terça-feira, 30 de abril de 2013

A PEC 33/2011 & a tal da interferência entre os Poderes





E a grande notícia da última semana foi sobre a PEC 33/2011! Saiu na imprensa: “Congresso faz lei para intervir nas decisões do STF”. Logo pensei na famosa separação entre os Três Poderes (Legislativo: Congresso Federal, Câmara de Vereadores, Assembleias Legislativas; Executivo: Presidentes, Governadores e Prefeitos; e Judiciário: todas as Instâncias da Justiça, composta pelos juízes e promotores de justiça entre outros) que está prevista em nossa Constituição. Mas com o tempo percebi que tudo o que estava sendo dito pela Imprensa não passava da cópia de uma cópia de outra cópia de um primeiro artigo de opinião, ou seja: havia apenas UMA argumentação sobre o assunto – pelo menos em grande escala foi assim. Por isso fui atrás de mais alguns artigos aqui e ali para saber um pouco mais dessa história.

Segundo o colunista da Folha, Janio de Freitas, tudo não passa de teatro e que a PEC não sugere qualquer interferência entre os Poderes.  E muitas pessoas compartilham desta mesma opinião: está havendo muito barulho para que as pessoas não consigam se concentrar ou se debruçar sobre o problema. Lembremo-nos ainda da superficialidade da cobertura dos fatos, e isso fez com que as pessoas decidam, sem muito pensar a respeito, que a aprovação da PEC é algo realmente absurdo.

Primeiramente: é óbvio que não era tudo aquilo que estava sendo divulgado na mídia – a interferência do Congresso jamais poderia acontecer da maneira como todos (inclusive eu mesmo) pensaram. E vou tentar aqui dizer algumas coisas que não estão tendo muita atenção neste ínterim de informações.

Vamos então explicar o que é a PEC 33/2011: este projeto de Lei já está tramitando no Congresso desde 2011, e na semana passa foi apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça (departamento do Congresso que define se um projeto é lógico, se pode seguir adiante sem ferir a Constituição ou se este projeto deve ser arquivado a partir deste ponto). Esta comissão é integrada não só por parlamentares, mas também por analistas jurídicos e advogados; e foi este conjunto de opiniões formado pela Comissão que decidiu que a PEC 33/2011 poderia seguir a tramitação – isso não quer dizer que o projeto de Lei foi aprovado, mas sim que ele pode seguir para outras instancias dentro do Congresso.

A reação imediata por parte dos magistrados (e suas entidades) foi totalmente desnecessária, sendo que o primeiro e principal argumento contra a aprovação do projeto de lei, foi exatamente o de que, com isso, haveria uma interferência entre os Poderes previstos na Constituição. Ou seja: aprovar a PEC 33/2011 seria um ato Inconstitucional, porque colocaria em risco o equilíbrio entre os Poderes. Com isso a mídia caiu matando, disseram que a Democracia estava seriamente ameaçada, Gilmar Mendes apelou: quis fechar a “Casa”. E passada esta semana eu digo que este teatro foi armado sem qualquer fundamento em algo de porte tão assustador assim.

São duas as (principais) propostas da PEC 33/2011; a primeira tem a ver com a questão da Súmula Vinculante. Esclarecendo: se o STF for contra alguma causa, a decisão do Supremo é replicada para as Instâncias inferiores nas causas semelhantes, virando Súmula Vinculante. A primeira proposta da PEC 33/2011 é rever isso, colocando essas decisões para a apreciação do Congresso, ou seja: o STF decide sobre uma causa, até aí fica-se como sempre foi, a partir de então, a decisão do STF vai para apreciação dos congressistas e se caso for aprovada virará Súmula Vinculante, caso não for, ela valerá apenas para o caso em questão (que foi julgado pelo Supremo), mas não vale para as Instâncias inferiores. O poder do STF não foi diminuído, apenas foi colocado para apreciação do Congresso. Talvez (e isso é um aspecto negativo desta proposta) isso traria alguma morosidade ao sistema judiciário; porém, em causas que não houver concordância entre os ministros, com a análise do resultado da aprovação (ou não) pelo Congresso e com o passar do tempo, essa causa ganhe alguma maior concordância no Supremo – resumindo: talvez com o passar do tempo, os ministros entrem num consenso sobre decisões onde houveram embates.

A outra proposta da PEC 33/2011 envolve, principalmente, os casos de Emenda Constitucional: atualmente, nestes casos, o Parlamento precisa votar – e esta votação acontece em dois turnos, e para que uma Emenda possa ser aceita, precisa da aprovação de três quintos dos parlamentares, isso envolve algumas dezenas de pessoas. O problema é que depois de todo este processo de aprovação (que não é nada fácil como parece) esta mesma Emenda pode ser barrada pelo STF com apenas seis votos, pois apenas onze ministros votam, e sendo seis a maioria de onze... Obviamente na cabeça dos parlamentares há nisso tudo um desequilíbrio muito visível. E para remediar esta situação, a PEC 33/2011 propõe que o STF continue com o poder de barrar uma Emenda, mas que caso isso ocorra, a mesma Emenda volte para o Congresso e é submetida à novas votações: se conseguir 60% dos votos dos Congressistas, ela vai à consulta popular (plebiscito) para que a população decida. Em minha opinião, não há nada mais diplomático e democrático do que esta proposta. Portanto, os argumentos de que a aprovação irá ferir a Democracia são totalmente inválidos, certo?

O problema da PEC 33/2011 é que ela expõe uma falha democrática que a maioria das pessoas não sabe que existe: os cargos vitalícios (do STF) e os cargos que precisam de eleição democrática (membros do Parlamento). A falha, por assim dizer, é exatamente o fato de que os primeiros têm cargo vitalício – o mesmo cargo vitalício que é tão desejado pelos segundos. Percebeu? Todos os parlamentares gostariam de serem eleitos e ficar no cargo até morrer, com todas as mordomias que um membro do STF possui e que é negada aos seus companheiros do Parlamento. O que ocorreu foi um questionamento por parte do Poder Legislativo no tocante à vitaliciedade dos cargos do STF: de onde viria tanto poder assim para terem cargos vitalícios? E foram mais além as dúvidas: por que o STF pode interferir nas ações daqueles que foram eleitos pelo povo?, não seria isso um motivo para que houvesse o desequilíbrio entre os Poderes?

Para quem não sabe, o Congresso decide algo e depois disso devem submeter suas decisões ao STF – que pode aprovar a decisão ou barrá-la. Além disso, se há uma demora para que haja decisões por parte do Congresso, o STF pode decidir o rumo das coisas antes do poder Legislativo. Este é um problema realmente grande. E foi por isso que a PEC 33/2011 foi fomentada há dois anos.

Os membros do Poder Legislativo dizem quem membros do STF, por não terem sido democraticamente eleitos, não deveriam ter tanto poder centralizado; e os membros do Poder Judiciário alegam que esta interferência é uma função Constitucional do STF não podendo ser sequer questionada.

Mas agora, depois desta semana, nada mais importa, pois, depois de tanta confusão, o Congresso já entrou num acordo com o STF para arquivar a PEC 33/2011. O presidente da Câmara juntamente com o presidente do Senado já resolveram todo o assunto da maneira mais simples que conseguiram: jogando panos quentes sobre esta confusão toda. Claro, nada ainda é definitivo, pode ser que resolvam não arquivar mais, tudo ainda está sendo discutido, mas tudo tende a esfriar conforme o tempo for passando. Se a aprovação da PEC 33/2011 seria boa para o país, disso não sabemos e pelo visto não saberemos – mas o que devemos saber é que nem sempre o que é mais divulgado é o mais certo a ser seguido; e isto não vale apenas para questões políticas: é um ensinamento para o bem-viver.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Que é o Método Científico?

 
 
 
          A metodologia científica foi pela primeira vez descrita, ou proposta, por Renné Descartes em seu livro Discurso do Método, onde propunha que para que se chegasse à verdade, era preciso decompor o objeto de estudo em pequenas partes, ou seja, através da dúvida sistemática. Além disso, a imparcialidade e a objetividade do pesquisador também foram postuladas por Descartes nesta mesma obra, assim como a necessidade de que o estudo científico seja documentado para que se torne passível de re-análise, reprodução e verificação da confiabilidade dos resultados por outros pesquisadores. Contudo, em se tratando da objetividade da pesquisa, não se aplica às ciências humanas ou sociais, onde a subjetividade do pesquisador é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. A necessidade de verificação e o método indutivo (raciocínio que pressupõe que, uma verdade geral pode ser obtida após análise suficiente de casos particulares) foram posteriormente adicionados por Francis Bacon e pelo Círculo de Viena ao método proposto por Descartes. Depois de terem sido estas ideias integradas à metodologia científica, Karl Popper demonstrou que ambas não conduziriam de modo plenamente imparcial as pesquisas científicas, ou seja, segundo Popper o cientista deveria, antes de qualquer coisa, trabalhar com a falseabilidade (procurar evidências que vão contra a sua hipótese, e não apenas aquelas que a sustentem). Atualmente, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin propôs uma nova forma de aplicação do método científico descrita primeiramente por Descartes (que propunha a divisão do objeto de estudo em várias partes): a Teoria da Complexidade sugere que se analise o objeto de estudo como um todo, isto é, em sua totalidade. A estrutura do método cientifico descrita por Descartes apresenta a seguinte “forma”: observação, hipótese, experimento e lei; isto é, esta é a forma como Descartes achava ser necessário fazer uma pesquisa científica. Contudo, não existe nenhuma receita que deve ser seguida em todas as pesquisas, cada pesquisador trabalhará segundo a sua própria experiência.
 
 
          Partindo agora aos aspectos da metodologia científica, podemos dizer que são vários:
1)      Observação: pode utilizar-se de instrumentos que facilitem-na, ou pode ser feita a olho nu, devendo, entretanto, ser sistemática para obter resultados condizentes à realidade;
2)      Descrição: os experimentos utilizados para comprovar as hipóteses devem ser replicáveis;
3)      Previsão: as hipóteses devem ser perenes (válidas para observações no passado, presente e futuro);
4)      Controle: utilizar-se de técnicas que permitam descartar as variáveis passíveis de camuflar ou modificar os resultados da experiência;
5)      Falseabilidade: todas as hipóteses devem ser passíveis de teste, podendo, por isto, ser falseáveis ou refutáveis. Isto é, ela deve ser proposta em uma forma que a permita atribuir-se a ela ambos os valores lógicos, falso e verdadeiro, de forma que se ela realmente for falsa, a contradição com os fatos ou contradições internas com a teoria venha a demonstrá-lo;
6)      Causalidade: as hipóteses devem apresentar uma causa para que ocorra o fenômeno estudado.
 
          Em linhas gerais, pode-se dizer que o método científico é a aplicação da lógica na ciência. De uma maneira mais abrangente, o método científico é um grupo de normas que devem ser seguidas tanto para a produção de novos conhecimentos quanto para a renovação de conhecimentos, e que na maioria das vezes incide sobre o agrupamento de evidências empíricas, que tenham alguma comprovação sensorial, e ao mesmo tempo verificáveis. Além disso, estas evidências devem ser passíveis de análise lógica. São essas normas seguidas pela ciência que diferenciam o método científico de métodos de outras áreas do conhecimento, como o método matemático, o método religioso e o método filosófico, estes últimos, por exemplo, não necessitam de evidências empíricas para corroborarem suas teorias. Observa-se igualmente que o método científico consiste na coleta de dados através de observação e experimentação, bem como na formulação e teste de hipóteses.
 
 
 
BIBLIOGRAFIA E LITERATURA RECOMENDADA:
          Obviamente não foi dito tudo sobre o método científico neste pequeno texto, mas àqueles que interessarem deixo alguns livros que foram utilizados durante a pesquisa para este material:
·         DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução, prefácio e notas de João Cruz Costa. São Paulo: Ed de Ouro, 1970.
·         GRIFFITHS, David J. Introduction to Quantum Mechanics. Printice Hall, 1994.
·         HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 1988.
·         MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.); DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu. Pesquisa social, teoria método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
·         SINGH, Simon. Big Bang. Rio de Janeiro; São Paulo: Editora Record, 2006.


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Vício em Livros - um mal necessário

 
 
A cada ida à livraria é uma facada. Na primeira semana do mês eles mostram a faca, na segunda eles espetam a faca, na terceira eles enfiam a faca, e na quarta semana eles a torcem um bocadinho na esperança de sair algumas últimas gotículas de sangue. O vício em livros está ficando cada vez mais insustentável: dez reais daqui... quinze dali... olha, liquidação de livros... hum, Estante Virtual... e no fim do mês é vermelho na certa, as economias de emergência sumiram de alguma estranha maneira. Bruxaria? Muito provavelmente. Pena que não acredito em bruxas, nem no Saci que pega as coisas e some com elas, nem no Monstro da Bagunça, que zoneia o quarto quando você não está olhando. Para os incrédulos, como eu, a realidade fica difícil de engolir, então eu tomo um copo d’água e admito: sou um viciado e estou sucumbindo ao vício. Há vícios mais baratos que o meu, como, por exemplo, o vício em maconha, em jogos, em prostitutas, em cigarros, em bebidas, em drogas, em... mas pelo menos o meu vício é menos prejudicial. Não faz com que eu perca o controle e saia vendendo meus móveis (embora conseguiria um bom dinheiro pela TV e pela geladeira...).
E eu me esforço para não cair em recaídas, evito ir às livrarias, mas elas vêm até mim: estou lendo o jornal e sou bombardeado por propagandas: olha, Feira de Livros... olha, a Unicamp está promovendo outra feira... 50, 60, 70% de desconto. Preciso ir lá agora. Fui. E quando vejo: pilhas e pilhas de livros que dão trabalho no momento em que vou passar a roleta no ônibus ou abrir o portão aqui na frente. E nesses dias, estranhamente, chove. Tiro a blusa, a camiseta, a calça se for preciso – mas os livros ficam intactos. Resultado: gripe, tuberculose, morte. Mas a estante está bonita, e isso é o que importa.


quarta-feira, 24 de abril de 2013

Video da Semana: Livros Reconfortantes



TAG: LIVROS RECONFORTANTES
 
 
01. Qual ou quais livros te despertam boas memórias da infância?
R: O Menino no Espelho (Fernando Sabino), Coleção Goosebumps (R.L.Stine)


02. E da adolescência?
R: O Lobo da Estepe (Herman Hess), Clarice Lispector, Fiódor Dostoievski e José Saramago

03. Um livro que você relê sempre para trazer bons sentimentos.
R: Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector)

04. Qual o seu gênero literário mais reconfortante?
R: Romance Psicológico

05. Escritores mais reconfortantes?
R: Dostoiévski e Saramago

06. Escritora que você procura quando quer conforto para a alma?
R: Clarice Lispector

07. Quais os livros que você lê em dias de fúria?
R: Confissões, Confusões e Mais Garotas (Gustavo Reiz)

08. Quais os livros que você lê para momentos de tristeza?
R:Um Sopro de Vida (Clarice Lispector) e Clarice, (Benjamin Mooser)

09. Quais livros te remetem bons momentos? Por quê?
R: Depois Daquela Viagem (p/ saber o porque veja o vídeo)

10. Livros para provocar emoções boas.
R: Livros do Fernando Pessoa



segunda-feira, 22 de abril de 2013

INTRODUÇÃO: O que é uma Teoria Científica?




          Neste primeiro texto, eu pretendo apresentar o que é uma hipótese, uma lei, também chamada de postulado, e o que é uma teoria, e quais as diferenças entre elas. Com isso eu pretendo responder à primeira pergunta que eu citei anteriormente (Se o Big Bang e a Evolução são apenas teorias, por que devemos acreditar nelas?). Vamos lá, então:

          Os métodos, ou processos, utilizados pela ciência para expor ideias são basicamente três: as hipóteses, as leis (ou postulados) e as teorias. Se fôssemos imaginar uma hierarquia de métodos utilizados pela ciência, as hipóteses seriam consideradas as mais fracas, as leis seriam consideradas as intermediárias, e as teorias seriam consideradas as mais fortes. Contudo, é preciso salientar que tanto as hipóteses, quanto as leis e as teorias estão interligadas entre si, sendo a hipótese o caminho que deve levar à formulação de uma teoria.

          Comecemos então por definir o que são hipóteses –– hipóteses são tentativas de descrever algum fenômeno, ou seja, são suposições que se admite, de modo provisório, como verdadeiras. As hipóteses são as mais fracas porque ainda não foram bem trabalhadas, por isso são passíveis de críticas, ou de uma não aceitação mais compreensível, porque não há fatos que as sustentem. Leis ou postulados são conjuntos de hipóteses mais bem trabalhadas, porém, que ainda não tiveram demonstração, por isso, um postulado pode ser refutado, basta que, para isso se demonstre uma ou mais situações onde ele não se aplique. Teoria é um conjunto de explicações baseadas em leis científicas que já foram, de alguma forma, demonstradas, isto é, as teorias têm algum tipo de corroboração experimental. Assim sendo, hipóteses podem (ou não) dar origem às leis, que por sua vez podem gerar uma teoria, a partir do momento que tenham algum tipo de corroboração experimental. Então, se você quiser atacar ou tentar refutar alguma coisa que seja científica, o mais recomendado, é que você comece atacando uma lei, pois esta não tem demonstração, ao contrário da teoria. Dando uma melhor definição, pode-se dizer que teoria é um arcabouço de explicações já verificadas e que possui evidências que a suportem.

          Com isso, eu espero ter respondido à pergunta: Se o Big Bang e a Evolução são apenas teorias, por que devemos acreditar nelas? E, acaso não tenha ficado claro o suficiente, vou dizer aqui com todas as palavras: devemos acreditar, ou ao menos respeitar, tanto a teoria do Big Bang quanto a teoria da Evolução porque estas sofreram algum tipo de demonstração experimental, ou seja, foram demonstradas de alguma maneira.
 
          Portanto, quando alguém me diz que não acredita na Evolução ou no Big Bang porque ambas são "apenas Teorias", fica bem claro que esta pessoa não tem a simples base para debate e, o que é pior, não busca argumentos, pró e contra, o que defende ou o que rejeita. Espero que este primeiro texto faça com que você que não acredita na Evolução por ela ser uma Teoria reveja seus conceitos sobre conhecimento, e faça suas escolhas baseado (a) em uma coisa simples porém bela, a Razão.
 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

LET’S TALK ABOUT: Incentivo à Leitura ou O Valor dos Y.A’s




Lembro-me de que quando estava na sétima série o governo do Estado de São Paulo lançou um projeto de incentivo à leitura: cada aluno recebia um kit de leitura com 03 livros. No meu caso os livros foram “Vidas Secas”, “Morte e Vida Severina” e “Olhai os Lírios do Campo”. Nesta época eu já era um devorador de livros, daqueles que preferia livros a videogames, cinema, bebidas, drogas, e sexo (na época eu ainda não sabia o que era sexo, então tenho este desconto). Meus olhos devem ter brilhado da mais pura emoção quando peguei em minhas mãos trêmulas meu kit – uma caixa de papelão pequena com “Governo do Estado de São Paulo” escrito na capa. E qual não foi a minha surpresa ao ver os títulos dos livros: todos muito conhecidos por mim, a “traça humana”.

E me lembro de que quando me pus a ler as primeiras páginas do meu volume de “Vidas Secas” passei por algo que nunca até então eu havia vivido: eu não só não entendia o livro, como também não gostei nenhum pouco dele e, para piorar, odiei-o com todas as minhas forças (que eram poucas). Era uma afronta por parte do livro fazer aquilo comigo: enquanto os outros garotos tinham crises por motivos que nunca entendi bem (garotas, fases difíceis de passar, campeonatos de futebol, fingir que bebia “pra caralho” e que “pegava todas”), eu tinha minha primeira grande crise causada por Graciliano Ramos com seu estilo repugnante (era assim como eu o definia nesta época, mas hoje em dia eu e o Graciliano nos damos muito bem, obrigado). E qual não foi minha surpresa quando meu professor de português me disse que aquele era um livro simples e de fácil compreensão. Eis o erro fatal de todo professor: dizer que isto ou aquilo é fácil, deixa profundamente deprimido aquele aluno que, não sabendo, esforça-se por aprender. Aquela frase simples dinamitou meus sonhos como leitor. A Literatura havia acabado para mim, e eu havia acabado para a Literatura. Relações rompidas, cada um para o seu canto, e não me liguem mais.

Só depois de muitos anos (na verdade nem foram tantos assim), no início deste ano é que consegui olhar para Vidas Secas sem torcer os lábios. Mas muita água passou por baixo desta ponte durante esse período, muitas tardes e noites com Clarice, Virginia, Saramago, Dostoievski, Orwell, Dickens, Tolstoi, Poe e companhia limitada me prepararam para superar meu trauma. Li, e percebi que o livro não era, de fato, tão difícil quanto eu pensei à época.

Sou um critico ferrenho à “Literatura” Y.A. (Young Adults = Jovens Adultos). Acho uma “anti-literatura”, um “lixo” (em alguns casos específicos), algo totalmente fútil. É com vergonha que digo que sim: eu tenho preconceito literário. Ou melhor, eu tinha preconceito literário, e vou dizer porque me livrei deste defeito.

Ao ver meu volume de “Vidas Secas” em minha estante pensei no grande trauma, no grande medo, que uma leitura deste livro pode gerar em um aluno da sétima série do Ensino Fundamental de uma escola pública. Distribuir este livro para pré-adolescentes é quase uma tortura, um crime contra a leitura. Vi este problema cotidianamente até o fim de meus estudos na escola: o mal incentivo à leitura. Os alunos do último ano do Ensino Médio pouco sabem ler seguindo pontuação e concordância, é uma vergonha para qualquer brasileiro que um aluno saiba a escalação da seleção de futebol, mas não saiba quem foi Machado de Assis ou Érico Veríssimo. Mas por onde começar?

Nestes casos, é preciso primeiro “ensinar” o aluno a ler: seguir pontuação, entonação e todo o resto. Depois é preciso ensinar o que ler e não apenas como ler – é como querer que a primeira palavra de uma criança seja “Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”, ou a mais conhecida, pero não menos complicada “Inconstitucionalissimamente” e ainda a quase desconhecida “Hipopotomonstrosesquipedaliofobia”. Comecemos com o “papai” e com “mamãe”, tanto nas palavras quanto nos livros. E ai entra o valor dos Y.A’s.

Assim como eu, muitos alunos, com toda certeza, ficaram ressabiados quanto a leitura daqueles livros, e eu pergunto: e se fosse a primeira leitura de algum desses alunos? Qual o impacto de uma pessoa que tem como primeira leitura Graciliano Ramos? O público de uma sétima série é composto por alunos nos primeiros anos da adolescência, e em se tratando de uma escola pública, nem todos têm condições de obter hábitos de leitura – ler é, muitas vezes, um luxo dos mais caros no Brasil. E se a intenção é fazer com que alunos desenvolvam o gosto pela leitura, dar-lhes Graciliano Ramos e companhia limitada para ler tem um efeito totalmente contrário. Por que não Harry Potter, Crepúsculo, o recente The Fault in Our Stars, entre tantos outros títulos? Estes são assuntos que poderão capturar muito melhor o jovem leitor. Ler Lispector, Proust, Balzac, Kafka, Pessoa, e os Imortais da Literatura Universal é contraindicado para iniciantes na leitura: tais autores capturam o leitor, mas de uma maneira “negativa”, digamos assim, pois faz com que o leitor fique preso na trama de personagens e situações um tanto fora dos padrões do jovem leitor atual. Isso não quer dizer que a pessoa deva parar em Y.As e fazer disso uma única leitura: esta deve ser a primeira de muitas. Em resumo, os Young Adults devem servir como degrau para elevar o leitor do rés do chão às alturas literárias. É preciso começar, sim. Mas em todas as caminhadas, e principalmente nas “caminhadas literárias”, é preciso começar devagar, seguindo o próprio ritmo, um passo de cada vez.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Video da Semana: Afinal, quem tem cacife para falar na Internet?






Dá uma olhadinha no meu vídeo no link

No meu primeiro vídeo no Youtube eu respondi a alguns questionamentos feitos pela Tatiana Feltrin (a guru dos vlogs literários) em um de seus vídeos, as perguntas foram:

01.  Quem ou o que determina quem pode falar de Literatura?

02.  Pessoas que não conhecem a Teoria Literária podem falar sobre Literatura?

03.  Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso faz dela mais apta a falar deste autor e de sua obra do que um leitor iniciante?

E vamos começar a respondê-las:

1ª Pergunta: Quem ou o que determina quem pode falar de Literatura?

Estamos na internet, a grande libertadora, capaz de trazer à tona declarações, revelações e opiniões das mais variadas vindas de todos os públicos. Tal papel atribuído à dita internet traz consigo pontos positivos e negativos como a maioria das coisas por ai. Entre as coisas negativas está o crescente número de pessoas que acabam ofendendo outras de forma direta (leia-se Ad Hominen), fazendo com que o fenômeno do bulling virtual cresça mais e com cada vez mais força a cada dia. Além disso, não podemos nos esquecer das várias militâncias utópicas que surgem a cada dia – e com mais força do que o próprio bulling virtual. Tais militâncias não são completamente ruins, mas acabam gerando intrigas e desuniam no mundo virtual e no mundo real. Além do que, tais militâncias são, como eu mesmo as classifiquei, utópicas, vazias e sem sentido real: são “modinha” em sua maioria. Em contrapartida, a internet trouxe vários benefícios aos internautas como, por exemplo, a capacidade de se expressar sem medo de maiores represálias – com o advento do mundo virtual, expor o que se pensa ficou muito mais fácil em um mundo que estava cada vez mais insuportavelmente incisivo. Voltemos às militâncias, mas classifiquemo-las neste momento como algo real, bem estruturado: a capacidade de entrar em contato com um variado número de pessoas a cada dia trouxe ao público, principalmente ao público jovem, a coragem de se “libertar das amarras” impostas pelos pais, amigos, familiares e pela própria sociedade. Há alguns anos, o simples fato de um jovem se declarar abertamente ateu, por exemplo, tinha como resposta a exclusão do grupo familiar e social no qual o jovem estava inserido. Páginas como a ATEA e seus derivados dão forças a jovens para se expressarem sem medo da solidão, dando-lhe a certeza de que há mais pessoas que pensam de maneira semelhante espalhadas por ai.

Toda esta liberdade proporcionada pelo mundo virtual instiga nas pessoas a vontade de se expressar, seja sobre qual assunto for e quem determina quem pode, ou não, falar sobre qualquer assunto na internet (como em qualquer outro lugar) é a própria pessoa. Isso acontece principalmente por conta da informalidade encontrada nos sites da internet, informalidade essa que tende a aumentar ainda mais quando o assunto é vídeo para o Youtube. Isso contribui para que pessoas comuns, sem qualquer especialidade, simplesmente ligue a câmera e dê a sua opinião, ou escreva sobre ela. Porém, é preciso saber divisar os limites entre liberdade de expressão e meios de ofender as pessoas, mas isso não depende nem da própria internet ou mesmo do grau de escolaridade do internauta, mas de sua própria consciência.

2ª Pergunta: Pessoas que não conhecem a Teoria Literária podem falar sobre Literatura?

Confesso que, se não fosse uma pergunta claramente retórica, eu encararia esta pergunta como, no mínimo, uma pergunta tola, fútil, e sem propósitos bem delineados. E já digo o por que: imagine que você está numa mesa de bar conversando com seus amigos sobre futebol, quando alguém lhe diz que apenas os técnicos ou os jogadores podem falar sobre o tema. Ou então você está numa reunião informal com suas amigas falando sobre moda (ou qualquer outro assunto que as mulheres falam, desculpe se isso parece machismo de minha parte) quando uma de suas companheiras de papo solta a seguinte pérola: “Não somos capacitadas para falar sobre tal assunto, apenas os estilistas de renome ou as modelos podem falar sobre o que está in e o que está out”. O mesmo vale para qualquer assunto: muitas vezes as melhores opiniões vêm exatamente das pessoas sem qualquer embasamento teórico sobre assunto X ou assunto Y; o comentário vem mais fluido, mais límpido e mais sincero, digamos assim, e não infestado de formalismo, seguindo a linha de pensamento de tal e tal pensador ou estudioso.

O mal é a prepotência do leitor: não se pode falar sobre o estilo de Machado de Assis se você não for um estudioso; ou do fluxo de consciência de Clarice Lispector e José Saramago, a menos que você tenha lido todos os ensaios críticos sobre os dois; não se pode gostar de Dostoievski a menos que se saiba da trajetória do povo russo no século XIX; é proibido entender Virginia Woolf a menos que você tenha graduação, mestrado, doutorado e PhD em Literatura Inglesa; e por ai vai...

A vida seria muito entediante se todos só falassem daquilo que sabem e se só pudesse opinar sobre determinados assuntos que entendesse da teoria. Seria demasiado estafante psicológica e socialmente conviver isolado do resto do mundo.

3ª Pergunta: Se uma pessoa conhece a obra de um autor, isso faz dela mais apta a falar deste autor e de sua obra do que um leitor iniciante?

Pergunta difícil esta, nos faz pensar. Me fez pensar nas pessoas que eu julguei por não gostarem de Clarice ou de Fernando Pessoa pelo simples fato de que elas não conheciam a obra inteira dos mesmos. Mas isso foi num passado remoto da minha vida que, como todos os passados até hoje, ficou para trás. E a esta pergunta fica o meu “depende”. Vamos falar aqui sobre as influências que levaram Clarice a escrever A Cidade Sitiada, ou vamos falar sobre uma das frases dela que viram soltas por ai? Vamos falar das diferenças existentes entre os vários heterônimos de Pessoa, ou vamos falar de uma poesia que leram num jornal de colégio? Tudo depende quando o assunto é gostar, falar sobre, entender, etc. Com certeza estou mais apto a falar da obra de Clarice em sua totalidade do que uma pessoa que só viu uma frase dela (que provavelmente nem é dela mesmo) no Facebook, mas isso não quer dizer que eu possa inferir sobre o que a pessoa achou daquela determinada frase. O que eu quero dizer com isso é: quando se trata do que a pessoa sente com relação a uma obra (seja ela uma frase com origens mal definidas, um poema mal atribuído ou um texto – romance, conto, novela – lido com o mínimo de atenção) não é preciso saber quando e em quais circunstâncias o autor nasceu, viveu e morreu. Agora, quando a pessoa vai expor o que ela sabe sobre a obra do autor, quanto mais bagagem essa pessoa tiver, melhores serão seus argumentos, sua construção de ideias e suas conclusões sobre tal autor. Por isso não vejo outra maneira de responder a esta pergunta a não ser com meu “depende”, deixando-me em cima do muro. Mas se me posicionasse perderia meus argumentos prós e contras o tema proposto. E se me permito ser imparcial, tornando-me a Suíça deste assunto, permita-se também: viva a imparcialidade!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

BLOCO DE RECADOS - OS PRIMEIROS PASSOS PARA O NOVO PROJETO




          Nas próximas semanas estarei postando uma série de textos sobre a Evolução e o Big Bang. O que me levou a tomar esta iniciativa foram três perguntas que eu sempre escuto ou vejo em algum lugar, a primeira é: “Se o Big Bang e a Evolução são apenas teorias, por que devemos acreditar nelas?”; a segunda é: “Se o Big Bang deu origem ao universo, o que deu origem ao Big Bang?”; e a terceira, e mais célebre de todas, é: “Se o homem veio do macaco, por que os macacos não continuaram a virar gente?”. Com certeza todos nós já fizemos pelo menos uma destas perguntas que julgam ser inteligentes, mas que demonstram apenas uma falta de estudos e certo preconceito contra ideias contrárias às nossas; porém, isto não deve ser tomado como algo ruim, nem as pessoas que fazem tais perguntas devem ser consideradas tolas: o que deve ser feito é procurar esclarecer a estas pessoas os conceitos básicos destas duas teorias. Antes de começar a pesquisar sobre isso, eu me fiz a seguinte pergunta: o que leva alguém a fazer tais perguntas? E a resposta que eu cheguei foi que as pessoas que fazem essas perguntas, ou não entendem sobre estas teorias, ou, na maioria dos casos, fazem-nas como uma forma de defender o Criacionismo (teoria que enfatiza a criação de tudo por um Ser Supremo). Por isso decidi fazer esta série de posts sobre estas duas teorias, mas antes, farei um “post introdutório” tentando explicar o porquê devemos levar em conta as teorias e por que elas não são meras especulações. Eu pretendo usar uma linguagem bem simples e acessível, como a que usei nos posts sobre homossexualidade. Seguindo-se a esta breve introdução, vou postar um texto sobre o que é o discurso científico e outro sobre o que é a ciência em si. Depois destes dois textos vamos por fim aos textos sobre o Big Bang e sobre a Evolução. Desde já aviso que serão textos longos, mas, como já disse, com linguagem simples, espero esclarecer dúvidas e suscitar o questionamento e as discussões lógicas.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Carta ao Leitor (Calendário do Blog)


E chegamos esta semana à marca de 2.000 visualizações, e a isto tenho que dizer muito obrigado! Nestes últimos dias o blog anda meio "mortinho" mas prometo que tenho bons motivos e que pretendo voltar à regularidade das atividades. Por hora tenho alguns recados, que são:
 
Às segundas-feiras eu pretendo postar um texto falando de assuntos que se estendem desde a política atual (atendendo a pedidos) até Biologia, Filosofia e religião. Mas antes tenho que avisar a todos: eu NÃO sou sociólogo, biólogo, filósofo ou teólogo, os meus textos são fruto de pura e simples PESQUISA e das minhas opiniões pessoais.
 
Às sextas-feiras eu pretendo postar conteúdos voltados à área de Literatura, poemas, prosas, contos, biografias, resenhas (de livros e talvez de filmes). E tenho que avisar novamente: eu NÃO sou formado em Letras ou em qualquer coisa do gênero, certo?
 
Às quartas-feiras, para encerrar, eu pretendo postar um vídeo do meu vlog (sim, eu tenho um vlog). Nesses vídeos eu vou falar um pouco sobre livros e filmes, então, a postagem de sexta-feira vai ser um pequeno "complemento" aos vídeos.
 
Não sei se vou postar alguma receita ou algo do tipo porque antes eu costumo testá-las e não ando tendo muito tempo, mas se eu for postar alguma receita, será aos sábados, mas não há nada muito certo.
 
Mais uma vez eu tenho que agradecer ao número de visualizações - eu sei que os assuntos deste blog nem sempre são agradáveis a todos os públicos, e me surpreende muito a quantidade de views.
Qualquer dúvida, reclamação, sugestão, crítica, etc, pode deixar nos comentários ou me envie um e-mail (nicolasmadge@gmail.com).
 
N.N

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O Homem veio do Macaco?




Olá pessoas, neste post de hoje eu pretendo abordar um assunto que, particularmente, não sei como ainda pode gerar tanta confusão, respondendo à pergunta que não quer calar: o homem veio do macaco?

E a resposta que eu vou dar é: NÃO!!!!!!

Mas acalmem-se, que já vou me explicar...

Mais de 150 anos se passaram desde que o ilustríssimo senhor Charles Darwin nos apresentou sua Teoria da Evolução das Espécies através da Seleção Natural, e ainda hoje, depois de tanto tempo, há pessoas que não entendem (ou não querem entender) os conceitos mais básicos desta que é uma das maiores revoluções científicas “contemporâneas”. Apesar de todas as evidências que a suportam, A Teoria da Evolução ainda encontra dificuldades em ser aceita por um número apreciável de pessoas ao redor do mundo, principalmente por aquelas pessoas que acreditam que o mundo, e todos os seres que nele habitam, foram criados tal como são atualmente por um Ser supremo e inatingível. Verdade seja dita: este grupo de pessoas, conhecidas como Criacionistas não têm mais em que se amparar diante dos fatos, que são: 1° a aceitação maciça da Evolução pela academia científica, e 2° a falta de evidências que demonstrem falhas nos processos descritos na Evolução. Então, os criacionistas munem-se de inúmeras falácias na tentativa de ridicularizar as ideias evolucionistas, através de perguntas que demonstram o quão leigos são os ditos criacionistas quando se trata de Evolução, as perguntas são, principalmente, “Se o homem veio do macaco, como é que existem macacos hoje em dia?” e “O homem veio do macaco?”.  Neste post vou tentar responder à segunda questão, deixando a primeira delas para a posteridade.

 
 
Primeiramente, o que é um macaco? Muitas pessoas partem da premissa do “macaco atual”, o que, por si só, desvalida a pergunta: nenhum ser evolui de um ser contemporâneo, ou seja, não é possível que o homem tenha evoluído dos macacos que existem atualmente. O que acontece, é que todas as formas de vida que existem hoje em dia descendem (e evoluíram) de um ancestral comum, ou seja, toda forma de vida moderna é tão evoluída quanto o ser humano, o que ocorre é que algumas espécies, como as esponjas e as anêmonas, possuem características mais primitivas, enquanto outras, como os primatas (onde está incluído o ser humano), possuem características mais derivadas. Então, se formos querer colocar o ser humano como descendente dos macacos contemporâneos, estaríamos dando voltas para nada, pois ambos os grupos estão no mesmo patamar evolutivo.
Ignoremos agora o conceito de “macaco atual”, e digamos apenas que o homem evoluiu de primatas não pertencentes à espécie Homo Sapiens (que é a nossa própria espécie); e devemos levar em conta a quantidade enorme de semelhanças entre os seres humanos e os “macacos”, e isso se dá pelo fato de que os dois grupos se enquadram dentro da família dos primatas, que em sua maioria possui uma série de características comuns a todos os indivíduos:
·         Cérebro grande, desenvolvido e complexo;
·         Córtex cerebral aumentado com relação ao de outros animais;
·         A presença de apenas duas glândulas mamárias;
·         Capacidade olfativa reduzida;
·         O posicionamento frontal dos olhos, juntamente com a grande acuidade visual;
·         A presença de “mãos” com polegares opositores.
Qualquer animal que reúna todas essas características é denominado primata, então, o homem é um primata, pois, possui um cérebro desenvolvido, um aumento no córtex cerebral, apenas duas glândulas mamárias, a importância da visão em contraponto da perca olfativa e a presença de polegares opositores. Convenhamos, se o homem é um primata, pode-se dizer que ele é um “primo distante” dos outros macacos por ai, não é?
Se por algum acaso você respondeu minha pergunta com um “NÃO”, desculpe-me, mas agora vou um tanto além da minha anterior alegação (de que o ser humano é um “primo” do macaco): estou disposto a dizer que o homem não veio do macaco, mas que o homem É um macaco, e vou me explicar agora.
A imagem abaixo é uma Árvore Filogenética (Philo= família/amigo + genética= que tem relação aos genes) que abrange a maioria dos seres vivos modernos, mas eu vou usar apenas uma pequena área desta Árvore, que deixarei marcada:
 



Nesta parte que separei está (em algum lugar) a ordem dos Primatas. Atualmente, a ordem dos Primatas divide-se em duas subordens:

1° Os Strepsirrhini, onde encontramos os lêmures e os adapiformes;

&

2° Os Haplorrhini, onde temos todos os outros primatas.

Os Haplorrhini, por sua vez, subdividem-se em duas categorias: a dos Tarsiiformes (encontram-se aqui os tarsos) e a dos Simiiformes (onde temos os demais primatas).

Os Simiiformes dividem-se em duas pavordens: a dos Platyrrhini (encontram-se aqui o macaco-barrigudo, os bugios e os saguis) e a dos Catarrhini, que se subdivide em duas grandes famílias: a dos Cercopithecoidea (formada pelos macacos do velho mundo, como os babuínos, mandris, e um gênero chamado macaca), e a família Hominoidea (que se divide atualmente em dois gêneros: Hylobatidae e Hominidae, além destas duas famílias, outras duas pertencem a esta superfamília, mas já encontram-se instintas).

A família Hominidae divide-se entre duas subfamílias: a dos Ponginae (onde temos os orangotangos) e a subfamília Homininae, que se divide em duas tribos – Gorilini (onde encontram-se os gorilas) e Hominini (que acaba por se subdividir em dois gêneros: Pan (onde temos os chimpanzés e bonobos) e o gênero Homo (onde estamos nós: os seres humanos). E se você está achando tudo isso um pouco confuso, eu vou fazer uma pequena ilustração aqui:



Se você é daquelas pessoas que percebem as coisas fácil, já sabe o que eu estou querendo dizer, mas, se você ainda não percebeu, vamos lá:

A ilustração mostra que somos parentes distantes de alguns grupos de primatas, como os lêmures ou mandris, mas, em contra partida, somos praticamente irmãos dos chimpanzés e bonobos. Vejamos aqui algumas semelhanças entre nós e nossos “irmãos” peludos:

·         Ambas as espécies (chimpanzés e humanos) não possuem cauda;

·         A semelhança genética entre chimpanzés e humanos é de 99.4% .

 

Por isso eu digo, mais do que descendentes de um mesmo ancestral em comum, o homem não é parente do macaco, o homem É um macaco.

E se você se interessou pelo assunto, não deixe de comprar (ou de baixar ilegalmente na internet) o livro: A Grande História da Evolução: na trilha dos nossos ancestrais, 2004 Companhia das Letras – Richard Dawkins.

 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

1° de Abril

 
ATENÇÃO:
O texto que se segue pode ser altamente ofensivo para alguns,
leia-o por sua própria conta e risco.
 
 



Senhor, eu virei o meu rosto para longe de Você. Tenho medo de ter cometido um grande erro, e tenho um pedido de desculpas a fazer. Eu estava fraco demais para sentir e conhecer o Teu poder, Senhor; eu estive cego demais para ver a luz, e fechei os olhos para a Tua verdade. Por favor, perdoe-me por todas as coisas que eu havia dito, não foi a minha intenção magoá-Lo. Mas agora eu tive a verdade revelada para mim; como Saulo na estrada de Damasco, eu tive uma revelação. E agora, eu me sinto como um cínico: como pude ter sido tão estúpido? Está tudo claro para mim agora, Pai, a Tua grandeza está evidente para mim hoje.

Eu não sabia como conhecê-Lo, mas agora eu sei. Eu não sabia que era tão simples, Pai. Não sabia que era apenas rezar algumas palavras – rezar em alguma igreja particular para um deus em particular. E obrigado por me fazer perceber como isso faz todo o sentido. Obrigado, Deus, por ter-me curado de minha cegueira espiritual, e obrigado, pessoas, por terem me apresentado a este oftalmologista omnipotente.

Tenho de confessar que antes eu fui cético, mas agora, diante de Ti, só posso dizer que contemplo a Tua face, como se estivesse eternamente no paraíso. E obrigado, Senhor, por ter-me acolhido neste seu paraíso, onde posso ficar sossegado enquanto milhares de pessoas sofrem no fogo por não terem Te agradado. Obrigado, Senhor, por eu não fazer parte das pessoas que, apesar de sempre rezarem para Ti, não têm suas preces atendidas. E por isso eu só tenho a dizer: “obrigado, Senhor”.

Eu só tenho a agradecer por te ver em todas as coisas, por te ver no céu e no mar, no riso e nas lágrimas, nas doenças, nas pestes, na fome das milhares de pessoas que clamam a Ti sem resposta. E obrigado por eu não fazer parte destes grupos que só têm a Sua indiferença: obrigado por eu não pertencer às massas sedentas e famintas, obrigado por tamanha desigualdade entre as classes de minha sociedade, obrigado por ter enviado Seu filho há dois mil anos para perdoar os meus pecados, e obrigado por ter mudado de ideia e tê-lo feito ressuscitar. Obrigado por ser o Deus certo, obrigado por eu ter escolhido o deus mais correto dentre os mais de quinhentos outros deuses neste Buffet celestial. Obrigado por ter me dado uma casa, um carro do ano, me ajudado a entrar na universidade e tudo de bom que me acontece, obrigado por não me dar capacidade de alcançar por conta própria os meus objetivos, por me dar tudo de mãos beijadas, por ter dado a mim tudo o que eu tenho sem o menor esforço de minha parte.

Agora eu sei que só preciso rezar para uma versão de um deus particular. Entendo que minha perspectiva antes havia sido muito limitada. Está tudo claro agora, tudo tão claro! Está claro que Deus é tão misericordioso que pode dar a uma pessoa de classe média carros do ano e casas na praia, enquanto deixa os africanos morrer de fome e de AIDS ou outras pestilências, ou então, enquanto os asiáticos têm que reconstruir anualmente suas casas graças às diversas inundações que por lá existem. Obrigado, Deus, por me amar tanto, a ponto de me colocar em um pedestal feito de milhares de crianças mortas das mais terríveis formas. Obrigado por olhar todo o sofrimento alheio e não mover uma palha para ajudar, enquanto dá a alguns todo o tipo de luxo e conforto. Obrigado por ajudar tanto os jogadores de futebol a fazerem gols e vencerem os campeonatos, enquanto não ajuda os pobres e necessitados. Obrigado por sua infinita justiça!

Eu te agradeço Senhor, por não ser apenas um instrumento de controle, criado para incutir medo nos mais fragilizados. Obrigado por não fazer parte de um delírio em massa, de uma esquizofrenia mundial. Obrigado por ser tão bom que permite que milhares de pessoas sofram. Obrigado por me amar tanto a ponto de me mandar ao inferno pelo simples fato de usufruir do livre-arbítrio que você mesmo me deu. Obrigado, meu Deus, por eu não ser uma das mulheres e crianças que diariamente são violentadas e mortas.

Obrigado por ter milagrosamente me salvo a vida quando nasci: obrigado por terem me levado ao Seu santo templo e não a um hospital cheio de recursos que me amparassem. Oh, sim, obrigado por ter sido você, e não os médicos que tanto lutaram e estudaram para isso, a me salvar a vida. Obrigado por ter atendido às orações dos meus parentes, e obrigado por não atender as orações dos aleijados, doentes e miseráveis que lho clamam todos os dias, pois eu sei que se as atendessem não teria tempo para as minhas futilidades diárias.

Agora eu entendo como a oração pode funcionar: uma oração particular em uma igreja em particular em um estilo particular com um material especial e um livro específico para problemas específicos que não são particularmente difíceis, e para as pessoas particulares, de preferência brancas, para desejos ínfimos e particulares. Uma oração especial em um local particular, a uma versão específica de um deus particular.

E por tudo isto, Deus, eu tenho a agradecer: por me amar, apesar de tudo, por ser tão misericordioso para comigo e por não me ter feito nascer em outra cultura, que cultua outro deus que me condena ao inferno. Oh, Deus, obrigado por ter me moldado em barro e por ter feito as mulheres que mais amo das costelas de um homem à seis mil anos atrás, e obrigado por eu não ser uma dessas mulheres, que são os seres mais desprezíveis da face da Terra, pois foram por elas que o homem caiu em desgraça. Por tudo isso e por muitas outras coisas, eu tenho apenas a agradecer e a louvar-te sempre, sempre, sempre a partir de hoje.

Amém, amém! Aleluia!