Há algum tempo atrás, uns cinco
anos, eu ia a um templo budista. Sim. E confesso que me fazia um bem enorme frequentá-lo,
assim como me fizeram bem todas as minhas experiências indo a centros espíritas
e afins. Mas não é sobre isso que vim contar. E sobre por que parei de ir neste
lugar.
Em primeiro lugar, o templo era
demasiado longe de casa e eu, pobre de mim, não tinha com quem ir. Deslocar-me
sozinho pelo mundo afora não era tarefa fácil, requeria uma coragem muito além
da que eu tinha até então. Mesmo assim eu resisti bravamente, indo
periodicamente às reuniões e seguindo os ensinamentos de Sidarta Gautama à
risca.
A segunda coisa que me fez parar
de ir nestas reuniões foi o preconceito. Sim: as pessoas têm preconceito com
budistas, espíritas, umbandistas, e qualquer outro grupo que não se encaixe na
perfeição da amável e louvável igreja do senhor deus. Bem: deixemos deus de
lado, que ele, pobre diabo, não tem culpa dos nossos erros – ou talvez seja ele
o principal responsáveis por tais erros, o que não vem ao caso no momento.
Mas a principal coisa que me dissuadiu
de seguir em frente com os ensinamentos budistas foi o meu animal preferido: um
gato. Ou melhor, milhares, centenas, dezenas de gatos. Já me explico:
Numa das últimas palestras (?) que
fui, um monge me abordou logo na saída do templo e me perguntou se eu não
gostaria de fazer um tipo específico de meditação. E eu, obviamente, aceitei. Éramos,
ao todo, umas quinze pessoas, ou menos, reunidos numa das salas anexas ao
templo. Ali eu me encontrei comigo mesmo e com deus. Sim: pela primeira vez eu
me sentia totalmente pleno com o simples fato de não haver nada na sala além de
pessoas em busca de um mesmo ideal.
E então aconteceu...
Ao final da meditação, me lembro
de ter agradecido ao monge e dito que gostaria muito de meditar como os adeptos
um dia. Ao que o monge respondeu com uma simples frase: “É fácil, vá para casa
e não pense em gatos”. E quando a esmola é muita, o santo desconfia. Voltei para
casa um tanto intrigado com aquelas palavras; não pensar em gatos..., parecia
algo estupidamente simples para uma pessoa que passara anos em intensa
meditação.
E fui para casa não pensando em
gatos, quando o primeiro deles cruzou o meu caminho. Depois virei uma rua e,
sobre os telhados, estavam eles: os gatos em seu festim quase diabólico. Aprecei
o passo procurando evitar os famigerados felinos, tudo em vão. Quando cheguei
em casa os gatos pareciam que haviam brotado do nada, tudo fruto da minha
imaginação. Eu ouvia os gatos correndo pelos muros, sentia suas respirações
rápidas, assustava-me com os miados longínquos.
O fato é que, depois de uma
semana, eu só pensava em gatos, desesperadamente, alucinadamente. E notei que
eu, definitivamente, não poderia jamais ser um adepto fervoroso de grupos de
meditação; pois eu sabia, e sei até hoje, que mal eu fechasse os olhos e caísse
na contemplação dum iogue, os gatos estariam à espreita. E continuam até hoje.
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