segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os Gatos... ou: por que não sou Budista


Há algum tempo atrás, uns cinco anos, eu ia a um templo budista. Sim. E confesso que me fazia um bem enorme frequentá-lo, assim como me fizeram bem todas as minhas experiências indo a centros espíritas e afins. Mas não é sobre isso que vim contar. E sobre por que parei de ir neste lugar.

Em primeiro lugar, o templo era demasiado longe de casa e eu, pobre de mim, não tinha com quem ir. Deslocar-me sozinho pelo mundo afora não era tarefa fácil, requeria uma coragem muito além da que eu tinha até então. Mesmo assim eu resisti bravamente, indo periodicamente às reuniões e seguindo os ensinamentos de Sidarta Gautama à risca.

A segunda coisa que me fez parar de ir nestas reuniões foi o preconceito. Sim: as pessoas têm preconceito com budistas, espíritas, umbandistas, e qualquer outro grupo que não se encaixe na perfeição da amável e louvável igreja do senhor deus. Bem: deixemos deus de lado, que ele, pobre diabo, não tem culpa dos nossos erros – ou talvez seja ele o principal responsáveis por tais erros, o que não vem ao caso no momento.

Mas a principal coisa que me dissuadiu de seguir em frente com os ensinamentos budistas foi o meu animal preferido: um gato. Ou melhor, milhares, centenas, dezenas de gatos. Já me explico:


Numa das últimas palestras (?) que fui, um monge me abordou logo na saída do templo e me perguntou se eu não gostaria de fazer um tipo específico de meditação. E eu, obviamente, aceitei. Éramos, ao todo, umas quinze pessoas, ou menos, reunidos numa das salas anexas ao templo. Ali eu me encontrei comigo mesmo e com deus. Sim: pela primeira vez eu me sentia totalmente pleno com o simples fato de não haver nada na sala além de pessoas em busca de um mesmo ideal.

 
E então aconteceu...

Ao final da meditação, me lembro de ter agradecido ao monge e dito que gostaria muito de meditar como os adeptos um dia. Ao que o monge respondeu com uma simples frase: “É fácil, vá para casa e não pense em gatos”. E quando a esmola é muita, o santo desconfia. Voltei para casa um tanto intrigado com aquelas palavras; não pensar em gatos..., parecia algo estupidamente simples para uma pessoa que passara anos em intensa meditação.

E fui para casa não pensando em gatos, quando o primeiro deles cruzou o meu caminho. Depois virei uma rua e, sobre os telhados, estavam eles: os gatos em seu festim quase diabólico. Aprecei o passo procurando evitar os famigerados felinos, tudo em vão. Quando cheguei em casa os gatos pareciam que haviam brotado do nada, tudo fruto da minha imaginação. Eu ouvia os gatos correndo pelos muros, sentia suas respirações rápidas, assustava-me com os miados longínquos.

O fato é que, depois de uma semana, eu só pensava em gatos, desesperadamente, alucinadamente. E notei que eu, definitivamente, não poderia jamais ser um adepto fervoroso de grupos de meditação; pois eu sabia, e sei até hoje, que mal eu fechasse os olhos e caísse na contemplação dum iogue, os gatos estariam à espreita. E continuam até hoje.

 



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