O blog começa assim: minha vizinha está festejando pela décima vez o fato de que ela, e todos
os amigos, não têm o
que festejar mais nessa vida. A primavera chegou com chuva e vento, o inverno
foi embora com os dias quentes e abafados cheirando a sangue pingando do nariz
na camisa branca da escola. Tudo está ligeiramente acabando este ano: o terceiro bimestre
acabou, o terceiro ano acabou, a mordomia acabou, o sono acabou, o café acabou, os dias quentes acabaram,
o protetor solar acabou, a novela das sete acabou (ainda bem). Mas e o mundo, será que acaba? Deveria. Tudo deveria
explodir e acabar; o sol poderia inchar de uma hora para outra e engolir tudo
por aqui, os zumbis poderiam voltar do inferno e matar todos, os ETs poderiam
invadir e colonizar a terra, deus poderia se cansar de tudo e apagar a luz...
Ou não, pois a vizinha festeja com tanta intensidade
que meus cachorros latem e se jogam contra o portão. Agora estão cantando a música da novela que acabou, agora estão todos tão bêbados que deveriam morrer. Ou não.
E eu sempre acabo me esquecendo das coisas que eu falei: e por
que não
escrever?, me perguntaram esses dias. Mas por que escrever?, pensei – mas eu cedi: pois ceder é a única coisa que se faz nessa vida.
Aliás, às vezes penso que só a minha vida é ruim – apesar de não ter nada de ruim nela,
propriamente. É mais uma
coisa em como eu me relaciono comigo mesmo, é como eu me vejo no mundo e penso: tem alguma coisa
muito errada acontecendo. Eu não
estou dizendo que os meus problemas são os maiores de toda a humanidade – mas os seus também não devem ser, então não é
bom julgar. Onde estava? Sim: às
vezes penso que só a minha
vida é ruim, as
pessoas sorriem tanto e têm tanto a
dizer sobre a vida ser bela e colorida – mas acredito que eu é quem sou um pouco daltônico e só enxergo o cinza.
Mas, enfim, decidi criar o blog para poder fazer uma terapia
comigo mesmo: pois todos nós,
inclusive os sãos,
precisamos de terapia. E isso sou eu: Insônia, Depressão & Café...
Bem vindo(s) a mim.
N.N.