Dá uma olhadinha no meu vídeo no link
No meu primeiro vídeo no Youtube
eu respondi a alguns questionamentos feitos pela Tatiana Feltrin (a guru dos
vlogs literários) em um de seus vídeos, as perguntas foram:
01. Quem
ou o que determina quem pode falar de Literatura?
02. Pessoas que não conhecem a Teoria Literária
podem falar sobre Literatura?
03. Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso
faz dela mais apta a falar deste autor e de sua obra do que um leitor
iniciante?
E vamos começar a respondê-las:
1ª
Pergunta: Quem ou o que determina quem pode falar de Literatura?
Estamos na internet, a grande
libertadora, capaz de trazer à tona declarações, revelações e opiniões das mais
variadas vindas de todos os públicos. Tal papel atribuído à dita internet traz
consigo pontos positivos e negativos como a maioria das coisas por ai. Entre as
coisas negativas está o crescente número de pessoas que acabam ofendendo outras
de forma direta (leia-se Ad Hominen),
fazendo com que o fenômeno do bulling virtual cresça mais e com cada vez mais
força a cada dia. Além disso, não podemos nos esquecer das várias militâncias
utópicas que surgem a cada dia – e com mais força do que o próprio bulling
virtual. Tais militâncias não são completamente ruins, mas acabam gerando
intrigas e desuniam no mundo virtual e no mundo real. Além do que, tais
militâncias são, como eu mesmo as classifiquei, utópicas, vazias e sem sentido
real: são “modinha” em sua maioria.
Em contrapartida, a internet trouxe vários benefícios aos internautas como, por
exemplo, a capacidade de se expressar sem medo de maiores represálias – com o
advento do mundo virtual, expor o que se pensa ficou muito mais fácil em um
mundo que estava cada vez mais insuportavelmente incisivo. Voltemos às
militâncias, mas classifiquemo-las neste momento como algo real, bem
estruturado: a capacidade de entrar em contato com um variado número de pessoas
a cada dia trouxe ao público, principalmente ao público jovem, a coragem de se
“libertar das amarras” impostas pelos pais, amigos, familiares e pela própria
sociedade. Há alguns anos, o simples fato de um jovem se declarar abertamente
ateu, por exemplo, tinha como resposta a exclusão do grupo familiar e social no
qual o jovem estava inserido. Páginas como a ATEA e seus derivados dão forças a
jovens para se expressarem sem medo da solidão, dando-lhe a certeza de que há
mais pessoas que pensam de maneira semelhante espalhadas por ai.
Toda esta liberdade proporcionada
pelo mundo virtual instiga nas pessoas a vontade de se expressar, seja sobre
qual assunto for e quem determina quem pode, ou não, falar sobre qualquer
assunto na internet (como em qualquer outro lugar) é a própria pessoa. Isso
acontece principalmente por conta da informalidade encontrada nos sites da
internet, informalidade essa que tende a aumentar ainda mais quando o assunto é
vídeo para o Youtube. Isso contribui para que pessoas comuns, sem qualquer
especialidade, simplesmente ligue a câmera e dê a sua opinião, ou escreva sobre
ela. Porém, é preciso saber divisar os limites entre liberdade de expressão e
meios de ofender as pessoas, mas isso não depende nem da própria internet ou
mesmo do grau de escolaridade do internauta, mas de sua própria consciência.
2ª
Pergunta: Pessoas que não conhecem a Teoria Literária podem falar sobre
Literatura?
Confesso que, se não fosse uma
pergunta claramente retórica, eu encararia esta pergunta como, no mínimo, uma
pergunta tola, fútil, e sem propósitos bem delineados. E já digo o por que:
imagine que você está numa mesa de bar conversando com seus amigos sobre futebol,
quando alguém lhe diz que apenas os técnicos ou os jogadores podem falar sobre
o tema. Ou então você está numa reunião informal com suas amigas falando sobre
moda (ou qualquer outro assunto que as mulheres falam, desculpe se isso parece
machismo de minha parte) quando uma de suas companheiras de papo solta a
seguinte pérola: “Não somos capacitadas para falar sobre tal assunto, apenas os
estilistas de renome ou as modelos podem falar sobre o que está in e o que está
out”. O mesmo vale para qualquer assunto: muitas vezes as melhores opiniões vêm
exatamente das pessoas sem qualquer embasamento teórico sobre assunto X ou
assunto Y; o comentário vem mais fluido, mais límpido e mais sincero, digamos
assim, e não infestado de formalismo, seguindo a linha de pensamento de tal e
tal pensador ou estudioso.
O mal é a prepotência do leitor:
não se pode falar sobre o estilo de Machado de Assis se você não for um
estudioso; ou do fluxo de consciência de Clarice Lispector e José Saramago, a
menos que você tenha lido todos os ensaios críticos sobre os dois; não se pode
gostar de Dostoievski a menos que se saiba da trajetória do povo russo no
século XIX; é proibido entender Virginia Woolf a menos que você tenha
graduação, mestrado, doutorado e PhD em Literatura Inglesa; e por ai vai...
A vida seria muito entediante se
todos só falassem daquilo que sabem e se só pudesse opinar sobre determinados
assuntos que entendesse da teoria. Seria demasiado estafante psicológica e
socialmente conviver isolado do resto do mundo.
3ª
Pergunta: Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso faz dela mais apta a
falar deste autor e de sua obra do que um leitor iniciante?
Pergunta difícil esta, nos faz
pensar. Me fez pensar nas pessoas que eu julguei por não gostarem de Clarice ou
de Fernando Pessoa pelo simples fato de que elas não conheciam a obra inteira
dos mesmos. Mas isso foi num passado remoto da minha vida que, como todos os
passados até hoje, ficou para trás. E a esta pergunta fica o meu “depende”.
Vamos falar aqui sobre as influências que levaram Clarice a escrever A Cidade
Sitiada, ou vamos falar sobre uma das frases dela que viram soltas por ai?
Vamos falar das diferenças existentes entre os vários heterônimos de Pessoa, ou
vamos falar de uma poesia que leram num jornal de colégio? Tudo depende quando
o assunto é gostar, falar sobre, entender, etc. Com certeza estou mais apto a
falar da obra de Clarice em sua totalidade do que uma pessoa que só viu uma
frase dela (que provavelmente nem é dela mesmo) no Facebook, mas isso não quer
dizer que eu possa inferir sobre o que a pessoa achou daquela determinada
frase. O que eu quero dizer com isso é: quando se trata do que a pessoa sente
com relação a uma obra (seja ela uma frase com origens mal definidas, um poema
mal atribuído ou um texto – romance, conto, novela – lido com o mínimo de
atenção) não é preciso saber quando e em quais circunstâncias o autor nasceu,
viveu e morreu. Agora, quando a pessoa vai expor o que ela sabe sobre a
obra do autor, quanto mais bagagem essa pessoa tiver, melhores serão seus
argumentos, sua construção de ideias e suas conclusões sobre tal autor. Por
isso não vejo outra maneira de responder a esta pergunta a não ser com meu
“depende”, deixando-me em cima do muro. Mas se me posicionasse perderia meus
argumentos prós e contras o tema proposto. E se me permito ser imparcial,
tornando-me a Suíça deste assunto, permita-se também: viva a imparcialidade!
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