro)
as mais patéticas são as feitas em uma determinada igreja (leia-se Universal
do Reino de Deus): aparentemente o diabo não tem muito o que fazer na hora
em que o culto está comendo solto, visto que, é só ser chamado e ta-dá ei-lo no
palco pronto para revelar suas traquinagens. É uma coisa verdadeiramente
vergonhosa para um cara tão foda ser rebaixado desse jeito: parece até um
cachorrinho que obedece a tudo e a todos, sendo que qualquer fulano consegue
faze e acontecer em cima do satanás.
“Venha diabo, venha! Fiu-fiu-fiu”,
assobia o pastor agarrando os cabelos do possesso.
“Arghlaahaharevhs” berra o
satanás, que parece que está tendo diarreia.
“Como você se chama, demônio?”.
“Meu nome é Exu-não-sei-do-que
(na verdade uma tentativa de desrespeitar as religiões de matriz africana)”.
“Ah, mas não quero você não,
chama lá o seu superior”.
“Aguarde um momento, estamos
transferindo a ligação”, e sai o diabinho. Enquanto isso, como é uma empresa
multinacional esta da possessão, tocam a musiquinha do gás.
“AAAAAAAAAA,
rrrrrrrr.... Alô?”
“Quem está ai? É você satanás?”,
pergunta o pastor fazendo uma paródia da Bruxa do 71.
“Sim, sou eu mesmo, me chamo Lúcifer,
muahaha”, e toda aquela besteira.
Assisti esta semana um vídeo onde
um rapaz diz que o diabo só entra no corpo do pipoqueiro. E é verdade: isso é
que me deixa desapontado no cara. Com tantos chefes de Estado e pessoas
importantes pra possuir, quem o diabo vai azucrinar? O Obama? A Dilma? O
príncipe Charles? NÃO: ele vai atormentar o pipoqueiro, a Lúcia do salão, o Zé
da padaria. Sério mesmo, Lúcifer? Pensei que você fosse o fodão... que
decepção, meu deus!
E quando questionado sobre como arruína
a vida das pessoas, ele pode dizer que, segundo o rapaz do vídeo, “Faz o
pipoqueiro queimar a pipoca”. Sim, é uma triste realidade. Ou, quem sabe, faz o
padeiro queimar a rosca (o que é muito pior), ou a Lúcia do salão deixar muito
tempo a tinta no cabelo de alguém. Uau, como é mal este diabo!
Sério mesmo, tenho vergonha do
diabo, eu no lugar dele nem sairia de casa.
Mas sei por que isso acontece: o
diabo foi algo inventado na época em que o homem era ignorante o suficiente
para ser mal. Hoje, como somos mais bem resolvidos, não precisamos nem do diabo
e nem de deus para justificar nossas más ações. Isso faz com que, tanto um
quanto o outro, tenham sido rebaixados em seus cargos celestes – o que é uma
pena, visto que os dois são pais de família e tal. Assistir esses vídeos de
possessão me fazem me sentir mal pelo diabo, que não passa de um coitado, um
simples joguete, tal como deus, na mão desses caloteiros (leia-se pastores);
mas ao mesmo tempo eu me sinto bem comigo mesmo, já que às vezes penso que
solto umas blasfêmias aqui e ali, mas ao ver estes supostos emissários do
senhor deus brincando desta maneira, eu me sinto aliviado e penso que ainda há
esperanças para minha alma.
quinta-feira, 8 de agosto de 2013
O Amor de Deus (narrativa baseada na observação contínua do comportamento do rebanho do senhor)
Do alto de suas nuvens o senhor deus dormia o sono daqueles que,
exatamente por nada fazerem de útil, mais sentem o peso do cansaço. A barba já
grisalha caía-lhe nos peitos infestados doutros cabelos tão grisalhos estes
quanto aqueles; o rosto estava sereno como se sonhasse o sono de uns quantos
inocentes que ele nunca fora e nem nunca seria. Oxalá que, com a morte de tão
vil senhor, possa o Homem criar algo de melhor valia aos afazeres da Terra do
que este: velho sentado, dormitando sempre, inútil desde que pôs na Criação um
ponto final. Inclusive, cabe-nos a pergunta de por que esta criatura foi
meter-se a fazer mundos e animais e todo o resto sendo que, depois de terminado
o homem – diferente de si, mas igual ao deus – nada mais fez da vida. Trabalhasse
o senhor deus para pessoas com um maior grau de exigência e já se veria há
tempos na, como dizem umas quantas bocas por cá, rua da amargura. Sim, que nada
mais resta a este senhor do que aproveitar o gozo da eternidade até que se
corrompa com o fel da morte o último dos Homens. Não se engane o leitor, pois
se há na eternidade o Homem, deus há de ser eterno; da mesma maneira como deus
só ocupa tal posto nos afazeres universais porque o homem é tolo o suficiente
para não enxotá-lo de lá donde quer que esteja às vassouradas. Não, tão inútil
quanto deus em seus afazeres é o homem por não evitá-lo. Deus, por mais que
tenha sido invenção do Homem, não precisa de seu criador para nada, afora para
ser deus. Desta maneira, acaba-se o homem, e já não haverá mais deus, apenas o
universo que, satisfeito, terá se livrado das duas piores coisas que lhe podem
ter ocorrido criar: uma, a primeira delas, o Homem; a outra, tão ruim quanto a
outra, é o deus. Pelos vistos este universo em que vivemos não aprendeu com
seus primeiros erros e permitiu ao Homem dar vida a tão abjeto ser. Cada morte
do Homem é a morte de deus, e quando enfim não restarem mais Homens, não haverá
mais deus.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Indicações de Livros de C.L. ou Guia Prático Para Leitores Principiantes em Clarice ou Como ler Clarice Lispector
Sim, eu sei que é muita prepotência de minha parte fazer um “guia de
leitura” para os livros de Clarice. Mas já me explico, não me atirem pedras! Muitas
pessoas sabem que eu admiro muito a pessoa
de Clarice – a mulher – e a persona
de Clarice – a escritora. E por saberem disso, pessoas me perguntam sempre: “como
ler Clarice?”, “por qual livro começar?”, “por qual livro você começou?”, “você
pode me indicar um livro de Clarice?”, dentre tantas outras perguntas que me
fazem e sugestões que me pedem. Pois bem, este post vai especialmente para você
que quer dar seus primeiros passos pela literatura clariciana, servirá como
guia, um farol para te orientar na escuridão que ronda esta escritora tão
incompreendida. Tenho mais um aviso:
apesar de toda a fama que recebe nos últimos tempos, Clarice viveu
estigmatizada, sozinha dentro da literatura nacional, sem pares, sendo
considerada hermética e alienada. Por algum motivo as pessoas hoje em dia andam
citando qualquer frase escrita por adolescentes na TPM (o que me revolta muito,
como você deve ter percebido) e atribuem a autoria das ditas frases a Clarice. Mistérios
da meia-noite, como diria Zé Ramalho. Desculpem a pretensão, mas faço isso no
intuito de ajudá-los (as) a compreender melhor Clarice durante seus primeiros
passos. Mas, vamos lá então...
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
Anotações Sobre um Ser Solitário
O solitário é um ser que se basta. Que não se importa com o silêncio,
o escuro, é prático, costuma não expor intimidades e vontades. Portanto, nunca
saberemos se ele não se importa de estar sempre só, e nem saberemos se é feliz
em ser um solitário. Ser solitário pode ser vantajoso: em vez de uma garrafa,
uma taça; em vez de jantares, comida. Não sabemos em quem vota, quem apoia, nem
se conhece o desagravo. Sabemos que viaja sozinho, mas não temos certeza, já
que não há registros em álbuns ou redes sociais. O solitário não vai à Paris ou
Nova York, prefere Lituânia, Hong Kong, Croácia, Ucrânia. Se o seu desejo é não
se comunicar, busca lugares e idiomas desconhecidos.
Assinar:
Postagens (Atom)