segunda-feira, 17 de junho de 2013

O DESPERTAR DE UMA NAÇÃO




Neste exato momento em que escrevo, recebo a notícia de que os manifestantes acabam de invadir o Congresso Nacional. 65 mil pessoas estão em manifestação pelas ruas de São Paulo. Arnaldo Jabor retratou-se no rádio. A Copa está totalmente submersa diante das manifestações. A Cinelândia está tomada por nossos patrícios. Toda a Avenida Rio Branco está tomada. 100 mil pessoas no Rio de Janeiro manifestam-se. Dilma sendo vaiada. Estou hoje muito orgulhoso de ser brasileiro, e muito feliz por estar participando deste que foi o primeiro ato realmente patriota que já presenciei na minha vida. A imagem mais linda que já vi no ecrã da televisão: os manifestantes saindo às ruas, lembranças da Passeata dos Cem Mil. Ecos do passado – os primeiros passos para o futuro.
E tudo começou quando o preço da tarifa do ônibus em São Paulo teve um acréscimo de vinte centavos. E como ninguém gosta que algo público e de má qualidade fique vinte centavos mais cara, o povo acordou da apatia em que se mergulhara. Sei, na verdade todos nós sabemos, que esses vinte centavos não são muito o suficiente para comprar mais do que um pão – mas é deste pão que há tanto tempo estava preso, mofando, é deste pão que o Brasil precisava. O fato é que as manifestações tomaram proporções muito maiores do que o esperado, tanto pelos próprios manifestantes quanto pelas autoridades. Tais manifestos já são, por si só, motivo de muito orgulho – mas o melhor nisso tudo, é que vejo pessoas que não precisavam estar ali, dando seu apoio aos manifestantes. A Classe Média saindo às ruas. Não somos mais uma classe ou outra: somos brasileiros.

É com grande orgulho que digo: eu vivi, eu presenciei o despertar de uma nação. Apesar de toda a truculência das forças policiais, o povo resiste bravamente. Mas há algo que me deprime: é ver pessoas que, no cúmulo do não-patriotismo, dizem que tudo isso é pura perca de tempo – coisa de quem não tem o que fazer.  Aparentemente as pessoas são ou profundamente hipócritas ou sofrem de lapsos de memória. A minha vida toda, desde que me lembro, ouvi os mais velhos falando que nossa geração é acomodada, alienada, calada, passiva, e muitos outros substantivos. Sempre ouvi que os jovens de hoje não fazem manifestos, e citavam como exemplo o Movimento dos Caras Pintadas e tantos outros. E hoje, quando finalmente o jovem brasileiro levanta o traseiro do assento e toma alguma posição, este mesmo jovem que sempre recebeu substantivos que denotam fraqueza, tem a sua liberdade tolhida, massacrada e obliterada pelos mesmos adultos que tanto incentivam uma tomada de posição. Ora, esses comentários dignos dos “tios à lá Datena” são, não apenas desnecessários, como também fruto de uma falta de reflexão tremenda: onde está o povo que lutou na Passeata dos Cem Mil?, morreu?, dormiu? Antes fosse, sinceramente!

Há pessoas que acreditam que a única solução para tudo isso é a polícia “descer a lenha” em todo mundo. Meu deus! Onde chegamos, afinal? Não estou querendo dizer que deveríamos ficar contra a polícia – lembremo-nos de que estão apenas cumprindo ordens (de uma maneira totalmente covarde, ainda mais se pegarmos como exemplo a delegada que desacatou tais ordens e permitiu a manifestação em Belo Horizonte há alguns dias).

A você, cidadão desinformado, eu lhe digo: as manifestações já não são mais por simples vinte centavos. Não se trata simplesmente de uma revolta sobre o transporte público: o povo cansou, a nação que gostava apenas de carnaval, futebol e novela, aparentemente se cansou de tudo isso e foi às ruas reclamar de tanta infâmia que vem sendo enfiada goela à baixo do brasileiro dia após dias nas últimas duas décadas (e vou parar nos anos 1980-1990, o resto seria demasiado afastado da situação contemporânea). As manifestações não são mais sobre os vinte centavos, mas sim pelo meu direito (e pelo direito de quem reclama também) e pelo direito de todas as pessoas, de irem às ruas e se manifestarem sem serem chamados de criminosos por conta disso. Não, não se trata apenas dos vinte centavos, reclamamos de tudo aquilo que vem-nos acontecendo até hoje e que nós, por pura apatia, calamos. Todos estes protestos não são pelo trânsito, nem pelos vinte centavos, é por você e por mim. Não se trata de movimentação política, não tem a ver com esquerda ou direita, nem com partidarismo, nem se trata de um golpe comunista. Trata-se, simplesmente, da primeira vez em mais de vinte anos que o brasileiro saiu às ruas para reclamar de muitas coisas até então silenciadas. Esta não é, de forma alguma, uma manifestação de bandidos, mas sim uma manifestação de brasileiros – de um povo que quer ter o direito de ir às ruas reclamarem seus direitos, sem serem, com isso, considerados terroristas.

Infelizmente essa série de protestos transformou a polícia no inimigo principal da população. Mas a atitude dos policiais me lembra o longa metragem “O Dia Em Que Dorival Encarou a Guarda”: em um dado momento, o personagem principal solta uma frase que cabe nas atuais situações: “pau mandado não tem lema”. Lembremo-nos, amigos, que os policiais ainda estão cumprindo ordens, e não se deram conta de que, assim como os manifestantes, fazem parte desta nação.

Acredito que neste momento é nosso direito e dever tomar as ruas (até porque as ruas são públicas e não precisamos de permissão para tomá-las segundo o que está descrito no Art. 5° Inciso XVI da Constituição) em protesto.

Quanto àqueles que ainda insistem em reclamar porque estão fechando as ruas: não há desculpa mais esfarrapada do que essa. Além de denotar um profundo “bundamolismo”, ainda indica o quão egoístas são as pessoas atualmente. Apenas pense, senhor reclamão, que os manifestantes estão lutando por um direito seu, e que você tem o dever de, como eles, reclamar os direitos de toda a população. Unamo-nos nesta hora, todos nós! Junte-se a nós nessa luta (muito justa, diga-se de passagem). E lembre-se de que enquanto você está do lado do Estado, o Estado está contra você. Apenas pare para pensar nisso tudo.

Nós temos o direito de protestar, nós temos o direito à livre expressão, o direito de ir e vir: usufruamos dele neste momento. E nós não devemos tolerar que o Estado mande os policiais, que supostamente são treinados para bater em bandidos, baterem em manifestantes. Pensemos: quantas vezes passamos por verdadeiros perrengues por falta de segurança e não há um policial para nos auxiliar?, quantos de nós já não foi assaltado e não recebeu resposta dos policiais? E nesse exato momento, os policiais estão tomando atitudes totalmente grotescas contra a população que deveria proteger.

O mais interessante de tudo isso, é que até mesmo a mídia, que até poucos dias estava deturpando a situação, voltou-se contra o Estado: isso porque os próprios jornalistas estão sendo presos, estão voltando para casa machucados, impossibilitados de fazerem seu trabalho.

Nós não podemos agir passivamente a tudo isto: pacificamente sim – como bem disse o Paulo Cezar Siqueira em vídeo que foi ao ar hoje no Youtube – mas passivamente não. Não sejamos complacentes com a polícia que, infelizmente, voltou-se contra nós, curvando-se às atitudes fascistas que vêm do Estado.

Junte-se a nós neste movimento pelo progresso do nosso país: agora, não há ricos ou pobres, brancos ou negros, héteros ou homossexuais, homens ou mulheres – neste momento somos um só ideal, um só povo: agora, nós somos brasileiros.

Senhores, é com imensa alegria que digo: a nação, finalmente, despertou.
 
 
 

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