domingo, 16 de junho de 2013

Arnaldo Jabor: o homem dos vinte centavos

 
 
 
Muito se tem falado sobre a série de protestos que se alastrou depois do acréscimo dos vinte centavos nas tarifas dos ônibus. O fato é que, desde a última semana, começou pelo Brasil inteiro uma onda de manifestações que ficarão um dia conhecidas (talvez) como a Revolta do Vinagre. Lembremo-nos, já tivemos a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata, a Revolta dos Farrapos e tantas outras manifestações revoltosas em nossa pacata história de tupiniquins euro-afro descendentes. Depois de um longo hiato que se arrastou por mais de duas décadas, os jovens brasileiros saíram do conforto do lar e do anonimato oferecido pela internet e foram às ruas, o que é para mim motivo de muito orgulho. Quantos dos jovens não cresceram ouvindo os mais velhos reclamando da estagnação social na qual o brasileiro contemporâneo caiu? Eu mesmo passei a vida toda ouvindo esta ladainha que aparentemente seria eterna. E agora que os jovens tomaram frente em um movimento contra o Estado, o que acontece? As pessoas reclamam, dizem que não seria necessário tanto alvoroço por míseros vinte centavos. E dos reclamões, talvez o mais detestado atualmente seja um senhor chamado Arnaldo Jabor, comentarista deveras conhecido por nós. E é a este senhor que me dirijo antes de discorrer um pouco sobre a Revolta do Vinagre.
O que desencadeou tanta raiva foi o comentário infeliz que este senhor proferiu no último dia 12/06 (se não estou enganado). No dito comentário, deveras tendencioso, diga-se de passagem, Jabor questiona, dentre outras coisas, por que tanta raiva por “míseros” vinte centavos. Pelos vistos o senhor faltou às aulas de matemática, ou esqueceu-se delas com o passar dos anos; ou então se esqueceu de que existe uma realidade um pouco diferente da vivida em seus padrões custeados pela mídia brasileira – mas isso é outro mérito. Façamos as contas: vinte centavos por passagem para quem pega dois ônibus ao dia, são quarenta centavos a mais diariamente. Quarenta centavos diários rendem dois reais semanais, o que leva à uma redução de oito reais no fim de cada mês no bolso de um pai de família que sustenta a casa e os filhos com um salário mínimo. E isso para não dizer que estou contando apenas os dias úteis de uma semana, e não o sábado, pois caso eu acrescentasse mais um dia, seriam quase dez reais perdidos no fim do mês. E acrescento o sábado, senhor Jabor, porque na vida real, as pessoas trabalham de segunda a sábado. E exatamente por não viver esta realidade, o senhor simplesmente ridiculariza o acréscimo destes poucos vinténs à passagem.
Quanto às depredações, tenho que concordar com o senhor, Jabor: realmente é desnecessário que haja tais atitudes em um movimento pacífico. Ainda mais se formos entrar no mérito de que o povo que agora grita, calou-se por longos anos o que agora ouvimos não é apenas o grito contemporâneo, mas também o eco do passado de nossa nação que estava submergindo numa inescapável alienação e numa odiosa estagnação social. Não defendo as depredações, muito pelo contrário: além de desnecessárias, tais atitudes afastam uma classe social a qual devia-se buscar um aliado – a Classe Média. Todavia, o senhor mesmo cita pessoas da Classe Média que estão participando dos protestos, isso demonstra que, apesar de tudo, ganhou-se algum apoio da dita burguesia.
Lembro ao senhor que os “míseros vinte centavos”, como o senhor mesmo os define, não foram o principal motivo para as manifestações, serviram apenas como estopim para que se iniciasse a atual revolução que felizmente tem acontecido. O que reivindicam extrapola a esfera dos “míseros vinte centavos”, chegando mesmo às reivindicações sobre educação, saúde, segurança e justiça – justiça esta que não existe e provavelmente não existirá em um país onde o que existe são leis para o proletariado, para a massa que invade agora as ruas, para a Classe C.
Quanto à PEC37, concordo mais uma vez com o senhor, mas garanto – vistas as atuais circunstâncias sociais do povo brasileiro – que ela também terá a sua vez: e sobre isso, deixemos o amanhã para o amanhã.
E encerro dizendo que a sua atitude traduz o pensamento da grande maioria das pessoas: acharam que as pessoas não iriam se levantar, acharam que a apatia seria eterna, acreditaram que o jovem não conseguiria retomar os ideais de seus pais na década de oitenta – o de reinventar a Democracia, colocando os interesses do povo em primeiro lugar. Pessoas como o senhor, Arnaldo Jabor, acreditaram que o brasileiro não iria notar que as autoridades estão aqui, é apenas para servir à população, e não para explorá-la. Os reacionários notaram que há o direito ao grito – e por isso, gritamos: gritamos sem pedir esmolas. E a estes reacionários, desejo – desejamos – boa sorte, pois o tempo é chegado: e finalmente mostraremos que o povo brasileiro vale muito mais do que míseros vinténs, e que este valor deveria ser atribuído àqueles que, oprimidos pela estagnação, não fazem mais do que insurgir nos mesmos erros do passado para ter os mesmos problemas no futuro.


LINK PARA O VÍDEO DO JABOR: http://www.youtube.com/watch?v=l3Py-_9vY20

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