Muito se tem falado sobre a série
de protestos que se alastrou depois do acréscimo dos vinte centavos nas tarifas
dos ônibus. O fato é que, desde a última semana, começou pelo Brasil inteiro
uma onda de manifestações que ficarão um dia conhecidas (talvez) como a Revolta
do Vinagre. Lembremo-nos, já tivemos a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata,
a Revolta dos Farrapos e tantas outras manifestações revoltosas em nossa pacata
história de tupiniquins euro-afro descendentes. Depois de um longo hiato que se
arrastou por mais de duas décadas, os jovens brasileiros saíram do conforto do
lar e do anonimato oferecido pela internet e foram às ruas, o que é para mim
motivo de muito orgulho. Quantos dos jovens não cresceram ouvindo os mais
velhos reclamando da estagnação social na qual o brasileiro contemporâneo caiu?
Eu mesmo passei a vida toda ouvindo esta ladainha que aparentemente seria
eterna. E agora que os jovens tomaram frente em um movimento contra o Estado, o
que acontece? As pessoas reclamam, dizem que não seria necessário tanto alvoroço
por míseros vinte centavos. E dos reclamões, talvez o mais detestado atualmente
seja um senhor chamado Arnaldo Jabor, comentarista deveras conhecido por nós. E
é a este senhor que me dirijo antes de discorrer um pouco sobre a Revolta do
Vinagre.
O que desencadeou tanta raiva foi
o comentário infeliz que este senhor proferiu no último dia 12/06 (se não estou
enganado). No dito comentário, deveras tendencioso, diga-se de passagem, Jabor questiona,
dentre outras coisas, por que tanta raiva por “míseros” vinte centavos. Pelos vistos
o senhor faltou às aulas de matemática, ou esqueceu-se delas com o passar dos
anos; ou então se esqueceu de que existe uma realidade um pouco diferente da
vivida em seus padrões custeados pela mídia brasileira – mas isso é outro
mérito. Façamos as contas: vinte centavos por passagem para quem pega dois
ônibus ao dia, são quarenta centavos a mais diariamente. Quarenta centavos
diários rendem dois reais semanais, o que leva à uma redução de oito reais no
fim de cada mês no bolso de um pai de família que sustenta a casa e os filhos
com um salário mínimo. E isso para não dizer que estou contando apenas os dias
úteis de uma semana, e não o sábado, pois caso eu acrescentasse mais um dia,
seriam quase dez reais perdidos no fim do mês. E acrescento o sábado, senhor
Jabor, porque na vida real, as pessoas trabalham de segunda a sábado. E exatamente
por não viver esta realidade, o senhor simplesmente ridiculariza o acréscimo destes
poucos vinténs à passagem.
Quanto às depredações, tenho que
concordar com o senhor, Jabor: realmente é desnecessário que haja tais atitudes
em um movimento pacífico. Ainda mais se formos entrar no mérito de que o povo
que agora grita, calou-se por longos anos o que agora ouvimos não é apenas o
grito contemporâneo, mas também o eco do passado de nossa nação que estava
submergindo numa inescapável alienação e numa odiosa estagnação social. Não defendo
as depredações, muito pelo contrário: além de desnecessárias, tais atitudes
afastam uma classe social a qual devia-se buscar um aliado – a Classe Média. Todavia,
o senhor mesmo cita pessoas da Classe Média que estão participando dos
protestos, isso demonstra que, apesar de tudo, ganhou-se algum apoio da dita
burguesia.
Lembro ao senhor que os “míseros
vinte centavos”, como o senhor mesmo os define, não foram o principal motivo
para as manifestações, serviram apenas como estopim para que se iniciasse a
atual revolução que felizmente tem acontecido. O que reivindicam extrapola a
esfera dos “míseros vinte centavos”, chegando mesmo às reivindicações sobre
educação, saúde, segurança e justiça – justiça esta que não existe e
provavelmente não existirá em um país onde o que existe são leis para o
proletariado, para a massa que invade agora as ruas, para a Classe C.
Quanto à PEC37, concordo mais uma
vez com o senhor, mas garanto – vistas as atuais circunstâncias sociais do povo
brasileiro – que ela também terá a sua vez: e sobre isso, deixemos o amanhã para o amanhã.
E encerro dizendo que a sua
atitude traduz o pensamento da grande maioria das pessoas: acharam que as
pessoas não iriam se levantar, acharam que a apatia seria eterna, acreditaram
que o jovem não conseguiria retomar os ideais de seus pais na década de oitenta
– o de reinventar a Democracia, colocando os interesses do povo em primeiro
lugar. Pessoas como o senhor, Arnaldo Jabor, acreditaram que o brasileiro não
iria notar que as autoridades estão aqui, é apenas para servir à população, e
não para explorá-la. Os reacionários notaram que há o direito ao grito – e por
isso, gritamos: gritamos sem pedir esmolas. E a estes reacionários, desejo –
desejamos – boa sorte, pois o tempo é chegado: e finalmente mostraremos que o
povo brasileiro vale muito mais do que míseros vinténs, e que este valor
deveria ser atribuído àqueles que, oprimidos pela estagnação, não fazem mais do
que insurgir nos mesmos erros do passado para ter os mesmos problemas no
futuro.
LINK PARA O VÍDEO DO JABOR: http://www.youtube.com/watch?v=l3Py-_9vY20
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