A cada ida à livraria é uma
facada. Na primeira semana do mês eles mostram a faca, na segunda eles espetam
a faca, na terceira eles enfiam a faca, e na quarta semana eles a torcem um
bocadinho na esperança de sair algumas últimas gotículas de sangue. O vício em
livros está ficando cada vez mais insustentável: dez reais daqui... quinze
dali... olha, liquidação de livros... hum, Estante Virtual... e no fim do mês é
vermelho na certa, as economias de emergência sumiram de alguma estranha
maneira. Bruxaria? Muito provavelmente. Pena que não acredito em bruxas, nem no
Saci que pega as coisas e some com elas, nem no Monstro da Bagunça, que zoneia
o quarto quando você não está olhando. Para os incrédulos, como eu, a realidade
fica difícil de engolir, então eu tomo um copo d’água e admito: sou um viciado
e estou sucumbindo ao vício. Há vícios mais baratos que o meu, como, por
exemplo, o vício em maconha, em jogos, em prostitutas, em cigarros, em bebidas,
em drogas, em... mas pelo menos o meu vício é menos prejudicial. Não faz com
que eu perca o controle e saia vendendo meus móveis (embora conseguiria um bom
dinheiro pela TV e pela geladeira...).
E eu me esforço para não cair em
recaídas, evito ir às livrarias, mas elas vêm até mim: estou lendo o jornal e
sou bombardeado por propagandas: olha, Feira de Livros... olha, a Unicamp está
promovendo outra feira... 50, 60, 70% de desconto. Preciso ir lá agora. Fui. E
quando vejo: pilhas e pilhas de livros que dão trabalho no momento em que vou
passar a roleta no ônibus ou abrir o portão aqui na frente. E nesses dias,
estranhamente, chove. Tiro a blusa, a camiseta, a calça se for preciso – mas os
livros ficam intactos. Resultado: gripe, tuberculose, morte. Mas a estante está
bonita, e isso é o que importa.
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