Hoje me deu vontade de falar (ou,
neste caso, escrever) sobre Fernando Pessoa, um dos mais célebres poetas de
todos os tempos – talvez o maior de todos. A vontade de falar no Fernando
veio-me depois que encontrei um livro de poesias de sua autoria que ganhei de
uma professora há alguns anos. Na época já amava Pessoa, mas depois de ter
ganhado o tal livro, esta foi uma paixão que aumento gradativa e diariamente:
mas é muito penoso gostar de Fernando Pessoa quando não se tem um método estabelecido
para lê-lo – nunca sei se começo a ler seus poemas de maneira avulsa, ou se
pego firme e sigo em frente: devoro-os, amo-os, vivo-os intensamente enquanto
mergulho nas páginas já amareladas dos meus livros do lisboeta. E nisso fico
esquecido de mim e do mundo, o que é um perigo para ambos: se me esqueço de
mim, não há quem ler Fernando, e se me esqueço do mundo, não me encontro em mim
mesmo.
O fato é que percebi que não é lá
muito grande o número de pessoas que gosta, ou mesmo conhece, o senhor Fernando
António Nogueira Pessoa, lisboeta que se dividiu em dois, em dez, em cem:
Fernando Pessoa foi ele próprio, mas foi Ricardo Reis, e encantou Saramago; foi
Alberto Caeiro, o místico e mistificado; foi Álvaro de Campos, o revoltado; o
quase invisível Bernardo Soares. Fernando foi tantas pessoas numa só Pessoa,
que torna-se indefinível, atual, futurístico, gênio e louco – quando amado,
desperta paixões que incendeiam, e quando odiado, provoca a raiva colérica. Quantas
pessoas numa só? Não sabemos e nunca saberemos: talvez Fernando fosse um pouco
de cada um de nós, ou quem sabe nós é quem somos um pouco de Fernando, seus
eternos heterônimos, seus iguais e diferentes: somos todos Pessoas, e Fernando
é todos nós.
CRONOLOGIA:
1888: Fernando António Nogueira Pessoa nasce, a 13 de Junho. É
batizado em Julho.
1893: Em Janeiro, nasce seu irmão Jorge. A 13 de Julho, o pai
morre, de tuberculose. A família é obrigada a leiloar parte dos bens.
1894: O irmão de Fernando, Jorge, morre em Janeiro. Pessoa cria o
seu primeiro heterônimo. O futuro padrasto, João Miguel Rosa, é nomeado cônsul
interino em Durban, na África do Sul.
1895: Em Julho, Fernando escreve o seu primeiro poema e João Miguel
Rosa parte para Durban. Em Dezembro, João Miguel Rosa casa-se com a mãe de
Fernando, por procuração.
1896: Em 7 de Janeiro, é concedido o passaporte à mãe, e a família
parte para Durban. A 27 de Novembro, nasce Henriqueta Madalena, irmã do poeta.
1897: Fernando faz o curso primário e a primeira comunhão em West
Street.
1898: Nasce, a 22 de Outubro, sua segunda irmã, Madalena
Henriqueta.
1899: Ingressa na Durban High School em Abril. Cria o pseudónimo
Alexander Search.
1900: Em Janeiro, nasce o terceiro filho do casal, Luís Miguel. Em
Junho, Pessoa passa para a Form III e é premiado em francês.
1901: Em Junho, é aprovado no exame da Cape School High
Examination. Madalena Henriqueta falece e Fernando começa a escrever as primeiras
poesias em inglês. Em Agosto, parte com a família para uma visita a Portugal.
1902: Em Janeiro, nasce, em Lisboa, seu irmão João Maria. Fernando
vai à ilha Terceira em Maio. Em Junho, a família retorna a Durban. Em Setembro,
Fernando volta sozinho para Durban.
1903: Submete-se ao exame de admissão à Universidade do Cabo,
tirando a melhor nota no ensaio em inglês e ganhando assim o Prémio Rainha
Vitória.
1904: Em Agosto, nasce sua irmã Maria Clara e em Dezembro termina
os estudos na África do Sul.
1905: Parte definitivamente para Lisboa, onde passa a viver com a
avó Dionísia. Continua a escrever poemas em inglês.
1906: Matricula-se, em Outubro, no Curso Superior de Letras. A mãe
e o padrasto retornam a Lisboa e Pessoa volta a morar com eles. Falece, em
Lisboa, a sua irmã Maria Clara.
1907: A família retorna uma vez mais a Durban. Pessoa passa a morar
com a avó. Desiste do Curso Superior de Letras. Em Agosto, a avó morre. Durante
um curto período, Pessoa estabelece uma tipografia.
1908: Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em
escritórios comerciais.
1910: Escreve poesia e prosa em português, inglês e francês.
1912: Publica na revista Águia o seu primeiro artigo de crítica
literária. Idealiza Ricardo Reis.
1913: Intensa produção literária. Escreve O Marinheiro.
1914: Cria os heterônimos Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto
Caeiro. Escreve os poemas de O Guardador de Rebanhos e também o Livro do
Desassossego.
1915: Sai em Março o primeiro número de Orpheu. Pessoa
"mata" Alberto Caeiro.
1916: O seu amigo Mário de Sá-Carneiro suicida-se.
1918: Publica poemas em inglês, resenhados com destaque no
"Times".
1920: Conhece Ofélia Queiroz. Sua mãe e seus irmãos voltam para
Portugal. Em Outubro, atravessa uma grande depressão, que o leva a pensar em
internar-se numa casa de saúde. Rompe com Ofélia.
1921: Funda a editora Olisipo, onde publica poemas em inglês.
1924: Aparece a revista "Atena", dirigida por Fernando
Pessoa e Ruy Vaz.
1925: A 17 de Março, morre, em Lisboa, a mãe do poeta.
1926: Dirige com seu cunhado a "Revista de Comércio e
Contabilidade". Requer patente de uma invenção sua.
1927: Passa a colaborar com a revista Presença.
1929: Volta a relacionar-se com Ofélia.
1931: Rompe novamente com Ofélia.
1934: Publica Mensagem.
1935: Em 29 de Novembro, é internado com o diagnóstico de cólica
hepática. Morre no dia 30 do mesmo mês.